terça-feira, 25 de janeiro de 2005

Peace


Procuro pela minha paz numa luta intensa. Onde a vitória de algumas batalhas não serve para iluminar uma simples vela perdida num deserto de mágoas. 

Há um ano atrás, enquanto ouvia o relato de um jogo de futebol entre o Vitória de Guimarães e o SL Benfica, presenciei, tal como muitos milhares de portugueses, o apagar de uma dessas velas. Miklos Féher (Miki) chegou ao fim da sua guerra que triunfalmente venceu enquanto concretizava o seu sonho. Sonho esse que desejou e onde nele pereceu.

Pergunto-me se para encontrar esta paz também terei que perecer no campo de batalha, enquanto olho em minha volta e sorrio com o meu último e derradeiro triunfo. A resposta a esta pergunta algum dia irei saber, mas, por enquanto, ela manter-se-á no ar. 

Aquele 25 de Janeiro de 2004 fez-me despertar para a procura do propósito de aqui estarmos. Porquê tudo isto se, de um momento para o outro, a nossa luz se pode apagar sem que possamos fazer alguma coisa para o impedir? 

A verdade é que nada podemos fazer. Apenas sabemos que algum propósito temos que ter. Por mais insignificante que ele seja. Mesmo que a longo prazo notemos que não o é, nem nunca o foi. 

Temos que continuar a viver e, nesse mar de vida, temos que viver o sonho e navegar nele. Se naufragarmos, que seja pelo menos a bordo do sonho que comandou a nossa vida. 

Publicado em 21 de Maio de 2013

segunda-feira, 10 de janeiro de 2005

O Gato que vive debaixo de minha casa

Mais um dia sufocante passou. Daqueles em que respirar é mais que o simples acto de relaxamento do diafragma. Daqueles em que me sinto como se estivesse a afogar num oceano profundo e distante em que por mais que tente nadar para tentar encontrar a superfície apenas vejo escuridão. Escuridão e aquele terrível sentimento de não poder fazer nada. Sentimento de apenas ter como solução deixar a morte me absorver.

Nesse dia, como todos os outros dias sufocantes, que, com raras excepções (sublinhava raras se não achasse que estragava a estética deste artigo e também por não o saber fazer), se equivalem a todos os dias desta leda e isolada substância que na realidade é reconhecida como "eu". 

Nesse dia, ia eu a caminho de uma rocha alaranjada onde um pouco de ar lá soprava, embora envenenado, quando me deparo com uma porta estreita e inexplorada, que, apesar de tudo, sempre soube da sua existência, mas preferia ignorá-la. Enquanto andava na sua direcção decidi deixar o ar envenenado esperar apesar de ser a minha única hipótese de viver e fui até à entrada dessa porta. 

Nela, encontrava-se um gato preto e branco com olhos reluzentes e esverdeados que me olhava com receio. Receio daquele que nada lhe podia ou iria fazer. Receio daquele que apenas quer respirar, pois viver com 5 minutos diários de ar envenenado não é vida. O seu medo passou por mim, como passou a borboleta que vi na minha última visita à superfície, mas tal como a sua beleza, ficou também o receio deste pobre coitado que apenas usa o buraco debaixo da minha casa como refugiu das águas sufocantes. 

Sinto-me como ele, mas, ao contrário dele, não desistirei da minha tentativa de rumar à superfície, até que o ar envenenado me mate...

Publicado em 20 de Maio de 2013