quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Clube de Cientistas de Palmo e Meio, um cantinho da ciência

Sala de Experiências, Foto: Adriano Cerqueira
Situado no início da Avenida do Furadouro, o clube dos cientistas de palmo e meio destaca-se como uma iniciativa inovadora na promoção da ciência em crianças do pré-escolar.

Após atravessar o portão e o pátio pintado com mensagens de preservação do ambiente, o visitante depara-se com uma casa dedicada à ciência. Logo à entrada encontra-se o laboratório, uma cozinha remodelada onde se desenvolvem projectos, desde jogos de prismas aquáticos a uma pequena fábrica de velas e pavios. Ao fundo do corredor entra-se na “Sala do Avô Carlos” – dedicada a Carlos Andrade, principal responsável pelas experiências científicas – onde estão expostas várias apresentações, incluindo aquelas que foram exibidas na FIL. Desde o Quadro de Galton (quadro de distribuição estatística) aos tubos sonoros, passando por vários jogos de pêndulos, equilíbrio, som, e até mesmo pequenos motores eléctricos rudimentares, são várias as experiências que ajudam a incutir conceitos básicos da física, química, e da ciência em geral nos mais novos.

Helena Medeiros, coordenadora pedagógica do CPS, explica que “quando pensámos em fazer um projecto ligado à ciência foi por acharmos importante que a escola, e a começar logo pelo pré-escolar, trabalhe nessa área”.

“Trabalhamos os conceitos mais normais do pré-escolar, que são o pintar, o rasgar, o contacto das coisas, mas pode-se ir ainda mais além, porque é desde pequenino que nós começamos a criar o gosto da criança pela descoberta e o porquê das coisas serem como são”, explica.

O Centro de Promoção Social do Furadouro procura motivar crianças de várias idades a participarem na descoberta da ciência. Para Elisabete Laranjeira, educadora de crianças de dois anos, “o objectivo de fazermos o projecto da ciência não é que eles adquiram os conceitos científicos de física, de química, das várias ciências, é simplesmente que desperte a curiosidade e que no fundo desmistifique o “bichinho” das ciências, e no fundo despertá-las para esta área, para o prazer da descoberta e de experimentarem”.

Já Andreia Pereira, educadora de crianças dos três aos cinco anos, afirma que “eles apesar da idade que têm são pequenas esponjas que absorvem tudo, então é o ideal para conseguirmos introduzir conceitos tão vastos como a ciência e noções matemáticas”. “Esta é a altura certa, como são pequeninos conseguimos “modelá-los” e desmontar aqueles “bichos de sete cabeças” que são os conceitos matemáticos e a ciência”, salienta a educadora.

Flávia Oliveira, também ela educadora, conta a história da formação do projecto: “Foi um objectivo de 3 anos e com o passar de cada ano os objectivos iam aumentando e os passos iam sendo maiores, o que foi muito bom, quer para nós como profissionais, quer para as crianças”. A educadora confessa ter achado “a ideia aliciante”. “Não sabia até que ponto eles iam aderir e se iam mesmo levar o objectivo até ao fim, porque nunca tínhamos trabalhado as ciências no pré-escolar”, afirma.

“O objectivo é incentivar, no fundo, à descoberta da ciência, não é propriamente dizer os termos técnicos, isso é complicado para crianças desta idade, mas é deixar o “bichinho” lá dentro, para eles mais tarde alargarem os horizontes”.

Flávia Oliveira revela que “eles deliram com as experiências, claro que não sabem os termos técnicos, mas já têm noção de como funcionam cada uma dessas experiências, de uma forma muito mais senso comum, mas o objectivo é esse, é eles serem cientistas de palmo e meio”.

Mas o espaço não é só dedicado a experiências científicas. O andar de cima é dedicado a salas de exposições abertas à comunidade. Neste momento o visitante pode encontrar uma exibição de bonecos de barro, cedidos por um colaborador, com a temática das profissões e uma sala dedicada a trabalhos de jogos matemáticos construídos pelos pais das crianças. Helena Medeiros destaca o papel dos pais e afirma que “em todos os projectos a família é sempre uma peça fundamental, nós não sabemos trabalhar sem ter a família ao nosso lado”. “Como é hábito nos nossos projectos, nós lançamos tudo aos pais e apareceu aqui um avô que quando viu o plano de actividades disse: “Mas o que é que eu posso contribuir aqui?” E eu respondi: “Ó Sr. Carlos pode contribuir em tudo.” “Ele começou a dar forma à nossa ideia, nós dissemos que não tínhamos dinheiro, por isso teriam que ser coisas muito simples, mas como ele é uma pessoa dinâmica e criativa, foi buscar ferros de passar, resistências de carros velhos, etc., e começou a dar forma à nossa ideia”, conta a coordenadora.

Segundo Helena Medeiros o futuro do clube passa por disponibilizar as salas de trabalho às crianças, motivando visitas e sessões de trabalho diárias. A promoção do espaço de exibições aberto à comunidade também é outro dos objectivos em curso.

A coordenadora revela ainda planos para “levar o nosso clube a faculdades, como Bragança e Leiria, e ao Hospital Pediátrico de Coimbra.” “Não só pensamos em deixar ali aquele espaço mas também em pô-lo para fora daquelas portas”, admite Helena Medeiros.

Já Carlos Andrade, confesso “entusiasta” do projecto, salienta a necessidade de arranjar alguém para manter o clube aberto diariamente, o que possibilitaria a visita de qualquer pessoa interessada nos projectos desenvolvidos com a ajuda das “cientistas de palmo e meio” do Centro de Promoção Social do Furadouro.

Reportagem para o Jornal Praça Pública
Publicado em 28 de Agosto de 2013