tag:blogger.com,1999:blog-33775947443634865382024-03-13T04:33:32.967+00:00Blue DoveAdriano Cerqueirahttp://www.blogger.com/profile/00670753686506013158noreply@blogger.comBlogger98125tag:blogger.com,1999:blog-3377594744363486538.post-24122902270454863182014-07-01T18:30:00.000+01:002014-07-01T18:30:01.394+01:00Nove Menos Cinco<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">“Por vezes, quando a beleza inegável de um momento nos absorve, somos envoltos por uma profunda necessidade de o viver, livres de qualquer interferência, imersos em cada um dos seus actos. Naquele instante somos infinitos. Vivemos. E deixamo-lo passar.” Passavam alguns minutos das oito da noite. Estava atrasado, outra vez. A aula de Sistemas Digitais tinha-se alongado, como de costume. O comboio das oito e dezanove já tinha partido. Nada podia fazer se não esperar pelo próximo. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">A Estação de Campanhã era fria naquela noite de Novembro em 2009. Felizmente a espera não seria longa. Ansiava pelo jantar ainda distante, e estava só. Bom, não completamente só, trazia comigo a companhia de Umberto Eco, e do seu Pêndulo de Foucault. Da história do livro, pouco me lembro, muito menos ainda das páginas que li naquela breve viagem. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Há anos que a faço. Todos os dias, ida e volta, entre Porto e Ovar. A maioria delas a sós, ora com um livro, ora com música a acompanhar-me. Com o passar dos anos criei mecanismos para me distrair durante a viagem quando um destes companheiros me falhava, ou eu a eles. Perco-me nos meus Mundos de fantasia, alguns deles que acabo por transcrever em contos, poemas ou através de outra qualquer expressão da minha modesta arte. Por vezes limito-me a observar as pessoas que me acompanham nesta viagem. Que histórias contam, o que as trouxe ali, onde vivem, o que fazem, quem são estes estranhos conhecidos que já fazem parte do meu dia-a-dia, como figurantes repetidos numa peça de económica produção. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Sentei-me no banco gelado da plataforma cinco, algumas pessoas já esperavam ali pelo comboio que ainda tardava em chegar. Uma rapariga estava de pé nos limites da plataforma, o seu olhar fixo no horizonte. Vestia um casaco azul, tinha cabelo castanho, liso, não muito longo. De feições simples, era bela na sua simplicidade. Havia algo na sua elegância que a destacava dos restantes. Demorei alguns segundos a observá-la, e esbocei um ligeiro sorriso antes de regressar para as páginas do meu livro. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Quando o comboio finalmente chegou, procurei pelo meu lugar habitual. Na penúltima carruagem, três bancos a contar da porta, do lado esquerdo, sempre do lado esquerdo. Ainda ninguém o tinha ocupado. Sorte, pensei. Sentimento reforçado quando ela escolheu o assento ao meu lado. Ambos retirámos um livro das respectivas mochilas e começámos a ler. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Parte de mim queria encontrar a coragem necessária para falar com ela, mas mais uma vez não me sentia capaz de transportar esta fantasia para a realidade. Concentrei-me no livro, ou pelo menos tentei. Em General Torres entrou um homem, claramente embriagado que se sentou à nossa frente. Destes, já tinha visto muitos, sempre diferentes, sempre a mesma personagem. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Usava roupa gasta, tinha cabelo e barba grisalhos. Normalmente apenas os costumo ver em comboios mais tardios, como o que apanho todas as quartas-feiras no regresso da aula de Russo já depois das dez da noite. Por vezes pedem dinheiro, outras vezes apenas querem falar ou dormir sossegados em um dos assentos. Este gostava de falar. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Concentrei-me no livro e ignorei-o como costumo fazer. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">“É muito bom ver dois jovens a ler”, disse ele. Sorri e regressei para a minha leitura. Esta passagem recriava um ritual indígena de comunicação com espíritos através de um oráculo que neste caso, era a mulher do personagem principal. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">O homem concentrou as suas atenções na rapariga. Ela apenas acenava, sem lhe dirigir qualquer palavra, anuindo àquilo que ele dizia. Num momento de desespero ele dirigiu-se a ela em inglês. Não tinha aspecto disso, mas fiquei intrigado com a possibilidade dela ser estrangeira. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Chegados a Espinho, o homem levantou-se e despediu-se de nós. Trocámos um olhar e naquele momento arrisquei. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">“Did you know him?”, perguntei. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">“No. I think he was drunk”, ela respondeu. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Voltei a concentrar-me no meu livro. Não sabia que mais dizer. Felizmente, ela voltou a falar. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">“Where are you from?” </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">No instante em que disse Ovar, fui atropelado por uma onda de riso e espanto, quando ela perguntou, “És português?”. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Algo embaraçado com o caricato da situação, expliquei que, “como ele estava a falar contigo em inglês pensei que pudesses não falar português.” </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">“Foi? Não tinha reparado nisso, estava a tentar ignorá-lo e concentrar-me no meu livro.” </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">A rapariga intrigante de uma beleza simples chamava-se Filipa, vivia em Aveiro e estudava Radioterapia na Escola Superior de Tecnologias da Saúde do Porto. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">“Somos praticamente colegas, o meu curso era nas mesmas instalações que o teu.” </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Os quinze minutos que separam Espinho de Ovar foram passados a falar sobre os nossos cursos, sobre os livros que trazíamos, sobre o futuro que cada um desejava. Foram quinze minutos que passaram num segundo. Quando a Estação de Ovar se aproximou, não queria sair. Queria que o tempo parasse, que a nossa conversa se alongasse no tempo por mais alguns momentos. Mas assim não foi. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Despedimo-nos e levantei-me para sair. Ela deteve-me e disse, “talvez nos voltemos a encontrar neste mesmo comboio.” </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Queria explicar-lhe que era raro eu viajar a esta hora. Queria dizer-lhe que tinha adorado a nossa conversa e que não queria que esta ficasse por aqui. Queria ter-lhe pedido o seu contacto. Mas apenas disse, “Talvez”. Sorri e dirigi-me para a porta. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Desci para a plataforma e ali fiquei a ver o comboio partir. O tempo voltou a abrandar até à sua perpétua velocidade de cruzeiro. A Estação de Ovar era fria naquela noite de Outono. Fui assolado por uma mescla de felicidade por aquele momento que só a nós pertencia, e de arrependimento pelas possibilidades que jamais seriam testadas. Senti-a atravessar-me, como se o próprio comboio se tivesse despistado na minha direcção. Um único pensamento emergia do caótico oceano da minha mente. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">“Se o Universo assim quiser, um dia voltaremos a nos encontrar.” </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Ajustei o casaco e comecei a caminhar para casa. Faltava pouco para as dez e ainda não tinha jantado. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">“Estás a gozar? Não lhe pediste o número?” Miguel estava sentado à minha frente. Ouviu a minha história com atenção, até este momento. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Já esperava a sua reacção. “Como disse, não. Eu sei. Eu sei. Já me arrependi o suficiente.” </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">“Meu, era o mínimo que devias ter feito, deixaste a oportunidade passar!” </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">“Pensei bastante sobre isso. Nos dias que se seguiram procurei pelo seu rosto por entre a onda habitual de desconhecidos. Mas sem sorte. Com o tempo as minhas recordações dela começaram a esvanecer, e agora não sei se seria capaz de a reconhecer sequer.” </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Miguel anuiu e permaneceu em silêncio. Percebia que a sua expressão nutria algum pesar e frustração pelo final inconsequente que tinha acabado de ouvir. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">“Mas se queres que seja sincero, acho que é melhor assim”, disse. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">“Porquê?” </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">“Como não nos voltámos a encontrar, nenhum de nós teve tempo para desapontar o outro. Somos eternos naquele momento. Dois desconhecidos, felizes, acabados de se conhecer, imersos numa boa conversa. Se a tivesse voltado a encontrar, toda esta perfeição, toda esta memória, podia ser deturpada pela realidade.” </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Ele ponderou um pouco sobre a minha resposta e enfim disse, “Tudo bem, mas não sabes o que podia ter acontecido.” </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">“Sim, o mais provável é que não fossem capazes de manter a magia que sentiste naquela viagem. Talvez o segundo encontro fosse aborrecido e não se voltassem a falar. Mas é essa a beleza do risco. Não sabes o que o futuro te traz. Por mais que as probabilidades possam parecer estar contra ti, nada está escrito.” </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">“É fácil pensares que passaste ao lado da tua própria versão do ‘Antes do Amanhecer’, que ela era a tua tal, e que deixaste passar aquela que talvez tenha sido a única oportunidade de alguma vez a encontrares. Talvez ela não passe de mais uma rapariga com quem tiveste uma boa conversa uma vez. Mas a verdade é que nunca irás saber.” </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">“Nunca irás saber se é ela, ou não. Nunca a vais conhecer. Não arriscaste. O momento passou. Ela agora é uma memória de um momento profundamente belo. Momento esse que por mais que as circunstâncias o tentassem deturpar, ou mesmo que ela própria te desiludisse, será sempre teu e ninguém to poderá tirar.” </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Deixei-me absorver pelas suas palavras, e naquele instante tive a realização de que ele estava certo. O momento não teria sido estragado, tivesse eu voltado atrás para lhe pedir o seu contacto. Mesmo que ela mo negasse, pelo menos sabia que aquele momento não passaria dali. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">“Tens razão”, enfim disse. “Devia ter arriscado. Por mais que o cinismo da vida se intrometa na nossa felicidade, este não pode mudar as nossas memórias. Ele não pode roubar-nos estes momentos. Eles são eternos. Infinitos. Nossos. Apenas nossos.” </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Miguel colocou a sua mão no meu ombro e sorriu. Era um sorriso de compreensão, de aceitação, misturado com algum fatalismo pela tardia resolução que apenas hoje compreendi. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Ficámos em silêncio durante alguns segundos, antes de retomarmos a nossa conversa habitual. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Guardo aquela viagem de comboio como uma das minhas melhores recordações dos longos anos que passei entre Ovar e a Invicta. Hoje sei que pudesse eu voltar àquele instante, antes de me dirigir para a porta, a minha resposta não teria sido um simples “talvez”.
</span></div>
Adriano Cerqueirahttp://www.blogger.com/profile/00670753686506013158noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3377594744363486538.post-75368742480592662382014-05-20T19:00:00.000+01:002015-10-08T16:21:26.808+01:00Lisboa, Menina e Moça<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgFica7n0nTyrE6CGGx8USRF-7apT4cGd7DaHQKqwhNfZ54h5B_qigk0aIjCS2NakObra7Lgd0vaXOOlAAAn7ZueY9bNZ0LMYj1OccCragcqO_2yu5bd7cf35dnp6NY0JVqsgvJXAgJZ9p8/s1600/Lisboa-Praca-do-Comercio-foto-do-blog-Vontade-de-Viajar.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgFica7n0nTyrE6CGGx8USRF-7apT4cGd7DaHQKqwhNfZ54h5B_qigk0aIjCS2NakObra7Lgd0vaXOOlAAAn7ZueY9bNZ0LMYj1OccCragcqO_2yu5bd7cf35dnp6NY0JVqsgvJXAgJZ9p8/s1600/Lisboa-Praca-do-Comercio-foto-do-blog-Vontade-de-Viajar.jpg" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Praça do Comércio</span></td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><i>Cidade a ponto luz bordada </i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><i>Toalha à beira mar estendida</i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><i>Lisboa menina e moça, amada</i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><i>Cidade mulher da minha vida. </i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><a href="http://letras.mus.br/carlos-do-carmo/483795">Lisboa Menina e Moça</a>, Carlos do Carmo</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Lisboa é uma cidade diferente. Uma cidade de contrastes. Porto de entrada na Europa, Lisboa reflecte uma mescla cultural presente na sua arquitectura, nos seus costumes, e nas pessoas que hoje habitam a capital portuguesa. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Destruída quase na sua totalidade pelo terramoto de 1755, a cidade das sete colinas foi alvo de um grande empreendimento de reconstrução protagonizado pelo Marquês de Pombal. A arquitectura pombalina, com maior representatividade na Praça do Comércio, também conhecida como Terreiro do Paço, é caracterizada pelas avenidas largas organizadas em traçado ortogonal, e por prédios baixos e extensos, sustentados por um engenhoso sistema de suportes em madeira. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">A Rua Augusta, hoje conhecida pelas suas lojas de marcas de gama alta, e pela sua figuração em filmes como “As Viagens de Gulliver” de 1996, é o principal postal da cidade, e uma passagem obrigatória para o mais comum dos viajantes. Inaugurado no Verão de 2013, é hoje possível subir ao miradouro do Arco da Rua Augusta, para observar uma das mais emblemáticas vistas panorâmicas que esta cidade tem para oferecer. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiSIveyR3b9JhlFnhKsvmXaMopNXNwN4k2cz9_0BewpFxHi8E2xLvYrgbO8N9b5-6GAdjN6gTi2mtEVJ6xIoOa1uRXrefaPxQso1OQyhMdJi1xq_2RgXkioWwSyHghIyqZjL1TEGBEUPkwU/s1600/Lisboa-Bondinho-e-pedras-portuguesas-foto-do-blog-Vontade-de-Viajar.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="276" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiSIveyR3b9JhlFnhKsvmXaMopNXNwN4k2cz9_0BewpFxHi8E2xLvYrgbO8N9b5-6GAdjN6gTi2mtEVJ6xIoOa1uRXrefaPxQso1OQyhMdJi1xq_2RgXkioWwSyHghIyqZjL1TEGBEUPkwU/s1600/Lisboa-Bondinho-e-pedras-portuguesas-foto-do-blog-Vontade-de-Viajar.jpg" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Eléctrico e Calçada Portuguesa</span></td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">A par das confeitarias típicas desta zona, a baixa de Lisboa é composta por uma amálgama de pontos de interesse. Do Teatro Nacional D. Maria II, ao <a href="http://vontadedeviajar.com/lisboa-de-portugal-pra-fora/">Museu do Design e da Moda</a>, passando pelo Chiado, pelo café “A Brasileira” onde pode fazer companhia a uma réplica em bronze do poeta Fernando Pessoa, ao <a href="http://www.carris.pt/pt/ascensores-e-elevador/">elevador de Santa Justa</a>, e ao inevitável Bairro Alto. Um bairro pitoresco, construído sobre um labirinto caótico, herança da ocupação árabe da cidade até à sua conquista no Cerco de Lisboa em 1147. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">O Bairro Alto é a “la movida” lisboeta. Com uma grande oferta de bares, as noites de quinta, sexta e sábado são ocupadas por jovens que saltam de porta em porta, de Fado a Hip-Hop, de Rock a Kizomba, de Jazz a música electrónica, há espaços, e música para todos os gostos. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Para os amantes da fotografia, Lisboa faz jus ao seu nome de cidade das sete colinas, disponibilizando uma série de <a href="http://pt.lisboando.com/miradouros/">miradouros</a> que permitem captar as diversas facetas da capital. O já referido Arco da Rua Augusta é apenas o mais recente membro de uma família que incluí locais como, o Miradouro da Graça, Santa Luzia, São Pedro de Alcântara, o <a href="http://castelodesaojorge.pt/">Castelo de São Jorge</a>, e as Portas do Sol, num total de quinze locais que proporcionam um roteiro extenso pelos pontos menos conhecidos da cidade.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiM9JAUbfeCtvMS9RMBMYYMNtleGefBZrmS9Hzty5BcsLtrU0tZcjQiBr3CrqCFQWuubdSsGKTf4hsAhPHANESTN-ocyN8h5yJ8l265rTr3qlC6wW9mUQZ2y-pItOQ9FE-uJKMHPvnSOP8k/s1600/Lisboa-Castelo-de-Sao-Jorge-visto-do-Elevador-de-Santa-Justa-foto-do-blog-Vontade-de-Viajar.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="287" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiM9JAUbfeCtvMS9RMBMYYMNtleGefBZrmS9Hzty5BcsLtrU0tZcjQiBr3CrqCFQWuubdSsGKTf4hsAhPHANESTN-ocyN8h5yJ8l265rTr3qlC6wW9mUQZ2y-pItOQ9FE-uJKMHPvnSOP8k/s1600/Lisboa-Castelo-de-Sao-Jorge-visto-do-Elevador-de-Santa-Justa-foto-do-blog-Vontade-de-Viajar.jpg" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Castelo de São Jorge visto do Elevador de Santa Justa</span></td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Contudo, é possível que a melhor vista da cidade esteja ao abandono. Para aqueles com espírito de aventura, o velho <a href="http://p3.publico.pt/vicios/em-transito/10169/melhor-vista-que-lisboa-pode-ter-esta-ao-abandono">edifício panorâmico de Monsanto</a> é um bom local para contemplar a metrópole lisboeta, com o extra deste incluir uma visita com uma componente arqueológica, e também ela sinistra, de um edifício abandonado e em ruínas.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Políticas de centralização, e má distribuição de recursos, fazem de Lisboa o epicentro cultural, histórico, e científico de Portugal. Com inúmeros teatros e salas de espectáculo, difícil é não encontrar um dia com <a href="http://www.agendalx.pt/">eventos</a> de projecção internacional a decorrer em uma delas. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">O <a href="http://www.oceanario.pt/">Oceanário</a>, e o Zoo de Lisboa, são duas das principais atracções da cidade, que contrastam com o passado colonialista do antigo Império Português, e que são hoje espaços educativos, virados para a investigação e recuperação de espécies em vias de extinção. A fachada ostensiva do <a href="http://www.mnhnc.ulisboa.pt/">Museu de História Natural e Jardim Botânico de Lisboa</a>, é um bom local para visitar com entradas gratuitas aos Domingos de manhã, uma extensa colecção permanente, e uma variedade de exposições temporárias, capazes de alimentar os sonhos da mente mais curiosa. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirw5GP4xGX4gf7Dxzi89WLbRvnbCeF7BMjPZKkbB_QaexzHA0ELXxJS9_n7P8DEYRL8bg6WtH4NwLWGdwndfOT_9JOyZ7zcdlqsFFzYLWPpuNP2Mpf0zGQsCq3x6RYKp9dFBgWZmgvwb-p/s1600/Lisboa-Mosteiro-dos-Jeronimos-em-Belem-foto-do-blog-Vontade-de-Viajar.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="283" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirw5GP4xGX4gf7Dxzi89WLbRvnbCeF7BMjPZKkbB_QaexzHA0ELXxJS9_n7P8DEYRL8bg6WtH4NwLWGdwndfOT_9JOyZ7zcdlqsFFzYLWPpuNP2Mpf0zGQsCq3x6RYKp9dFBgWZmgvwb-p/s1600/Lisboa-Mosteiro-dos-Jeronimos-em-Belem-foto-do-blog-Vontade-de-Viajar.jpg" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Mosteiro dos Jerónimos em Belém</span></td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Belém é uma boa sugestão para um calmo final de tarde, a ver o pôr-do-sol sob o rio Tejo. Com a ponte 25 de Abril, a “Golden Gate” portuguesa, no horizonte, o <a href="http://www.mosteirojeronimos.pt/">Mosteiro dos Jerónimos</a>, a <a href="http://www.torrebelem.pt/">Torre de Belém</a> e o <a href="http://www.padraodosdescobrimentos.pt/">Padrão dos Descobrimentos</a> no fundo, esta é uma zona de passagem obrigatória para quem gosta de boa confeitaria. Os famosos Pastéis de Belém, são apenas encontrados aqui n’<a href="http://www.pasteisdebelem.pt/">A Antiga Confeitaria de Belém</a>, ao lado dos Jerónimos. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Com as Docas e o Bairro Alto como pontos principais de diversão nocturna, deixo como alternativa a <a href="http://www.bracodeprata.com/%E2%80%8E">Fábrica de Braço de Prata</a>. </span><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Um espaço multicultural, aproveitado de uma antiga fábrica, onde figuram exposições de arte urbana, bares, concertos ao vivo, e dança contemporânea, entre outros eventos que dão vida a este espaço pela noite dentro.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Lisboa é uma cidade de Fado. Bairrista. De Marchas Populares, e de tradição. Lisboa é uma metrópole moderna, virada para a Europa e para o Mundo, com raízes romanas, celtas, árabes, lusitanas, portuguesas e africanas. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3bAd6Zg3gbBODJo9yGb5LgEbeuRNAW0jbSMLIXAqOPu-P6KO862-zgSUloxWHZxpxtAnzKPexgQyTFT2TpbtAXLE-E3eIBCEWmCot1XQLbbWhnA8um2URH9cdpupwEnbsQcHchCEqqkjh/s1600/Lisboa-Padrao-dos-Descobrimentos-em-Belem-foto-do-blog-Vontade-de-Viajar.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3bAd6Zg3gbBODJo9yGb5LgEbeuRNAW0jbSMLIXAqOPu-P6KO862-zgSUloxWHZxpxtAnzKPexgQyTFT2TpbtAXLE-E3eIBCEWmCot1XQLbbWhnA8um2URH9cdpupwEnbsQcHchCEqqkjh/s1600/Lisboa-Padrao-dos-Descobrimentos-em-Belem-foto-do-blog-Vontade-de-Viajar.jpg" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Padrão dos Descobrimentos</span></td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Lisboa não é uma cidade portuguesa, nem tão pouco uma cidade representativa da alma portuguesa. É sim um porto internacional, criado sob uma bandeira de portugalidade que ainda hoje se encontra na sua mais básica componente, mas que cada vez mais perdeu a sua ligação com o resto do país. Contudo, continua a ser uma boa casa de partida para aqueles que pretendem aventurar-se pelo resto do país, e um destino a não perder.
</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: x-small;">Publicado em 20 de Maio de 2014 no blogue <i><a href="http://vontadedeviajar.com/lisboa-de-portugal-pra-fora/">Vontade de Viajar</a></i></span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: x-small;">Reeditado em 19 de Junho de 2014</span></div>
Adriano Cerqueirahttp://www.blogger.com/profile/00670753686506013158noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3377594744363486538.post-72611221085920155102013-09-25T18:30:00.000+01:002015-10-08T16:23:42.237+01:00Romance às Portas de Amesterdão<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Amesterdão: Liberdade, drogas, prostituição, noite. Por mais que
tentem convencer a vossa cara-metade que apenas querem lá ir para ver os
quadros de Van Gogh, visitar o Madame Tussauds, passear pelos canais e
sentir a melancólica atmosfera da Casa de Anne Frank, desenganem-se. Ela
não vai acreditar. Não vale a pena sequer dizer que os jogos do Ajax, e
o Hard Rock Café, são os únicos pedaços da vida nocturna da capital
holandesa que têm ideias de experimentar. Se vais a Amesterdão, vais
acabar a noite no Red Light District. Quer queiras, quer não, é
inevitável.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;">
</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Como resolver esta situação e conjugar o melhor dos dois mundos? A
solução mais simples é levá-la contigo e aproveitar a viagem para
cultivar o romance na vossa relação.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;">
</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><img alt="Santpoort Noord - Holanda - (foto de Adriano Cerqueira para o blog Vontade de Viajar)" class="aligncenter size-full wp-image-3711" src="http://vontadedeviajar.files.wordpress.com/2013/10/santpoort-noord-holanda-foto-de-adriano-cerqueira-para-o-blog-vontade-de-viajar.jpg?w=470&h=320" height="272" width="400" /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;">
</span></div>
<h3 style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Santpoort Noord, contraste e relaxamento</span></h3>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;">
</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Espera aí. Romance? “Essa é provavelmente a última palavra que alguma
vez pensei ver associada a Amesterdão”, pensas tu. Mas a poucos
quilómetros dessa “metrópole do pecado”, encontras Santpoort Noord. Uma
pequena cidade nos arredores de Haarlem. Rodeada por floresta, parques
verdejantes, e a pouca distância da praia, esta pacata localidade não
tem um único prédio acima de três andares.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;">
</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Caracterizada pela típica arquitectura holandesa, Santpoort é uma
comunidade de casas individuais, com estradas em tijolo, ciclovias e
trilhos para caminhadas. A maioria das casas tem um jardim à sua volta e
grandes “montras” em lugar de janelas. Não estranhem ver as famílias
locais a conviverem calmamente nas suas salas, como se estivessem a
expor a sua vida privada para quem por ali passa. É um acto normal para
eles, contudo, é considerada má educação, ficarem ali parados a olhar.
Controlem o vosso instinto de voyeurismo e, simplesmente, ignorem.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZnqFBgdyNoWhu8xQehyphenhyphen-Sif0SWEimnxXuhAjzTt0MnCrd8Lfv9J2I69XgtzJKU8KeePNvL9kF_p2DBD1J4_OzoanP6SNQYpOlrsqkUnkal96sieSG_9UM3UW8Xk-_Sd2_a0a0ac-01WDs/s1600/santpoort-casa-com-vidro.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZnqFBgdyNoWhu8xQehyphenhyphen-Sif0SWEimnxXuhAjzTt0MnCrd8Lfv9J2I69XgtzJKU8KeePNvL9kF_p2DBD1J4_OzoanP6SNQYpOlrsqkUnkal96sieSG_9UM3UW8Xk-_Sd2_a0a0ac-01WDs/s400/santpoort-casa-com-vidro.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;">
</span></div>
<h3 style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Subir para a Praia, e Nortadas a sério</span></h3>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;">
</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Se caminhar pela floresta e andar de bicicleta não é bem do vosso
agrado, podem sempre ir passear à praia. Durante o Verão, especialmente
no final de Julho, é comum organizarem-se luaus, e outras festas junto
ao mar. As praias holandesas são bem diferentes daquelas que podem
encontrar em Portugal ou Espanha. Antes de chegarem ao mar, passam por
enormes morros, ou diques, que separam a constante ameaça das ondas dos
restantes terrenos. Afinal de contas existe um motivo para se chamarem
Países Baixos. Sabem como normalmente têm que descer para ir à praia? Em
Santpoort têm que subir!</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;">
</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Assim que lá chegam, o primeiro obstáculo que vão sentir é o vento.
Se pensam que as nortadas são más, é porque nunca passaram por isto. A
erosão provocada pelo vento é tão forte que a própria areia parece
farinha. Muito agradável de se sentir por entre os dedos dos pés, mas
pouco prática para o típico veraneante que gosta de torrar ao sol, e dar
um ocasional mergulho no mar.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6oK_Zm3tDG8mzoTcBoCyUUv1tvWw7MZPRk0XYNBXVP63feUM_4SH7r68bxBFP0Nn-Fseep56_kWsTguSFl1gdiFgKvWURfNWvEcmQE2moI6Bmqz_Ypd4gOF6MVC5Ro1ivwwai9L_TQDqF/s1600/santpoort-praia-na-holanda.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="265" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6oK_Zm3tDG8mzoTcBoCyUUv1tvWw7MZPRk0XYNBXVP63feUM_4SH7r68bxBFP0Nn-Fseep56_kWsTguSFl1gdiFgKvWURfNWvEcmQE2moI6Bmqz_Ypd4gOF6MVC5Ro1ivwwai9L_TQDqF/s400/santpoort-praia-na-holanda.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;">
</span></div>
<h3 style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Por entre Moinhos e Tulipas</span></h3>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;">
</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Mesmo no centro de Santpoort podem encontrar o <a href="http://wildemansantpoort.nl/" target="_blank">Brasserie De Wildeman</a>,
um pub com esplanada que também serve refeições. Um bom espaço para
relaxarem, acompanhados por uma cerveja Amstel. Podem também
experimentar a típica comida holandesa. Muito à base de fritos, não é a
mais saudável, confesso, mas não é má de todo.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;">
</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;">A região de Haarlem é famosa pelos seus moinhos e plantações de
tulipas. Se visitarem durante a Primavera, vão ser maravilhados por
campos coloridos que se estendem até ao horizonte. Se for o caso,
aconselho-vos a alugarem um carro para poderem explorar bem essa região.
Um bom espaço para o fotógrafo amador iniciar um portfólio florido para
partilhar com os seus amigos.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi5FgnrHoDpo6tmdgMW5m-DHxN92TmWmRw8gldP0djgUoi8LF9hyKcMqsUDXdZr0qJiadzqXbpG2MVJhh8J5W3vjO5TU3CBgmLW_u9QhrvV7a3B1eMaCLUPSXSPsvqFuaOjppS6NQywbmN_/s1600/santpoort-flores-na-holanda.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="258" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi5FgnrHoDpo6tmdgMW5m-DHxN92TmWmRw8gldP0djgUoi8LF9hyKcMqsUDXdZr0qJiadzqXbpG2MVJhh8J5W3vjO5TU3CBgmLW_u9QhrvV7a3B1eMaCLUPSXSPsvqFuaOjppS6NQywbmN_/s400/santpoort-flores-na-holanda.jpg" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Foto: Adriano Cerqueira</td></tr>
</tbody></table>
</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;">
</span></div>
<h3 style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;">De Weyman, o fim ideal para um dia perfeito</span></h3>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;">
</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Cansados após um longo dia de passeio? A noite de Amesterdão deixou-vos de rastos? Nada como o <a href="http://www.hoteldeweyman.nl/" target="_blank">Hotel De Weyman</a>.
O local ideal para relaxarem e passarem uma noite calma a dois. Por
fora, De Weyman quase que passa por mais uma casa holandesa, contudo, é
bastante espaçoso. Os donos são simpáticos, falam um inglês fluente, e
estão sempre disponíveis para vos ajudar. O próprio Hotel tem um bar, e
também serve refeições.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;">
</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Cheiraram as tulipas, passearam pela praia, e beberam uma Amstel no
De Wildeman. Está na hora de finalmente darem um salto a Amesterdão.
Embora ir de carro possa parecer uma opção mais cómoda. Os vossos bolsos
vão agradecer se forem de comboio. Os parques de estacionamento
em Amesterdão, embora comuns, são excessivamente caros. Em algumas
zonas, podem mesmo chegar a cobrar seis euros por hora. Os comboios
entre Santpoort Noord e a capital holandesa são bastante regulares, e a
viagem não demora mais de meia hora.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Santpoort Noord é uma agradável alternativa à confusão metropolitana
de Amsterdão. Um contraste improvável entre uma noite boémia, e umas
férias românticas, a poucos quilómetros de distância.</span><br />
<br />
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: x-small;">Publicado em 25 de Setembro de 2013 no Blogue <i><a href="http://vontadedeviajar.com/2013/09/25/roteiro-romantico-em-santpoort-amsterdam/">Vontade de Viajar</a></i></span> </span><br />
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: x-small;">Reeditado em 10 de Outubro de 2013</span></span></div>
</div>
Adriano Cerqueirahttp://www.blogger.com/profile/00670753686506013158noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3377594744363486538.post-2511161682865015342013-09-17T18:30:00.000+01:002013-09-17T18:30:02.030+01:00Eurotrip: Prólogo<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;">“Não o consigo acompanhar. Não com este ritmo”. O cansaço apoderava-se de mim. As minhas energias escoavam pela sola das sapatilhas. Cada passo que emergia sob o suave piso laranja deste circuito de manutenção, sentia-o como um martírio contínuo, sem fim à vista. Pura estamina e força de vontade. Nada mais me fazia seguir em frente. A mente ignorava a dor que assolava o meu corpo. Apenas assim, podia continuar a correr. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />O Luís já ia lá à frente. “Já falta pouco”, pensava. Faltava pouco mas não o podia acompanhar. Baixei o meu ritmo. Perdido num limbo entre o Luís e o Paulo, os dois em extremos opostos de velocidade. Tinha que encontrar o meu passo. Não podia parar. Não podia pensar. Tinha que descansar em corrida.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />Este era um Verão atípico. Frio. Céu mais vezes cinzento, que azul. Todas as semanas, mais do que uma vez, Eu, o Luís e o Paulo, encontramo-nos para correr ao final da tarde. À mesma hora, no pequeno jardim da Rotunda do Carregal. É aí que iniciamos o nosso percurso.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />Construído na última década, a Avenida da Régua tem agora um circuito de manutenção. Dois caminhos alaranjados, próprios para correr, caminhar, ou passear de bicicleta. A principal artéria que liga Ovar à Praia do Furadouro, ganhou assim uma nova vida. Todos os dias, faça chuva, ou faça sol. No frio do Inverno, ou no calor do Verão. Todos os dias, várias pessoas juntam-se neste percurso para praticar exercício. Seja ele solitário, ou entre amigos. Esta é uma nova tradição vareira. O culto de uma vida saudável, numa terra regada por espaços verdes, pelo mar, e pela paisagem natural da Ria de Aveiro.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />O nosso ritual é cumprido de forma quase ortodoxa. Do Carregal até aos Bombeiros, dos Bombeiros até ao Carregal. Sempre a correr. Alongamentos no jardim e uma caminhada até ao Furadouro. Finalizada com o já habitual momento de contemplação do pôr-do-sol, em um dos esporões que povoam a paisagem. Deixo a minha mente apagar-se perante a imensidão do oceano. Descanso, e encontro alguma paz.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />Mas esse momento ainda estava longe. O Luís já ia lá à frente. Não o podia alcançar. Ainda tinha mais um quilómetro por percorrer. Decidi abrandar ainda mais e aguardar pelo Paulo. Sem parar. Não podia parar. Não tardou até que ele me alcançasse. Visivelmente cansado, sempre me questionei porque ele teimava em levar o telemóvel consigo. Embora a música seja boa para manter a cabeça ocupada, o peso extra não o ajudava.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />Adoptei o seu ritmo mais calmo, e continuei. As minhas forças começaram a recuperar aos poucos. A dor que sentia começava a esvanecer. Quando finalmente chegámos ao Carregal, não queria parar. Chamei pelo Luís, que já descansava, no jardim, para continuar connosco. Ele disse que seguia a pé, mais tarde. O Paulo concordou, e continuámos a correr em direcção à Praia.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />Como se tivesse rejuvenescido, sentia que era capaz de ultrapassar os meus anteriores limites. “Era desta que ia conseguir fazer seis quilómetros seguidos sempre a correr”. Este pensamento motivou-me. O cansaço continuava ali, mas algo mais estava a puxar-me em frente. Já não estava em esforço. Ia conseguir. Perdidas em alguma reserva desconhecida, consegui recuperar as energias necessárias para ultrapassar esta barreira. Era livre. Naquele momento, eu iria voar.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />Quando estávamos a pouco mais de 500 metros do fim, o ritmo do Paulo já não era suficiente para mim. Acelerei. Corri. Mais rápido do que antes. Mais rápido do que alguma vez tinha conseguido. O Paulo seguia-me, não muito atrás.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />Continuei até às Varinas na entrada do Furadouro. Saltei para dentro da Rotunda, e como o Rocky, ergui os meus braços para o céu. O Paulo chegou pouco depois. Já pelo caminho festejávamos este feito, que à partida, nenhum de nós acreditava ser possível de alcançar.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />Aguardámos pelo Luís que ainda tardou um pouco a chegar. Não me lembro de alguma vez me sentir tão feliz por algo que, para muitos, não passava de um feito banal. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />Reunimo-nos os três no esporão. Ainda faltava algum tempo para o anoitecer. O Luís foi o primeiro a falar.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />“Uns amigos estão a pensar organizar uma viagem de carro pela Europa. Vocês alinham?”</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />“Uma roadtrip europeia?”, perguntou o Paulo.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />A ideia parecia-me cara, mas uma voz adormecida nos confins da minha mente, gritava pelas palavras de um escritor que, ainda, não conhecia. “O importante é partir, não é chegar”.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />“O importante é partir”, disse para mim próprio.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />Passado algum tempo, regressámos ao meu carro. Pelo caminho partilhávamos ideias. Raramente interessantes, projectos, e histórias com pouco, ou nenhum sentido.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />O Paulo foi o primeiro a sair, ou não vivesse ele bem próximo do centro da cidade. Típica cidade do litoral português, o centro de Ovar é uma praça simples em calçada de granito, com a Câmara Municipal, alguns serviços e restaurantes, e uma Igreja de Santo António que, numa freguesia cujo Patrono é São Cristóvão, santo protector dos viajantes, acaba por deixar algum mistério na sua origem. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />E em viagem seguimos, de regresso a casa. Breves quilómetros atrás do volante, por ruas já muito familiares. Demasiado familiares. Era hora de partir. “Em qualquer viagem, o importante é partir.”</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />“Luís, podes contar comigo. Já era tempo de fazermos uma Eurotrip!” </span></div>
Adriano Cerqueirahttp://www.blogger.com/profile/00670753686506013158noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3377594744363486538.post-13521993100772835552013-09-16T18:30:00.000+01:002013-09-16T18:30:01.627+01:00XXII<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<i>Todas as luzes no céu são estrelas</i> (título original)</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Um sentimento de Fogo cresce. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Dentro de mim, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Uma chama acesa, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Solitária, luta contra a escuridão. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Fogo. Que se alimenta de emoções, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Não de Ira, Raiva, Amor ou Paixão. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Mas de uma voz, uma voz que grita, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Que anseia por Resolução. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Por se fazer ouvir, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Por Determinação. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Chama que consome. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Envolve a penumbra, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Ilumina o Universo, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
E cresce. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Cresce, consome. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Aquece tudo em seu redor, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Penetra pelas paredes, da sua própria existência. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Arrebata as redes da sua Negação, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Propaga o seu alcance, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Até ao extremo do seu lar. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Ultrapassa-se a si própria. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Liberta-se das amarras. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Amarras que a detém, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Nós cegos, por si feitos. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Feitos, assim. E por si, enfim Desfeitos. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Chama interior, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Nascida estrela, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Vive, olvidada, envolta em escuridão. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Sonho, desperto. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Fome de Motivação. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Fogo descoberto, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Não mais encoberto. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Dúvida, Incerta. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Certeza, dúbia. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Insignificantes palavras, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Frente tão bela e luzia, esperança. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Hoje desperta, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Não mais dormente. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Todas as luzes no céu são estrelas, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Como é, tão bem, estrela esta luz. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Todas as chamas são fogos, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Fogos amigos, que a estrelas ambicionam. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Que dia, após dia, sonham, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Com a luz, que assim se concretiza, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
E com a estrela, que enfim, neste dia desperta. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: right;">
<span style="font-size: x-small;">Covilhã, 19 de Julho de 2013
</span></div>
Adriano Cerqueirahttp://www.blogger.com/profile/00670753686506013158noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3377594744363486538.post-37171837499517932122013-05-29T18:30:00.000+01:002015-10-08T16:14:06.596+01:00L’Heure Bleue<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;">“A
hora mais fria da noite faz-se sentir no momento que antecede o
amanhecer. A sua escuridão envolve-nos. Sentimo-nos sós, e, nesse
momento, nada é mais assustador que a solidão”. Estava frio. A noite
mágica começava a dar lugar a uma nova manhã de terça-feira de Carnaval.
Miguel sentia o frio nos ossos. Frio apenas amenizado pelo cansaço,
pelas horas não dormidas e pelos excessos da noite anterior. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />Disfarçado
de Rambo, Miguel arrependia-se de não ter trazido um casaco, ou vestido
algo mais quente por baixo do fato. Frio. O sol já começara a nascer
mas naquele preciso momento estava mais frio do que na hora mais escura
da noite. A maioria dos seus amigos, também eles fantasiados da mesma
forma, já tinha partido com destino incerto. Um grupo de oito, desfeito
antes mesmo de a noite terminar. Além de Miguel, apenas restavam dois. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />Encontravam-se
em frente ao Rio Cáster, sob o abrigo da escadaria do velho Clube de
Vídeo. Miguel ainda guardava na sua mão a fartura que por gulosice, ou
por simples desejo, os três se lembraram de comprar. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />“Não vais acabar de comer?”, perguntou-lhe Tiago. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />Embora
fora sua a ideia, Miguel não estava com fome. Algo o preocupava. Algo o
fazia mover. Algo lhe dizia que não devia estar ali.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />“Como pelo caminho”, responde. “Já é tarde. Ou melhor, cedo demais”.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />“Sim,
também acho que já está na hora de voltarmos para casa.” Após dizer
isto, o Tiago combinou com o Rui o melhor caminho para regressarem. Os
três despediram-se, e Miguel seguiu pela rua acima.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />Atravessou
a ponte pelo meio da estrada. Apesar da hora, as ruas ainda continuavam
fechadas. Ouvia-se música à distância vinda da tenda que, naqueles
dias, ocupava o parque de estacionamento da biblioteca. Várias pessoas
vagueavam pelas ruas. Menos ou mais alcoolizadas. Vestidas com as mais
diversas fantasias, algumas já destruídas pelas peripécias da noite
anterior. Grupos animados. Casais, novos, velhos e acabados de se
formar, dividiam-se entre discussões e abraços amorosos. Alguns,
inconscientes ou com mau aspecto, eram ajudados por voluntários e
dirigidos para os postos de socorro. Miguel ignorava tudo isto.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />Perdido
no caos silencioso dos seus pensamentos, Miguel segue sem objectivo. O
frio e o cansaço tomavam conta do seu corpo mas ainda lhe restavam
energias suficientes para percorrer o caminho até casa. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />O
primeiro obstáculo não tardou a surgir. A subida do Calvário. Subida
que dava jus ao seu nome. Tão fácil de ultrapassar num dia normal, mais
complicada após uma longa viagem de bicicleta, hoje, impossível. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />Calmamente,
Miguel subiu. Passara já a Capela quando, ao longe, começavam
finalmente a surgir os primeiros raios de sol. A aurora dava lugar à
manhã e o frio que tanto o atormentava começava a ceder. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />Sentada
na paragem de autocarro estava uma rapariga vestida de anjo. De
profundos olhos verdes, feições belas e um calmo sorriso. Os tons de
avelã do seu cabelo reluziam na ténue luz do amanhecer. Não havia
autocarros, não àquela hora, não naquele lugar. Ela olhava
tranquilamente em redor, como se aguardasse por algo ou por alguém. Uma
boleia, um encontro marcado, uma amiga atrasada. Talvez nenhum dos três,
talvez apenas teria escolhido aquele banco para descansar antes de,
também ela, regressar a casa.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />Miguel
viu-a. Trocaram um olhar por breves momentos. Breves, pois nem mesmo a
sua beleza era capaz de o desviar dos seus pensamentos. Miguel caminhava
com um propósito. Fosse ele qual fosse, motivava-o a continuar. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />“É
sempre mais escuro antes do amanhecer”, disse a rapariga pouco depois
de Miguel passar por ela. Parou. Olhou para ela. Confuso, sem pensar,
apenas perguntou: “Fã de <i>Florence and The Machine</i>?” </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />A
rapariga levantou-se, caminhou para junto de Miguel e parou à sua
frente. As asas da sua fantasia moviam-se com uma graciosidade quase
divina. As plumas deslizavam ao sabor da brisa matinal. Pareciam maiores
agora do que na primeira vez que as viu de relance. O seu vestido era
branco, discreto, delineava as formas do seu corpo como se fosse feito à
medida. Não usava nenhuma auréola, como seria de esperar num fato deste
género, apenas uma coroa de flores brancas. Miguel sabia o seu nome.
Sabia, mas não o recordava.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />“Não sabes que é rude deixar uma senhora sozinha numa manhã tão fria?”</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />Miguel,
sem resposta, regressava aos poucos à realidade. Perdido na
contemplação desta estranha conhecida que tinha agora pela frente, não
foi capaz de dizer nada além do seu olhar de confusão e estranheza.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />Ela sorriu e pegou-o pelo braço. “Importas-te que te acompanhe? Vejo que seguimos o mesmo caminho.”</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />“De
todo. Eu vivo perto de...” Com um gesto suave ela coloca um dedo sob os
seus lábios, interrompendo-o. “Seguimos o mesmo caminho”, sorriu. “Não
estragues a surpresa. Eu acompanho-te.”</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />Perplexo
por aquele gesto, Miguel retribuiu o seu sorriso. Já não sentia o
cansaço. Também o frio não era agora mais do que uma velha memória
prestes a desvanecer nos confins da sua mente.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />Caminharam
juntos em silêncio durante algum tempo. Miguel era envolvido por um
pensamento de certeza. Aquele algo que o motivara a continuar,
permanecia no seu consciente, como que a gritar de felicidade por este
ter encontrado o seu destino. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />“Algo te preocupa”, disse ela, pondo fim ao vazio de palavras.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />“Esperava que isso não fosse tão óbvio”, respondeu.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />“Não o é para mim.”</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />Miguel
hesitou, procurando pela melhor forma de contar aquilo que o
atormentava. Por fim disse, “Sinto-me oco. Como se o meu poço de
inspiração e de imaginação tivesse há muito secado. Falta-me um
propósito. Um destino. Algo pelo qual valha a pena lutar. Uma... Uma...”</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />“Uma história que valha a pena contar”, completou ela com um tom sério de determinação.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />“Sim, uma história”, anuiu. Cumplicidade. Sentimento estranho para partilhar com alguém que tinha acabado de conhecer.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />“Porque não começas pela base? Pelo básico, pelo princípio?”</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />“Não
consigo começar a contar algo sem saber como termina. Como posso unir
as acções dos protagonistas sem uma linha, sem uma continuidade, sem uma
história?”</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />Passavam
agora o largo onde em tempos se erguia um quiosque em madeira. Há
alguns anos substituíram-no por uma estátua em homenagem a um
desportista de quem poucos se recordam. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />Miguel
lembra-se das manhãs passadas ali em criança, a caminho da escola. Por
vezes parava para comprar uns rebuçados ou uns cromos. Hoje, desse
quiosque, apenas restam as suas memórias. Suas, e das árvores que ainda
permanecem naquele local, despreocupadas, incólumes e ignorantes dos
eventos que por ali foram passando. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />Não sabia explicar como, ou porquê, mas Miguel percebia que ela tinha lido os seus pensamentos.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />“Essa
é uma história bonita. Triste, mas bonita. O rapaz que tem saudades da
sua infância, a criança que chora com a destruição dos seus lugares
preferidos. Uma história com início, meio e fim. Uma história que
conheces bem.”</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />“Uma história que poucos quererão ouvir”, respondeu.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />“Talvez. Depende de como a contares.”</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />Miguel
hesitou e fechou-se por um instante nos seus pensamentos. “Uma história
minha. Apenas uma velha memória. Por mais poética que a tente tornar,
há algo que falta a um conto tão simples.”</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />“Se
simples não é algo que procuras, porque não contas uma história mais
arrojada? Algo que envolva, mistério, risco e um futuro incerto?”</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />“Bons ingredientes, difíceis de encontrar.”</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />Ela parou novamente e virou-se para o encarar. “Estão mesmo à tua frente.”</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />Sorriu. “Queres que conte a história do dia em que encontrei um anjo só, numa paragem de autocarro?”</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />“Não, quero que contes a tua história. O teu mistério, os teus riscos, o teu futuro.”</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />“O
meu futuro?”, Miguel retomou o seu caminho, ponderando sobre as
palavras que ela lhe acabara de dizer. Pesavam-lhe como se algo se
estivesse a abrir dentro dele. Memórias que ele ainda não tinha vivido.
Sentimentos de um passado esquecido que ficara por se concretizar. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />Enfim
falou. “Em tempos tentei fazê-lo.” Estavam agora a poucos metros da
casa de Miguel. Ambos pararam. Ela para o ouvir. Ele para lho dizer.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />“Sentei-me
dias a fio a contemplar o horizonte. Escrevi. Escrevi. Escrevi. Folhas
de papel, amarrotadas pelo vento. Gastei a minha caneta. Mas
desapareceram. Todas.” </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />“Noites
a fio imaginei a minha história, reescrevi as personagens, coloquei-as
nas mais variadas situações. Mas nenhuma valeu a pena. Nenhum falou mais
alto até àquele dia.” </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />“Até
aquela tarde em que não a reconheci quando passou ao meu lado. Até
aquela tarde em que ela me chamou e nada mais pareceu importar. Até
aquela tarde em que folha por folha, cada uma se deixou lavar pelo mar.
Cada uma afogada no eterno oceano daquela história que não consegui
completar. Que não quis completar. Que não mais voltei a ler. A pensar,
ou a escrever. Uma história que acabou sem que eu nunca a tivesse podido
contar.”</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />Lágrimas
correram pelo rosto de Miguel. Embora mantivesse a seriedade das suas
palavras, as emoções das mesmas assolavam-no e dificultavam a sua
respiração. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />A
estranha rapariga vestida de anjo que o acompanhara neste longo
caminho, não conseguia esconder a sua empatia após tão pesada e crua
confissão. Abraçou-o. Envolveu-o nos seus braços. O tempo parou. Nada
mais sentiam que não o calor dos seus corpos. Nada mais ouviam que não o
bater dos seus corações.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />A
pouco e pouco, Miguel recuperou o seu fôlego. A tormenta em que se
encontrava parecia ter acalmado. As nuvens cinzentas do seu pensamento
deram lugar a um céu azul, vivo como aquele que é banhado pelo sol
primaveril. O seu poço encheu-se. Sentia-se vivo. Desperto. Tinha
encontrado a sua história.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />Ela
olhou-o nos olhos. As faces de ambos reflectiam uma rara felicidade,
indistinta para qualquer um, mas que os ligava profundamente num laço,
numa linguagem, que apenas os dois podiam compreender. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />“Estás perto de casa...”, disse ela.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />“...e perto de ti”, respondeu.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />Sorriu.
As suas asas pareciam agora reluzir intensamente, como se uma nova vida
tivesse nascido por entre as plumas que as enfeitam. Como se ganhassem
novamente vontade para voar. Esperança. Sim. Tudo parecia possível.
Naquele momento. Naquele lugar.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />“Por agora seguimos um caminho diferente. A noite foi longa. Precisamos de dormir.”</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />Palavras que o empurraram de regresso à realidade daquele dia que, por momentos, não parecera ser mais que um sonho.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />Miguel queria pedir-lhe para ficar. Para falarem. Para que aquele momento não acabasse por ali. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />Não o fez. Compreendia. Voltara a sentir o seu cansaço. O sono. O frio. Anuiu.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />“Posso acompanhar-te até tua casa”, disse.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />“Esse caminho apenas eu o posso fazer. Não te preocupes. Ver-nos-emos em breve”, sorriu.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />Miguel sabia que o que ela dizia era verdade. Sabia que esta história não ia terminar desta forma.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />Despediram-se. Miguel dirigiu-se para casa. Mas, enquanto procurava as suas chaves, voltou para trás para a chamar.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />“Não me disseste o teu nome.”</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />“Sara.
Da próxima vez não te esqueças de trazer o teu casaco, Miguel. O
cavalheirismo demanda que o ofereças a uma senhora a morrer de frio numa
manhã como estas.”</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />Ambos se riram com aquela despedida. Miguel não questionou o facto dela saber o seu nome. No fundo ele sempre soubera o dela. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />Sara,
ecoava na sua mente, como uma boa memória há muito guardada no seu
coração, como uma recordação de um futuro ainda por viver que,
finamente, ressurgia após um longo período de escuridão.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />Miguel
estava finalmente em casa. É mais escuro antes do amanhecer. A hora
azul. A hora mais fria da noite. O prólogo mais quente de uma história
que é sua. De uma história que ele não podia imaginar. De uma manhã
mágica que o despertou para o caminho que tinha agora que seguir.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />“Sara, nome tão simples, mas tão belo. Estou em casa, mas, hoje, estou tão perto de ti.”</span><br />
<br />
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: x-small;">Publicado em 15 de Setembro de 2013 </span></span></div>
</div>
Adriano Cerqueirahttp://www.blogger.com/profile/00670753686506013158noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3377594744363486538.post-68398288893245232962013-05-13T00:27:00.000+01:002013-05-13T00:32:03.927+01:00O Regresso<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgmBDfGKgUp2bBDhZDkuURVus6ihKUs-FIH7hFrU0bOqjDPY5QW55K_ZdZldHLtvCuhLnKmCMUaHJvdk-Iw5nko5LE_fJhle7davmUFDLtvZ79fzpkPfymxlUaVQrVZosnTgF0hkJ9FsCK3/s1600/m75hy1.jpg" imageanchor="1"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgmBDfGKgUp2bBDhZDkuURVus6ihKUs-FIH7hFrU0bOqjDPY5QW55K_ZdZldHLtvCuhLnKmCMUaHJvdk-Iw5nko5LE_fJhle7davmUFDLtvZ79fzpkPfymxlUaVQrVZosnTgF0hkJ9FsCK3/s1600/m75hy1.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Foi em finais de 2004 que comecei a dar os primeiros passos no universo da blogosfera. Blue Dove. Assim se chamava o meu primeiro blogue. Alocado na velha plataforma de blogues do Sapo, Blue Dove foi até ao início de 2006 o espaço predilecto para partilhar os meus pensamentos, as minhas histórias, as minhas ideias, a minha arte, mas, acima de tudo, a minha voz.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />No dia 17 de Janeiro de 2006 decidi dar um novo rumo à minha aventura como blogger e criei o meu blogue actual, o <a href="http://nosenseofreason.blogspot.com/">No Sense of Reason</a>. Deixei o Sapo para trás e juntei-me à comunidade do Blogspot. Embora o <a href="http://nosenseofreason.blogspot.com/">No Sense</a> seja o único blogue que actualizo com alguma regularidade, ao longo dos anos fui criando novas plataformas por necessidade de me dedicar a temas e linguagens mais específicos.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />Janeiro de 2007 viu nascer o <a href="http://portraitsofme.blogspot.com/">Story Writer</a>, um blogue que durante alguns anos mantive secreto. Dedicado apenas à divulgação dos meus contos originais e de capítulos de histórias maiores, <a href="http://portraitsofme.blogspot.com/">Story Writer</a> era o espaço onde eu acumulava e arquivava todos os contos que escrevi e que publiquei na blogosfera desde os inícios do Blue Dove. Eventualmente comecei a produzir conteúdos únicos para este blogue, contudo o meu perpétuo <i>writer’s block</i> impediu-me de o manter actualizado de forma regular. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />Nesse mesmo ano, em Julho, criei a <a href="http://theotherbrickinthewall.blogspot.com/">Antologia do Eu</a>, um blogue que tinha como único objectivo divulgar a minha escrita lírica. Tal como o <a href="http://portraitsofme.blogspot.com/">Story Writer</a>, este blogue também continha poemas que já tinham sido publicados noutros blogues e alguns inéditos que eu mantinha guardados nas minhas gavetas. <a href="http://theotherbrickinthewall.blogspot.com/">Antologia do Eu</a> tem a particularidade de a maioria dos seus poemas não terem título, sendo numerados consoante a data de publicação em numeração romana. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />Dois mil e sete foi mesmo um ano rico para a expansão da minha blogosfera pessoal. Por motivos académicos criei um blogue com o nome <a href="http://25dejulho.blogspot.com/">25 de Julho</a>. Alusão ao feriado e dia da cidade da minha terra natal, Ovar. Criado em Março desse ano, ao longo dos anos usei-o como uma espécie de portfólio onde divulgava alguns trabalhos académicos. Posteriormente transformei-o num blogue noticioso dedicado ao arquivo das notícias e reportagens que escrevi para o jornal Praça Pública. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />Foi preciso esperar até 2009 para que a minha blogosfera ganhasse uma nova face e um novo membro. Em Janeiro de 2009, em comemoração do terceiro aniversário do <a href="http://nosenseofreason.blogspot.com/">No Sense of Reason</a> remodelei o seu design, actualizei o template e redistribui as ordens de publicação da minha blogosfera pessoal. Também por motivos académicos criei o <a href="http://mercuriodoporto.blogspot.com/">Mercúrio do Porto</a>, blogue que mantenho ainda hoje para divulgar notícias que escrevi nas entidades onde trabalhei, assim como alguns projectos que desenvolvi ao longo do meu Mestrado. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />Vi-me assim com cinco blogues por entre as mãos e sem tempo para dedicar a todos eles. Acabei por privilegiar o <a href="http://nosenseofreason.blogspot.com/">No Sense of Reason</a> em detrimento dos restantes. Volta e meia actualizo o <a href="http://mercuriodoporto.blogspot.com/">Mercúrio do Porto</a>, ainda hoje mantendo-se como um blogue de apoio ao meu <a href="http://adrianocerqueira.weebly.com/">portfólio</a>. Já os restantes dependem muito da minha inspiração e desbloqueamento criativo. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />Para meu desgosto, descobri há alguns meses que o meu velhinho Blue Dove foi deitado abaixo pela Sapo sem qualquer aviso prévio. Embora já não o actualizasse há oito anos, agradava-me saber que ele continuava ali como registo dos meus primeiros devaneios na arte da escrita e do pensamento criativo. Volta e meia encontrava-me a ler um ou outro dos meus velhos artigos. Emocionava-me com as recordações que eles traziam e usava algumas das suas frases como inspiração para os meus projectos futuros.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />Vê-lo ficar offline após tanto tempo foi um duro golpe que me fez perder toda e qualquer confiança na Sapo. Senti um profundo vazio como se parte de mim tivesse sido apagada para todo o sempre. Felizmente mantive um arquivo digital de todos os artigos que publiquei naquele blogue. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />Há já algum tempo que tenho vindo a pensar sobre uma forma de voltar a repor estes meus pedaços de identidade online. Inicialmente ponderei simplesmente publicá-los, um a um, no <a href="http://nosenseofreason.blogspot.com/">No Sense</a>. Contudo, isto criaria uma anormalidade de cinquenta e muitas publicações num único mês. Para não falar de uma eventual confusão ideológica entre o actual estilo do <a href="http://nosenseofreason.blogspot.com/">No Sense of Reason</a> e a emoção em bruto do Blue Dove. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />Aliado a isto tinha também o problema dos outros blogues que nos últimos anos têm estado relativamente inactivos. Juntando o útil ao agradável, cheguei à conclusão de que a única forma de resolver este problema seria criar uma nova plataforma dedicada ao arquivo do antigo Blue Dove e dos restantes membros da minha blogosfera. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />Sob o domínio A Flock of Blue Doves, nasce assim o novo membro do universo <a href="http://nosenseofreason.blogspot.com/">No Sense</a>. De cara lavada, a nova reencarnação do Blue Dove vai inicialmente funcionar como um arquivo. Diariamente de Domingo a Quinta-feira serão publicados os velhos artigos do primeiro Blue Dove. Cada um deles será reeditado com o objectivo de corrigir eventuais erros ortográficos ou de sintaxe, contudo não irei alterar qualquer aspecto do seu conteúdo. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />Terminada a reposição de todos os artigos do Blue Dove serão também publicados e reeditados os arquivos de <a href="http://portraitsofme.blogspot.com/">Story Writer</a>, <a href="http://theotherbrickinthewall.blogspot.com/">Antologia do Eu</a> e <a href="http://25dejulho.blogspot.com/">25 de Julho</a>. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />Após esta fase o blogue continuará a funcionar no mesmo âmbito que os restantes funcionam. Embora os meus artigos de opinião continuem a ser publicados no <a href="http://nosenseofreason.blogspot.com/">No Sense of Reason</a>, assim como as minhas notícias, press releases e textos afins vão continuar a ser publicados no <a href="http://mercuriodoporto.blogspot.com/">Mercúrio do Porto</a>, todos os meus contos e poemas vão passar a ser divulgados neste blogue. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />Não pretendo com isto pôr a baixo nenhum dos blogues que vão deixar de ser actualizados. O <a href="http://portraitsofme.blogspot.com/">Story Writer</a>, o <a href="http://theotherbrickinthewall.blogspot.com/">Antologia do Eu</a> e o <a href="http://25dejulho.blogspot.com/">25 de Julho</a> vão permanecer online por tempo indefinido com o objectivo de salvaguardar as datas de publicação do seu conteúdo e também para servirem como memorabilia do meu passado como blogger. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />Os fãs do <a href="http://nosenseofreason.blogspot.com/">No Sense of Reason</a> não precisam de se preocupar, esse continuará a ser actualizado com a frequência do costume.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />Hoje dou um passo decisivo na restauração da minha memória online. No espírito do velho Blue Dove: <i>Believe in me and I’ll believe in you!</i></span></div>
Adriano Cerqueirahttp://www.blogger.com/profile/00670753686506013158noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3377594744363486538.post-58950575619356107762012-03-16T18:30:00.000+00:002015-10-08T16:24:20.428+01:00Nas Pegadas de Fátima <table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiVTAwTSZtigtE636afrd1Olgpg3TcrABj-sgMZvcMYYPersRmTynuWpdw9ubQslDXRnMJ6hGy1rjFySPBrehxioJFW90iwWHBsVYdxur3DTyicGvKxIbv9PmJG5jta917Zx3fIuJCAPLyO/s1600/Pegadas+Serra+D%27Aire.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="205" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiVTAwTSZtigtE636afrd1Olgpg3TcrABj-sgMZvcMYYPersRmTynuWpdw9ubQslDXRnMJ6hGy1rjFySPBrehxioJFW90iwWHBsVYdxur3DTyicGvKxIbv9PmJG5jta917Zx3fIuJCAPLyO/s400/Pegadas+Serra+D'Aire.jpg" width="400" /></a></td></tr>
<tr style="font-family: Verdana,sans-serif;"><td class="tr-caption" style="text-align: center;">A antiga Pedreira do Galinha revelou um rico sítio paleontológico</td></tr>
</tbody></table>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Lugar de peregrinação para milhões de fiéis devotos em todo o Mundo, Fátima esconde segredos naturais que vão além do seu Santuário. Edificada no vale da Serra de Aire em 1568, a cidade de Fátima está rodeada por algum do mais importante património geológico da Península Ibérica. As Grutas de Mira de Aire, e o Monumento Natural das Pegadas de Dinossauros, são os principais atractivos desta região. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<b>Maravilhas do novo milénio</b></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhiZbGYzM-u1JiRaxaQy4EIT37o3pAPxj3aG2naSkBweDxNjFYxEEb4eWWAYyzgY8iAzRgmNvQbtWZwuB1PhG7AkwsArkzh3L3DvA91zb4jORhEsqlfoLf0JYmlCdP3ybWJlQY52Ezwx8Kg/s1600/Grutas+Mira+D%27Aire.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="265" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhiZbGYzM-u1JiRaxaQy4EIT37o3pAPxj3aG2naSkBweDxNjFYxEEb4eWWAYyzgY8iAzRgmNvQbtWZwuB1PhG7AkwsArkzh3L3DvA91zb4jORhEsqlfoLf0JYmlCdP3ybWJlQY52Ezwx8Kg/s400/Grutas+Mira+D'Aire.jpg" width="400" /></a></td></tr>
<tr style="font-family: Verdana,sans-serif;"><td class="tr-caption" style="text-align: center;">As Grutas da Serra d’Aire são uma das 7 Maravilhas Naturais de Portugal</td></tr>
</tbody></table>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Recentemente classificadas como uma das 7 Maravilhas Naturais de Portugal as Grutas de Mira de Aire são as maiores grutas turísticas de Portugal. A sua extensão atinge já os 11 kms, mas apenas 600 metros são abertos ao público. Descobertas por mero acaso por locais, as grutas serviram em tempos como uma segunda casa para os pastores da região se abrigarem do forte calor que se faz sentir durante o Verão ribatejano. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Além das habituais estalagmites e estalactites, os visitantes têm a oportunidade de observar um espectáculo de cores subterrâneo sob o brilho das cataratas e cursos de água interiores. Para aqueles mais supersticiosos, convém levar alguns trocos para lançarem os vossos desejos numa das pequenas fontes da gruta. Inauguradas em 1974, as Grutas de Mira de Aire já receberam mais de 6 milhões de visitantes. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<b>Bairro do Jurássico</b> </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEifz2dI5anCSY1Stetp68p-gFNI6dRNS182WhMUN9XDkMNZRH8G9Eng9v0umAE_QRcRG2wXtZcgNJPfk_LHRTSYrbeGbNw2IcO2iA-Vu8POTChqw8UAkQ9JMwZajIyE-x1EUdpbcG9yKKml/s1600/Pegada+Dinossauro.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEifz2dI5anCSY1Stetp68p-gFNI6dRNS182WhMUN9XDkMNZRH8G9Eng9v0umAE_QRcRG2wXtZcgNJPfk_LHRTSYrbeGbNw2IcO2iA-Vu8POTChqw8UAkQ9JMwZajIyE-x1EUdpbcG9yKKml/s400/Pegada+Dinossauro.jpg" width="400" /></a></td></tr>
<tr style="font-family: Verdana,sans-serif;"><td class="tr-caption" style="text-align: center;">No detalhe do solo, a pegada deixada há 175 milhões de anos por um dinossauro</td></tr>
</tbody></table>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Localizado na pequena vila de Bairro, concelho de Ourém, o Monumento Natural das Pegadas de Dinossauros é o mais emblemático espólio paleontológico português. Descobertas a 4 de Julho de 1994 na antiga Pedreira do Galinha, as Pegadas da Serra de Aire são compostas por 20 trilhos, considerados os maiores e os mais antigos trilhos de saurópodes (dinossauros de pescoço comprido) de que há conhecimento, mas também, dos mais bem conservados, sendo compostos por mais de 1000 pegadas. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Formadas há 175 milhões de anos, durante o Jurássico Médio, estas pegadas são um tesouro recém-descoberto do passado da Terra, quando a Europa ainda se encontrava ligada à América do Norte, onde entre a Península Ibérica e o actual Canadá, existia um mar pouco profundo de águas límpidas e quentes. Este ambiente proporcionou as condições ideais para a boa preservação destes vestígios fósseis. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEifh0D_n-ZFepcDYmdXBXy7pvx44jQZGx3XRZNi85jeNeuGhGZc0Fjs7nZMWbwPzo-hmIwrZjViL-MwNrNdJGd_ByCMd5wPVbwNF5dR2JN6IAenLKS6tdTmILZpqQ9gv_rxyMyJ7zxU9Td0/s1600/Dinossauro+de+Ferro.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="268" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEifh0D_n-ZFepcDYmdXBXy7pvx44jQZGx3XRZNi85jeNeuGhGZc0Fjs7nZMWbwPzo-hmIwrZjViL-MwNrNdJGd_ByCMd5wPVbwNF5dR2JN6IAenLKS6tdTmILZpqQ9gv_rxyMyJ7zxU9Td0/s400/Dinossauro+de+Ferro.jpg" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Representação de um saurópode similar aos que habitaram esta região</span></td></tr>
</tbody></table>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Além das pegadas, os visitantes têm ainda ao seu dispor um trilho de natureza com informação sobre a história geológica da Serra de Aire, um jardim Jurássico que figura algumas das plantas abundantes na altura, além de uma área de animação, um Centro de Educação Ambiental, um parque de merendas e um grande painel ilustrativo da evolução da vida na Terra. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<b>Estrelas de Fátima: O segredo está no doce</b></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgHWL_iOpr2qCbvp6dXOLGnId_lvPRLRRg_sUVKubu10oukjeDZnm1pwWSxMfCN1SHtZ3M1NHe3AkqLY32BUsH_R7qcxPFpPLO8XbXgTzRXMiLT7sXPmiduoq2IdWVGOQlXg-Y4niKXeZJQ/s1600/Estrelas+de+F%C3%A1tima.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="205" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgHWL_iOpr2qCbvp6dXOLGnId_lvPRLRRg_sUVKubu10oukjeDZnm1pwWSxMfCN1SHtZ3M1NHe3AkqLY32BUsH_R7qcxPFpPLO8XbXgTzRXMiLT7sXPmiduoq2IdWVGOQlXg-Y4niKXeZJQ/s400/Estrelas+de+F%C3%A1tima.jpg" width="400" /></a></td></tr>
<tr style="font-family: Verdana,sans-serif;"><td class="tr-caption" style="text-align: center;">O melhor da pastelaria portuguesa (com reflexo na vitrine)</td></tr>
</tbody></table>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Antes de partirem em viagem, aconselho que dêem um salto à Pastelaria Milano, mesmo à saída do Santuário de Fátima. A sua especialidade são uns pequenos doces chamados Estrelas de Fátima. Feitos com ovos-moles, açúcar e noz, estas pequenas iguarias estão garantidas para elevar o vosso paladar ao mais alto dos êxtases gastronómicos. Exclusivas das Pastelaria Milano, são paragem obrigatória, especialmente depois de uma tarde de caminhadas em volta da Serra de Aire. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: right;">
<span style="font-size: x-small;">Publicado em 16 de Março de 2012 no Blogue <i><a href="http://vontadedeviajar.wordpress.com/2012/03/21/nas-pegadas-de-fatima/">Vontade de Viajar</a></i></span><br />
<span style="font-size: x-small;">Reeditado em 12 de Setembro de 2013</span></div>
Adriano Cerqueirahttp://www.blogger.com/profile/00670753686506013158noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3377594744363486538.post-12388775309088335582011-10-08T18:30:00.000+01:002015-10-08T16:19:20.615+01:00Os Cinco Estágios de Luto<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Passava pouco das nove da manhã. Miguel olhava pela janela para a rua iluminada por um branco matinal, típico do sol de uma manhã de Outubro. A luz penetrava pela janela semi-aberta do escritório, realçando o sofá onde Miguel aguardava pela consulta. Um homem observava-o na penumbra oposta do outro lado da sala. Os dois trocaram um olhar enquanto Miguel saboreava os últimos momentos do cigarro que segurava entre os dedos. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Aqui tem”, disse o homem oferecendo-lhe um cinzeiro. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Miguel expirou lentamente deixando o fumo desvanecer-se pelo ar com a leveza de uma clara neblina. Enquanto esmagava as cinzas na base do cinzeiro, o seu olhar voltou a desviar-se para o homem do outro lado da sala. Um silêncio de antecipação abateu-se pelo escritório. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Miguel foi o primeiro a falar.</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Por onde quer que comece?”, perguntou. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Não existe qualquer regra estabelecida, mas como na maioria das histórias, pode sempre começar pelo início.” </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Permita-me então que contrarie a norma e que comece pelo fim.” </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Como desejar.” </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Há cinco estágios de luto…”</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“De morte”, interrompeu o homem. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Ambos dependem da perspectiva, do sujeito que a vive. Embora se tratem de dois estados diferentes, têm ambos o mesmo objectivo. Seguir em frente, e aceitar a necessidade de o fazer.” </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Podemos colocar as coisas dessa forma, mas não se esqueça que são dois tipos distintos de aceitação.” </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Talvez, mas não concorda que no fundo ambos os percursos procuram apenas ensinar-nos a conviver com a inevitabilidade do nosso destino?” </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
O homem ponderou por um momento e assentiu. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Como estava a dizer, há cinco estágios de luto. O primeiro é a negação.” </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“O estágio em que actualmente se encontra?” </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Sem se aperceber, Miguel brincava com o seu isqueiro por entre os dedos. Observou este acto involuntário das suas mãos por alguns instantes, antes de se dirigir novamente ao homem. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Acho que parte dos motivos que me trouxeram aqui hoje, foi o senhor ajudar-me a descobrir em que estágio me encontro.” </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“De facto posso ajudá-lo, mas preciso de mais informação.” </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Miguel retomou a sua história. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Negação. Talvez seja esta a melhor fase. Mantemos a esperança de que as coisas possam ainda melhorar. Sair da cama faz-nos pensar que o novo dia pode trazer algo melhor. Que tudo não passou de um pesadelo. Mas como o próprio nome indica, tudo isso não passa de uma doce mentira que contamos a nós próprios para que a dor não seja tão forte.” </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
A sua expressão manteve-se séria, inalterável. O homem observava-o, incentivando-o a continuar. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“É só uma fase, vai passar. Os seus níveis hormonais estão desregulados. Afinal a página da Wikipédia dizia que paranóia era um dos sintomas mais comuns. O Verão nunca foi uma boa estação para mim, quando regressar o Outono voltaremos a ser felizes. A minha sensibilidade à luz faz com que me veja obrigado a semicerrar os olhos o que me torna menos atraente. Afinal o amor supera tudo, não é? Quando se ama alguém é para sempre e nada pode mudar isso. A mulher por quem me apaixonei continua lá, algures. Ela voltará a ser a mesma.” </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Miguel falava para o vazio, ignorando a presença do homem. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Pequenas mentiras racionais que contamos a nós próprios para fazer com que tudo fique melhor. Mas não fica. A dor continua lá e o passar do tempo apenas alimenta esse sofrimento.” </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Como está a lidar com esse sofrimento?” </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Miguel respirou fundo, pensando em silêncio. O seu olhar desviado para a janela do escritório. Segurava o isqueiro na sua mão direita, acendendo-o durante curtos intervalos. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Às vezes gosto de pensar que saltei a negação, fodi todos os outros estágios e mantive-me na raiva, deixando-a apoderar-se de mim até que cada centímetro do meu corpo se tornasse dormente”, responde, deixando sair um riso irónico. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Descreva-me essa raiva.” </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Raiva. Segundo estágio. Ódio. Frustração. Sentimento de impotência para com tudo. Como se atreve a questionar os meus sentimentos por ela? Porque é que se limita a pegar em ridículos e insignificantes pormenores? Como pode alguém se esquecer de todos os momentos bons que passámos, de como éramos felizes e apenas insistir em dois ou três episódios maus que podiam ser tão facilmente apagados por uma fracção dos dias em que fomos felizes? Porque tenho que levar com esta barreira irracional que a impede de ver a simples verdade do nosso amor?” </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Sem se ter apercebido, Miguel lançou o isqueiro para o outro lado da sala. As suas mãos, agora nuas, seguravam a sua face, impedindo em esforço, como uma frágil barragem, o fluxo de lágrimas que os seus olhos pareciam ameaçar. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
O homem continuava a observá-lo serenamente. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Quer contar-me o que se passou?”, perguntou. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Não. Certas histórias precisam do momento certo para serem contadas.” </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Este não é o momento certo?” </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Miguel compôs-se e voltou a fitar o vazio por alguns instantes. “Não”, respondeu, finalmente. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
O homem assentiu, enquanto anotava algo no seu bloco de notas. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Suponho que queira falar sobre a negociação.” </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Pensava que já tinha acordado o preço com a sua secretária.” </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
O homem sorriu, surpreso pela breve centelha de humor. “Continue.” </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Terceiro estágio. Negociação. Talvez o mais humilhante. Tão útil como lançar uma garrafa de oxigénio para uma casa em chamas na esperança de as apagar.” </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Miguel pausou por alguns segundos antes de continuar. O homem ofereceu-lhe um copo de água que ele aceitou com gratidão. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Pensei para mim próprio”, continuou. “Talvez se eu mudasse, talvez se ela me desse mais uma oportunidade de lhe provar como podemos voltar a ser felizes. Basta estarmos juntos, ela vai voltar a senti-lo. Se eu implorar, se eu bradar aos céus o que sinto por ela, talvez aí…”</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Hesitou, inseguro sobre o que estava prestes a revelar. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Uma noite cheguei mesmo a rezar, a pedir que ela desse ouvidos ao seu coração e que de alguma forma encontrasse a calma de espírito necessária para quebrar a sua lógica destrutiva e voltar a ser feliz comigo. Um último acto de desespero…”</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
O homem observou Miguel pensativamente antes de falar. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Recorrer a uma entidade superior quando nos sentimos impotentes e nada mais temos onde nos apoiar, faz parte da condição humana. Não é algo do qual deva ter vergonha.” </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Miguel anuiu. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Foi nesse momento que percebi que nada mais havia a fazer. Por mais que me quisesse convencer do contrário, por mais que me quisesse agarrar a uma réstia de esperança, nada mais podia fazer.” </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Quarto estágio”, disse o homem. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Depressão”, respondeu. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Por mais romântico que fosse, por mais poemas que escrevesse, por mais canções que lhe cantasse, nada iria mudar. Embora não tivesse feito nada de mal…”, parou, hesitante. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Aliás, embora tenha errado em certos aspectos, quando não se comete um ‘crime’ específico, algo objectivo que seja capaz de ser remediado, que seja capaz de ser perdoado, nada há a fazer. Nada há a fazer, quando o problema és tu, a forma como te vês, como és, como sentes, como vives. Quando o teu único erro é a tua maneira de estar, e de ver o mundo, nada podes fazer. Nada podes fazer a não ser…”</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
As primeiras lágrimas escorriam pelo seu rosto enquanto ele voltava a olhar através da janela semi-cerrada. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“A não ser?”, perguntou o homem. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Miguel limpou as lágrimas dos seus olhos, calmamente dirigindo o seu olhar para o homem. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Aceitar.” </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Quinto e último estágio”, respondeu. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Já estive em baixo, antes. Normalmente dormia durante horas a fundo sem qualquer vontade de me levantar da cama, mas não agora. Mal consigo dormir. Embora tenha alguma facilidade em adormecer, acordo muito antes da minha hora habitual e levanto-me quase de seguida. Apesar das poucas horas de sono, é raro sentir-me exausto ao fim do dia. Para ser sincero, é raro sentir seja o que for.” </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Acha que ainda se encontra no quarto estágio?” </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Sim. Não estou preparado para seguir em frente, não sou capaz de aceitar a ideia de que a perdi para sempre. De esquecer todos os planos que tínhamos, todas as coisas que não fizemos. De apagar toda a imagem de um futuro juntos. Tenho saudades dela, do seu olhar, do seu sorriso, do seu cheiro, do seu toque… Tenho saudades do seu amor. Tenho saudades da nossa felicidade.” </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Miguel rompeu em lágrimas e deixou-se cair no chão do escritório. O homem aproximou-se para o consolar, oferecendo um lenço de papel. Durante alguns minutos, ficaram ambos ali. O silêncio da sala era apenas interrompido pela respiração ofegante de Miguel. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Estes ataques de ansiedade são-lhe frequentes?” </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Uma vez por dia, pelo menos”. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
O homem assentiu anotando no bloco de notas. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Parece-me que compreende perfeitamente qual o próximo passo a tomar.” </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Seguir em frente.” </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
O homem esboçou um sorriso de concordância. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“É bem mais fácil dizer que fazer”, responde. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Por mais que eu queira que a dor acabe. Sinto a necessidade de compreender o que se passou, de saber porque é que tudo isto aconteceu. Éramos tão felizes, tudo parecia tão certo.” </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
O homem ponderou por alguns segundos antes de responder. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“A palavra-chave nesse frase é ‘parecia’. Talvez tenha razão. Talvez apenas se tenha tratado de algo que aconteceu de um dia para o outro, talvez ela apenas não se tenha sentido à vontade para partilhar consigo o que se estava a passar. Independentemente disso, o que é importante para si neste momento não é procurar as razões que o trouxeram aqui, mas sim redescobrir a sua autoconfiança, aceitar que ela o magoou e sentir-se capaz de seguir em frente para encontrar alguém que seja capaz de o amar por quem é, sem que sinta a necessidade de mudar. O seu futuro passa por alguém que o aceite, e com quem se sinta à vontade para ser real a si próprio.” </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Sentindo-se melhor, Miguel compôs-se e sorriu. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
O homem olhou para o relógio, já passava da hora que tinham combinado. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Muito obrigado”, disse Miguel enquanto se despedia do homem. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Nunca subestime o poder do respeito por si próprio. Ser capaz de aceitar tudo aquilo que faz de si alguém único, é o primeiro passo para a aceitação do seu próprio destino.” </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Miguel esboçou um último sorriso antes de sair. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Quinto estágio”, disse, enquanto saía do escritório para regressar a casa. O sol outonal ainda brilhava com intensidade, iluminando um novo dia cheio de oportunidades escondidas ao virar de cada esquina. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Miguel respirou fundo e regressou a casa com um sentimento de paz lentamente a apoderar-se do seu corpo, consolando, a cada passo, a dor que pesava no seu coração. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: right;">
<span style="font-size: x-small;">Publicado em 8 de Setembro de 2013</span></div>
Adriano Cerqueirahttp://www.blogger.com/profile/00670753686506013158noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3377594744363486538.post-39936486580674912112011-09-07T18:30:00.000+01:002015-10-08T16:25:40.846+01:00A Morte do Herói<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Enquanto o Sol se escondia sob a penumbra de um céu enegrecido pelas chamas que queimavam os últimos centímetros de atmosfera, em fúteis tentativas de travar o eminente juízo final que se abatia sobre a Terra, apenas um homem inutilmente se impunha na zona de impacto. Miguel contava os segundos para o fim. Rodeado por uma imensidão de nada os seus últimos pensamentos iam para ela e para a simples claridade de uma única certeza: estava verdadeiramente só. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Os seus olhos disparavam em todas as direcções, em busca de um vulto, de qualquer sinal de movimento, agarrando-se à mais ínfima réstia de esperança, à fé nas palavras de uma velha promessa. Mas nada. As próprias árvores pareciam preparar-se para esta inevitável conclusão. Nada se movia naquela clareira além dos gestos de antecipação deste imprudente rapaz. A solidão deu lugar a breves lágrimas, supridas pela inquietação de uma calma aterradora, típica de alguém refém do seu próprio destino. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Miguel fechou os olhos saboreando o seu último fôlego. Virou a cabeça para cima e abriu-os. Nestes seus últimos segundos, não deixou de se admirar com a irónica beleza da visão que assolava este céu infernal. Ao preparar-se para o choque, viu, por uma última vez, a única memória que ainda lhe restava de um tempo em que era feliz. “Sara…”, com um suspiro largou a sua derradeira palavra, espelho das recordações de uma vida que agora termina. Cerrou novamente os olhos para não mais os abrir. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Ao acordar no chão daquele velho terraço, Miguel levantou-se em um sobressalto. Impulsionado pela chuva que ardia na sua face. Cada gota como uma gélida facada penetrante. Viu-se forçado a cambalear até ao parapeito mais próximo, ainda atordoado pelo choque da queda. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Ele ainda estava ali, o mesmo vulto negro que o tinha espancado até um ponto de quase inconsciência. Agarrava Sara nos seus braços com a arma apontada à sua cabeça. As forças escapavam a Miguel mas tinha que fazer alguma coisa. Não a podia deixar morrer, não ali, não agora, não pelas mãos daquele monstro. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
O vulto parecia gabar-se pela vitória alcançada. A rebentação de um relâmpago no horizonte ilumina por breves momentos o breu da noite. Miguel consegue ver com clareza a cara do seu rival. Um sorriso histérico de compreensão, banhado por lágrimas de ódio, ocupa agora a sua face. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“O que pensas que estás a fazer”, grita. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
O negro vulto vira-se para ele, espantado por este ainda ter energia para falar. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Faço aquilo que tem que ser feito. Algo além da tua compreensão”, responde em tom condescendente como se falasse para uma criança irreverente. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
A raiva cresce à medida que o coração de Miguel acelera. O vulto coloca o dedo no gatilho e prepara-se para disparar. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Adeus.” </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Num acto mecânico e inconsciente, Miguel reúne todas as suas forças e ataca o vulto antes deste disparar. A adrenalina que toma agora conta do seu sangue deu-lhe energia para percorrer os metros que os separavam em meros segundos. A força do embate foi tão grande que Sara saiu disparada contra o parapeito, enquanto os dois se lançavam para o vazio. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Miguel conseguiu agarrar-se a uma laje. O seu braço cambaleava com o peso do seu corpo. O vulto negro tinha desaparecido na escuridão da noite. Também Miguel começava a escorregar. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Sara acorda combalida pelo choque. Aproxima-se do parapeito onde Miguel se encontrava. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Como sei que és tu e não ele?”, pergunta-lhe. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Deixa o teu coração dar-te a resposta”, responde. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Sara estica os braços para tentar puxar Miguel. A distância entre o parapeito e a laje deixa-a a meros centímetros de o poder ajudar. Mesmo assim, Sara tenta, incapaz de aceitar este desfecho. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Aguenta, eu vou buscar ajuda”, diz-lhe em desespero. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Não, não vale a pena, não aguento muito mais”. Ditas estas palavras o seu braço começa a ceder, o esforço inumano de suportar todo o seu peso, aliado ao desgaste do choque com o seu rival são mazelas fatais para a tarefa agora apresentada. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Sara, eu…”, o esforço força-o a largar antes de concluir a frase. A rebentação dos relâmpagos como que lhe oferecem uma breve benesse, ao iluminar a face de Sara por uma última vez. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Ao cair em direcção ao vazio, Miguel guarda em si uma última certeza. Nunca esteve tão calmo, nunca esteve tão em paz, nunca foi tão feliz. “Sara, agora irei voar”. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
O avião preparava-se para descer em direcção ao aeroporto. A viagem já ia longa. Miguel contemplava o céu coberto por um mar de nuvens do mais branco que já tinha visto, prolongando-se ao longo do horizonte. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
À medida que o avião atravessava a camada de nuvens, Miguel começou a aperceber-se da precipitação que se acumulava na janela de uma das saídas de emergência sobre a asa, mesmo ao lado de onde ele se encontrava. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Nada fora do normal, não fossem algumas gotas terem começado a escorrer através da janela. A porta estava a perder a sua pressurização. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Miguel tenta chamar a assistente de bordo em vão. O sinal de apertar os cintos de segurança já estava ligado, o avião estava prestes a aterrar e nada mais podia ser feito. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Quando o solo surgiu por entre a espessa camada de nuvens, já a porta tinha começado a ceder. O avião descaía sobre o seu lado esquerdo, descendo a alta velocidade em direcção ao aeroporto. Uma turbulência anormal realçava o ar de apreensão na face dos passageiros. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
A própria voz do piloto tremia de nervosismo ao anunciar a aproximação da aterragem. Miguel continuava a olhar pela janela como se não quisesse perder um único pormenor da catástrofe iminente. O avião roçava a copa das árvores, sem diminuir a velocidade. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Já se desenhava a silhueta do aeroporto no horizonte quando a porta rebentou, a pressão de ar puxava Miguel para fora. Preso apenas pelo cinto de segurança, Miguel era testemunha de uma dança de revistas, malas, papéis e canetas a passar rente à sua cara, sugados para o vazio onde ainda há instantes estava uma porta de emergência. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
O avião aterrou na pista sobre o lado esquerdo, a asa raspou na pista e partiu-se a meio. A electricidade estática provocada pelo choque fez com que o combustível da asa se incendiasse. O avião derrapou ao longo da pista sem controlo. Miguel manteve-se no seu lugar, evitando os fumos tóxicos que invadiam a cabine. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Sob gritos de morte, fechou os olhos e deixou-se cair na inconsciente graciosidade das suas memórias. Sentiu o seu toque, cheirou o seu cabelo, no seu derradeiro momento de existência viu-a por uma última vez. Chamou-a para os seus braços e deixou-se perder no seu calor. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Sara observava o desastre na gare. Quando o avião finalmente parou a poucos metros da pista de embarque, deixou-se cair em lágrimas assolada por uma terrífica incredulidade. Por um instante sentiu uma mão familiar a confortá-la e aceitou o seu abraço. Quando voltou a abrir os olhos, o avião continuava a arder. Estava só. Apenas só. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Passava pouco das onze da noite. Miguel aguardava no esporão há cerca de duas horas. “Estarei lá. No mesmo local onde fizemos aquela promessa”, já perdia as contas às vezes que tinha lido a última mensagem de Sara. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
As horas passavam sem qualquer sinal dela. Miguel aproximou-se da ponta do esporão. “Só mais um pouco”, disse. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Fechou os olhos. O vento envolvia-o num abraço ameno, típica brisa outonal que trazia consigo ainda algum resquício do calor de Verão. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
O céu límpido era apenas perturbado por uma ocasional estrela cadente. O desejo, esse, era sempre o mesmo. Apenas mais um momento com ela, poder voltar a segurá-la nos seus braços. Só mais uma oportunidade de mostrar o amor que sente por ela, de o dizer abertamente, sem hesitações, sem mais barreiras ou restrições. Uma última oportunidade de serem apenas um. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Meia-noite. Miguel abriu finalmente os olhos. Suspirou uma última vez antes de olhar em seu redor. Nada. Despiu o casaco, descalçou os sapatos e as meias. Pousou o telemóvel ao seu lado. Nas mãos guardava uma foto de Sara com ele. “Parece ter sido noutra vida”, pensou. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Segurou a foto próxima do seu coração e deixou-se cair. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
No ecrã do seu telemóvel reluzia ainda a última mensagem que Sara enviou. A data era de há um ano atrás. Antes do acidente, antes da sua morte. Quando Miguel e Sara ainda eram felizes. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: right;">
<span style="font-size: x-small;">Publicado em 3 de Setembro de 2013</span></div>
Adriano Cerqueirahttp://www.blogger.com/profile/00670753686506013158noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3377594744363486538.post-21962931194424444442011-09-05T18:30:00.000+01:002015-10-08T16:15:43.490+01:00XXI<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Medo</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Palavra escrita nas entrelinhas, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
De diálogos ensaiados por estranhos desconhecidos. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Escuridão de ignorância, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Banhada em ouro derretido pela podridão. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Medo</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Sentimento negro de aventura, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
No breu de uma estrada coberta pela noite. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Terríveis grunhidos de loucura, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Rodeados por árvores caducas de maldição. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Medo</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Incertezas de amanhãs, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Emergidas em lama visceral. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Gritos de morte, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Sob silêncios assolados por um nada temeroso. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Medo</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Carnívoras intenções, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Auto-flageladas por desejos nervosos. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Escondidos do mais simples olhar, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Em segredos restritos de violações. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Medo</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Amor descoberto, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Por uma entrega divinal. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Racionalidades fictícias de certezas incoerentes, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Perdidas em ansiedades de desejos mortais. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Medo</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Do futuro, do passado, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
De um presente de felicidade. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Receio pelo belo, pela verdade, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Apreensão de amar, apreensão de errar. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Medo</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Palavra que nada faz, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Que existe e apenas o é. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Sentimento bloqueador, por entre amarras de calor, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Cuja dor de nada vale, de nada é. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: right;">
<span style="font-size: x-small;">Publicado em 11 de Setembro de 2013</span></div>
Adriano Cerqueirahttp://www.blogger.com/profile/00670753686506013158noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3377594744363486538.post-26448775713330012252010-11-25T18:30:00.000+00:002015-10-08T16:18:06.360+01:00XX<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Imagem apagada, de um caminho deserto, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Ancestrais pegadas, perdidas no vento. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Espaços vazios. Nada. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Realidade imaginária, nunca questionada, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Sopros de silêncio, pela noite abafados. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Viagens por partir. Nada. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Cidades escuras, de idiomas ausentes, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Carentes ruínas, ainda por escrever. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Tempos perdidos. Nada. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Sonetos antigos, sem palavras, nem verbo,</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Desenhos gastos, por livros encobertos. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Sonhos esquecidos. Nada. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Mortes insípidas, vazias de dor, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Vidas corridas, cegas por amor. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Histórias em branco. Nada. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Nomes deixados, algures no horizonte, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Passados vencidos, derrotas sem sabor. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Saberes desleixados. Nada. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Cansaço eterno, por saúdes prometidas, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Mentes adormecidas, sem onda, nem valor. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Projectos parados. Nada. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Esperança contínua, sem sentido de razão, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Preces ouvidas, sem pedido, ou decisão. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Águas retraídas. Nada. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Tudo, em um todo, apenas, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Paradoxos eloquentes, de parágrafos roubados. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Poemas iletrados. Nada. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Certezas antes vistas, no incerto do destino, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Runas indecisas, por um fado caótico. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Letras encobertas. Nada. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Sentimentos guardados, na ânsia do porvir, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Futuros inesperados, no limite de desistir. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Corações partidos. Nada. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Doces Novembros, há muito vividos, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Nunca esquecidos, hoje partilhados. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Amor por viver. Dias por receber. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Nada, é tão simples. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Nada, que tudo é. Tudo. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: right;">
<span style="font-size: x-small;">Publicado em 9 de Setembro de 2013</span></div>
Adriano Cerqueirahttp://www.blogger.com/profile/00670753686506013158noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3377594744363486538.post-53782984360500254892010-09-29T19:00:00.000+01:002015-10-08T16:12:37.110+01:00Decisões<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">“Todos os dias somos confrontados com pequenas decisões, momentos que definem a direcção do nosso caminho.” Um telefonema, uma breve conversa e quatro anos volvidos, hoje é um dia diferente. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Os primeiros raios de sol abrem caminho pelas persianas, envolvendo o meu quarto aos poucos numa suava carícia de calor matinal. Acordo pouco antes da hora que programei no despertador. Enquanto aguardo que este desperte mergulho na fantasia de um dia diferente. Um dia como hoje. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">A mesma hora, a mesma música. “Talvez esteja na hora de mudar a estação de rádio, já há uns tempos que não consigo apanhar o ‘Café da Manhã’”, penso. O mesmo banho, as mesmas roupas, o mesmo pequeno-almoço. As rotinas dão-me conforto, são seguras e estáveis. Aconteça o que acontecer posso sempre contar com elas. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Pego no meu telemóvel, nada de novo. Questiono-me se devia continuar a adiar a compra de um novo, ter a caixa de mensagens sempre cheia já começa a irritar. Saio de casa. A mesma porta, as mesmas chaves, o mesmo carro. Talvez não o mesmo, a cor é diferente. Mantém ainda o tom original, um verde-água sinónimo da sua experiência, marcado pelos longos quilómetros de estrada já percorridos. Hoje tem ainda mais alguns para fazer. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">É bom estar de regresso a casa. Após estes últimos anos em constante viagem é bom ter um lugar para guardar as malas, dormir numa cama já bem familiar e fazer-me à estrada sem precisar de um mapa. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">A viagem, essa, indispensável desde o meu regresso, é já ela mais um mero percurso rotineiro que, não fosse pela imprevisibilidade do trânsito, faria de olhos fechados. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Chego a Arouca pouco antes das nove e meia. Cidade diferente. Entro no café do costume onde a vejo a tomar o pequeno-almoço. Um croissant e uma meia de leite, também ela criatura de rotinas. “Se apenas esse leite fosse de soja podias ser perfeita”, digo-lhe com um sorriso. Ela limita-se a olhar-me de relance fingindo ignorar-me. Sento-me ao seu lado a aguardar a sua reacção. “De todos os cafés em todo o Mundo, tinhas que entrar no meu”, acaba por dizer. Beijamo-nos. Um beijo, também ele rotina, não fosse pela constante novidade de emoções que este momento desperta. Cada vez, único. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">O seu nome é Sofia. Conheci-a há anos. Partilhávamos o mesmo sonho. Tomámos a mesma decisão, mas em cidades diferentes. Eu no Porto, ela em Lisboa. Lugar-comum nestas histórias. Nada de novo. Há dois anos, o destino, ou talvez uma mera coincidência entre duas pessoas que escolheram o mesmo ano para fazer Erasmus, ditou que nos encontrássemos em Madrid. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Conhecemo-nos quando já nos tínhamos esquecido um do outro. Conhecemo-nos no momento certo. “Assim estava escrito”, disse-lhe pouco após o nosso primeiro beijo. Ela sorriu. O mesmo sorriso. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">“Vamos chegar atrasados”, disse. “Deixa-os esperar, a maioria deles prefere continuar na camioneta a dormir em vez de nos ouvir”, respondi. Ela concordou. Com alguma relutância deixámos aquele lugar. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Cabia a nós fazer a visita guiada ao Museu de Arouca. Uma breve lufada de ar fresco nos exaustivos dias de trabalho de campo. O grupo de hoje era uma turma de uma escola básica da região. A maioria das crianças distrai-se com facilidade e acaba por prestar pouca atenção às nossas apresentações. Acabamos por passar metade do tempo a avisar para não tocarem nas exibições. A minha única esperança é que, entre as poucas dezenas de alunos, haja pelo menos um interessado, sem medo de nos pôr à prova. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">A turma de hoje parecia mais calma que as anteriores. Como era habitual gastámos algum tempo a explicar a origem das pedras parideiras e a mostrar-lhes alguns dos exemplares que pareciam maravilhar por breves instantes as suas jovens mentes. Enquanto ela os levava para a sala com os fósseis de trilobites, fui preparar o anfiteatro para a projecção de um pequeno documentário sobre os nossos estudos de campo. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Um rapaz franzino seguiu-me para colocar algumas questões. Já tinha reparado nele, era o que parecia mais atento do grupo. Perguntou-me sobre o que fazia, sobre o meu curso, também ele queria seguir as minhas pisadas. Sugeri alguns sites onde ele se podia informar e, antes de o levar para junto do resto da turma, disse: “Se o teu sonho for algo que te traga verdadeira felicidade, não desistas antes de o concretizares.” </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Ao aperceber-me do forte impacto que teria na vida daquele rapaz, deixei-me envolver por um agradável sentimento de realização. São simples momentos como este que mudam o tom de qualquer dia. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Durante o filme, sentei-me ao lado da Sofia no fundo da sala. Contei-lhe a conversa que tive com aquele rapaz enquanto recordávamos alguns dos momentos passados durante as filmagens. “Não és um pouco novo para ser o mentor de alguém?” perguntou. “Talvez. Duvido que aquele rapaz se lembre de mim ou daquilo que lhe disse, mas quem sabe, talvez um dia ele nos venha a citar na sua tese de doutoramento.” </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">“A mim talvez, já tu, é outra história”, respondeu fixando o olhar na tela de projecção enquanto esboçava um expressivo gesto de contentamento. Fingi ignorá-la e imitei o seu recém-descoberto interesse pelo vídeo. Estava na parte em que explicava o processo da separação do fóssil da placa de xisto. Lembro-me bem daquela tarde. Cansados e cheios de pó após um longo dia de trabalho, acabámos por dar um mergulho numa das várias cataratas da Serra da Freita. Uma tarde diferente. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Passava pouco do meio-dia quando nos despedimos da turma. Almoçámos no centro, um pequeno restaurante com esplanada perto do convento. “Temos que aproveitar estes últimos dias de calor”, foi a desculpa que ela usou para me convencer a almoçar ali. Talvez um dia tenha que aprender a dizer não, mas hoje não é esse dia. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">A mesma comida, o mesmo atendimento. “Estou a pensar levar umas fatias de pão-de-ló”, disse. “Prefiro o de Ovar”, respondeu. Diferente lugar, mas algumas coisas não mudam. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Chegámos ao centro museológico do Geoparque de Arouca pouco antes das duas da tarde. O resto da equipa já estava à nossa espera. A Sofia é do sul de Aveiro, desde pequena que teve uma forte paixão pela paleontologia. Terminada a licenciatura na Universidade de Lisboa, iniciou agora o doutoramento em parceria com a universidade de Madrid onde nos conhecemos. O estudo dela foca os vestígios paleozóicos do centro de Portugal. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">É curioso como, embora tivéssemos passado grande parte das nossas vidas próximos um do outro, foi necessário ir para outro país de forma a, por fim, nos encontrarmos. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Passei as últimas semanas a ajudá-la com os trabalhos de campo. Já nos verões anteriores fizemos o mesmo em preparação das nossas teses. Daqui a um mês irei para a Lourinhã juntar-me ao Octávio Mateus e a mais um grupo de jovens investigadores. Também fui aceite no mesmo programa doutoral que ela, mas decidi seguir uma linha diferente de estudo. Durante os próximos meses irei assistir à recolha dos fósseis de uma nova espécie de saurópode similar ao Lourinhasaurus. Ela acabará por se juntar a mim, mas não podemos escapar a algumas semanas de separação. Dias como este são, assim, muito importantes. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Separámo-nos do resto do grupo em busca de novas áreas ainda por explorar. Recolhemos algumas amostras promissoras e preparávamo-nos já para regressar quando sugeri que fizéssemos uma pausa. Preparei um pequeno piquenique com alguns dos seus doces preferidos. Aguardámos durante horas, que na verdade não passaram de meros minutos, a fitar as belas paisagens da serra. Uma ligeira brisa acariciava o seu rosto. Com a sua face encostada sobre o meu peito, sentia as fortes batidas do meu coração, sinónimo de uma ligação mais profunda do que alguma vez podia ter imaginado. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Por um instante era como se o próprio tempo tivesse cedido à nossa vontade. O resto do mundo parecia não mais importar enquanto nos perdíamos um no outro. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Não tardou a regressarmos à realidade daquele dia. Regressámos para junto do grupo e continuámos o nosso trabalho. Ao fim do dia jantámos todos juntos novamente no centro da cidade. O mesmo jantar, pessoas diferentes. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Levei-a até casa. Pelo caminho mergulhámos num profundo oceano de milhares de conversas, todas elas a esconder simples palavras que ambos reconhecíamos no olhar um do outro. Ao despedir-me dela, fiquei para trás a observá-la enquanto se dirigia para a sua porta. Ela olhou para trás e sorriu. Senti uma forte necessidade de lhe dizer o que sentia, mas mesmo que as palavras ficassem por ser ditas, ela era capaz de as ler naquele simples gesto. Assim como eu as li no seu último relance antes de entrar. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Não era uma despedida. Amanhã voltaria a vê-la. Amanhã. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Regressei a casa. A mesma estrada, o mesmo carro, a mesma rotina. Deitei-me. A mesma noite, a mesma cama, um dia diferente, um pensamento diferente. Deixei-me adormecer, envolto na felicidade daquele dia, foi para ela o meu último pensamento. Mal podia esperar para acordar, para a ver, para voltar àquele lugar. Mal podia esperar para ver este sonho concretizado. Mal podia esperar. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">O mesmo eu, um dia diferente, um mundo diferente, uma escolha diferente. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">São simples os momentos que nos definem. Podem surgir por entre as linhas de um bom livro, na equação dos acordes de uma boa música, ou nas palavras de uma pessoa querida. Para mim foi um telefonema, dois minutos de conversa e um comum formulário. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Hoje, não é um dia diferente.
</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: x-small;">Publicado em 30 de Setembro de 2014</span></div>
Adriano Cerqueirahttp://www.blogger.com/profile/00670753686506013158noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3377594744363486538.post-74303800919493770682010-08-20T18:30:00.000+01:002015-10-08T16:27:32.410+01:00Infinito<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Estou muito perto de casa, mas tão longe de ti”. Faltava pouco para o anoitecer, apenas o suave e contínuo ressoar das ondas do mar perturbava o silêncio daquela tarde. O cinzento das nuvens ameaçava chover e, apesar do tardar da hora, o sol não tinha ainda iniciado a sua descida até ao mais profundo dos horizontes. Miguel fitava o infinito, a sua face coberta por um vazio de expressão. Na sua mão um papel, branco, acariciado por uma ligeira brisa que teimosamente o tentava libertar do gentil aperto que ali o mantinha. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Um simples papel é inútil até que alguém escreva nele”, pensava. Miguel procurou no bolso do seu casaco, lá aguardava uma caneta que há muito ansiava por usar. “Qualquer amor é inútil se ambos não estiverem dispostos a arriscar”, escreveu. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Ontem estivemos próximos um do outro, podia sentir-te e sabia que estavas ali, mas não conseguia ver-te. Embora os nossos olhos nunca se tenham cruzado, hoje sei que também me sentiste. Pode apenas um dia, um simples momento, uma mera palavra, definir a nossa história?” Miguel escrevia, procurava nas suas palavras uma resposta a algo que não lhe cabia perguntar. Enquanto os seus dedos guiavam a caneta ao longo do papel, na sua mente permanecia apenas uma recordação. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“É tarde, não devo estar aqui”, dizia Sara, dirigindo-se mais para si própria do que para ele. Era uma noite como qualquer outra, após um longo dia juntos, encontravam-se agora sentados nas escadas do apartamento de Miguel. Falavam há horas sem nada dizer. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Nem sempre o que devemos fazer é aquilo que temos de fazer”, respondeu ele. Sara esboçou um ligeiro sorriso enquanto os seus olhos calmamente se desviavam à procura dos de Miguel. Ele respondeu de igual forma, mas o seu sorriso rapidamente deu lugar a uma face de preocupação, na expectativa da conversa que se iria seguir. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Porque não pode isto ser mais simples?”, perguntou. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Por mais que eu queira… Por mais que queiramos que seja, simplesmente, não o é”, respondeu Sara sem um mero sinal de hesitação. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Eu quero dizer-to, e ouvir-te a dizê-lo”. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Eu também.” </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Parece-me bastante simples”, por um momento a voz de Miguel ameaçou falhar, enquanto os seus olhos se fixavam nos dela. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Aproximaram os seus lábios em antecipação do momento que ambos desejavam. Horas podiam ter passado enquanto os dois se deixavam afundar na ilusão de um amor impossível. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
De regresso à fria realidade daquela noite, Miguel e Sara trocavam olhares como se estivessem envoltos numa longa conversa sem palavras. Para alguém que por ali passasse seria tão fácil identificar o diálogo inexistente entre estes dois, que não estranharia a falta de qualquer tipo de som. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Mas por mais que algumas coisas sejam, desde logo, entendidas por ambos, é necessário dizê-las com algo mais que um olhar. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Não podemos continuar assim”, disse Sara quebrando o silêncio. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Qualquer outra alternativa… É algo que eu não quero”, respondeu Miguel. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Mas não estaremos os dois a enganar-nos com promessas vãs de algo que não pode acontecer?” </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Porque não pode acontecer?” </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Sara suspirou, desviando o olhar para as suas mãos em busca das palavras que podiam tornar aquele momento menos doloroso. Não as encontrou. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Porque apenas vivemos de momentos. Dias, horas, meros instantes que ocupam uma percentagem ínfima das nossas vidas”. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Isso não é uma resposta, muito menos uma razão.” </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Amanhã não estaremos juntos, regressamos às nossas vidas, a realidades onde não existimos”. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Tu existes na minha realidade, e eu na tua. Estamos juntos, aqui e agora, e amanhã podemos voltar a estar. De que vale deixarmo-nos definir por barreiras auto-impostas que apenas nos impedem de viver aquilo que mais desejamos?” </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Mas isto é tudo tão irreal… Tão platónico”, ela soluçou, reduzindo a sua voz a um mero suspiro. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Como pode algo tão intenso ser apenas platónico? Como pode algo tão real não passar de uma mera ilusão?” </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Não sei, simplesmente, é”. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Sara continuava concentrada nas suas mãos, como se nelas guardasse a resposta. Embora algo dormente pela frieza das últimas palavras, Miguel prosseguiu com a discussão. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Sara…”, dizer o nome dela sempre foi tarefa difícil, pois cada sílaba, cada letra, formava mais do que uma mera palavra, dizer o seu nome, dizê-lo ali, era, para Miguel, quase como dizer “amo-te” pela primeira vez. “Nós somos tão reais como tu, como eu, como estes degraus, como a noite que nos envolve, e por mais ilusórios que sejam os nossos desejos, são parte daquilo que nós somos”. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Suavemente colocou a sua mão sobre a dela, e encostou-a ao seu peito. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Cada batida do coração de Miguel era como um impulso que puxava para fora as palavras, a verdade que há muito reservava no interior do seu próprio coração. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Antes que Sara o pudesse dizer, antes que deixasse escapar aquilo que outras promessas a impediam de proferir, Miguel beijou-a. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Unidos, inseparáveis pelo mais intenso dos abraços, eram agora um só, partes iguais de um todo que não mais queriam ver desfeito. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Por mais perfeito que um momento seja, por mais que o desejo de ambos o prolongue, tudo tem o seu fim. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Sara agarrou com força o casaco de Miguel, e encostou a sua face ao seu peito. Embaraçada por esta falha para com as suas obrigações, deixou-se envolver por uma raiva incontrolável, largou-o e levantou-se, virando-lhe as costas. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Miguel já esperava esta reacção. Aguardou um pouco antes de a tentar acalmar. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Não podemos continuar assim. Não posso continuar a fazer isto, não posso”, disse ela. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Sem hesitação, ele repostou: “Sim, amanhã tens que regressar à ilusão que preferes, em vez desta realidade”. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Dizes isso com tamanha facilidade, falas em ligações, em destinos, em verdade. A verdade é que não me conheces, nem eu a ti”, respondeu Sara. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Eu conheço-te, e tu a mim.” </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Dizes conhecer-me, mas não sabes as coisas mais simples sobre mim”, ripostou em tom de desafio. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Posso não saber qual a tua bebida preferida, como tomas o teu café, posso não saber o nome do teu perfume, mas conheço-te de uma forma bem mais profunda. Sei que há dois lados em ti e que são ambos excelentes. O teu lado selvagem que usas como máscara para o resto do mundo, onde guardas os teus desejos, a tua vontade por uma vida intensa sob a égide do carpe diem, e o teu lado moderado que reserva uma rapariga doce e ao mesmo tempo pragmática, que acredita no amor mas com medo de se entregar a sério a alguém. Sei do teu passado, do lado escuro onde temes um dia regressar. Em verdade, és para mim um livro que tanto encontro aberto como fechado, guardas em ti os teus, os nossos segredos, e partilhas cada um sem o mínimo arrependimento.” </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Conheço-te Sara, e amo cada pormenor que faz de ti a mulher que hoje vejo à minha frente.” </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Abalada pela sinceridade de Miguel, Sara teve que recorrer ao máximo das suas forças para conter o desejo de correr para os seus braços. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Disseste-o”, finalmente, disse. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Ainda a recuperar o fôlego após esta confissão, Miguel respondeu simplesmente: “Sim.” </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Nem ele podia adivinhar o que ia acontecer a seguir. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Sara fixou o seu olhar no dele, por uma última vez. Naquele momento, cientes do que tinham para dizer, falaram sem uma única palavra. Sara voltou-se, e desapareceu na escuridão da noite. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Miguel ainda demorou alguns minutos até se aperceber que estava agora sozinho em frente ao seu apartamento. Os degraus onde ainda há pouco ambos se tinham sentado a partilhar os pormenores mais íntimos dos seus corações, estavam agora tão vazios como aquela gélida noite primaveril. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
A folha em que Miguel escrevia não era suficiente para tudo aquilo que ele tinha para dizer, mas por agora teria que servir. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Letra após letra, palavra após palavra, Miguel depressa chegou à última linha do papel que guardava entre os dedos. Embora para ele todo aquele processo tivesse demorado apenas breves instantes, foram na verdade horas que separaram a primeira da última palavra daquele texto tão precocemente criado. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Leu-o uma, duas, vezes suficientes até lhes perder a conta. O sol ainda se punha no horizonte, a noite timidamente relutante em tomar conta dos céus, quando Miguel guardou o papel e a caneta no bolso do casaco. Ali se manteve por mais alguns minutos, quieto, vazio de pensamento, a fitar o infinito. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Ao levantar-se para regressar a casa, reparou numa ténue figura ao longe na entrada da praia. Estaria ali a fitá-lo há horas, pensou. Talvez tivesse apenas agora chegado e com a curiosidade típica de qualquer um, estranhado a presença de alguém tão afastado do resto do mundo, numa hora como esta. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Miguel começou a andar. A figura mantinha-se estática como que presa aos seus movimentos. Quando finalmente a alcançou, fitou-a de igual modo, e não a reconheceu, passou ao lado, determinado a partir quando a voz daquela figura o deteve. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Ontem não te vi, mas sabia que estavas lá.” </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Ele permaneceu parado. Ambos de costas um para o outro com o olhar fixo no horizonte. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Na outra noite, estava errada, pois tu conheces-me, e eu a ti.” </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Miguel serrou as mãos impedindo-se, a custo, de revelar qualquer emoção. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Tu também tens dois lados, que ambos adoro. O teu lado desinteressado que vê a vida como uma contínua rotina de coisas desnecessárias, animada por esporádicos momentos como aqueles que partilhamos. O lado que não tem medo de arriscar tudo por aquilo que acreditas como sendo verdade. E o teu lado emocional, que se reserva por detrás de um receio de te entregares e saíres magoado, mas que ao mesmo tempo alimenta uma forte crença no amor, num amor capaz de destroçar qualquer barreira por mais irracional que tal tarefa aparente ser. Ambos partilhamos o lado escuro, com origens diferentes, é certo, mas onde a luz igualmente não brilha. Temes cair nesse poço tanto ou mais como eu. Somos diferentes e ao mesmo tempo iguais. Conheço-te Miguel, e é por tudo isto, por ti, por nós, que eu também te amo.” </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Sem saberem ao certo como ali chegaram, tão depressa estavam separados como agora se encontravam unidos em mais um abraço profundo. Enquanto lágrimas de alegria escorrem pelos olhos de ambos, Miguel e Sara trocam um sorriso que dá por terminada a longa tempestade que os assombrou nos últimos tempos. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Como que à espera deste encontro, o Sol surge finalmente por entre as nuvens, pintando de laranja o céu tardio. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Abençoados por esta surpresa divina, perdem um momento a contemplar o reluzir do mar sob a luz do final de tarde. Miguel limpa as lágrimas da face de Sara e beija-a. O primeiro beijo do resto das suas vidas. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
E o texto que Miguel guardava no bolso do casaco? Larga-o agora, livre na brisa vespertina. Palavras soltas ao vento, com destino incerto, para sempre ilustradas no eterno amor que ambos agora partilham. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: right;">
<span style="font-size: x-small;">Publicado em 29 de Agosto de 2013</span></div>
Adriano Cerqueirahttp://www.blogger.com/profile/00670753686506013158noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3377594744363486538.post-6815862281377339612010-02-27T18:30:00.000+00:002015-10-08T16:29:46.708+01:00Numa tarde<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Três da tarde. “Dizem que a cor do mar não é a mesma em todo o lado, de facto, tudo neste dia é diferente”. O sol raiava por entre as nuvens de um dos últimos céus de Inverno que Março ainda tinha para oferecer. Miguel aguardava pensativo numa modesta esplanada à beira-rio. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Este lugar não guardava nada de extraordinário para qualquer simples viajante que por ali passasse. Embora a vista para o estuário, e a sua consequente ligação ao mar, motivassem uma breve contemplação sobre o sentido da nossa própria existência, quando comparada com a imensidão do horizonte, nada diferenciava este lugar de tantos outros espalhados ao longo das margens. Talvez assim fosse para qualquer simples viajante, mas não para Miguel. Na verdade, há já vários anos que ele sonhava com este lugar. Com este momento.</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Deseja alguma coisa?” A interrupção do empregado retira Miguel das profundezas dos seus pensamentos, e força-o a emergir na realidade do momento. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Não, obrigado. Estou à espera de alguém”, responde. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Muito bem”, o empregado volta as costas à sua mesa e já regressava para o interior da esplanada quando ouve Miguel a chamá-lo. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Desculpe, ouvi dizer que os vossos pastéis de nata são dos melhores da zona, sempre é verdade?” </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Imagino que todos os cafés se gabem do mesmo, mas posso garantir-lhe que os nossos são cinco estrelas. Quer que lhe traga um para provar?” </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Não, prefiro aguardar. Acarta com as responsabilidades se o que me disse acabar por não ser verdade?” </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Perplexo com a pergunta, o empregado esboça um sorriso. “Com todo o gosto. Vou certificar-me que lhes são servidos os melhores pastéis de nata que temos hoje”. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Não lhe pedia tanto, mas obrigado”, Miguel responde com outro sorriso. Ambos despedem-se por agora. O empregado apreçasse a atender um casal que tinha chegado no entretanto à esplanada, enquanto Miguel regressa à sua contemplação do infinito horizonte. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Prestes a reimergir no interior da sua mente, Miguel é interrompido por duas mãos que suavemente acariciam os seus olhos, e lentamente transformam o dia em noite, num instante mais breve que qualquer eclipse. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Não devias perguntar ‘quem é’?” </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Ele sente a face desta nova personagem aproximar-se do seu ouvido. Com um sussurro quase inaudível, responde: “Não.” </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Miguel sorri. A partir desta simples palavra é impossível decifrar a quem pertence a voz que a enunciou. Contudo, ele reconhece-a, não pela voz, mas pelo gesto, pelo cheiro, pelo seu toque, mas, acima de tudo, pela forma como o seu coração acelera na sua presença. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Delicadamente, Miguel retira as mãos dela e, mantendo os olhos fechados, vira-se na sua direcção. “Olá Sara.” Abre os olhos. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Olá”, responde. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Ambos trocam olhares por breves segundos. Segundos que, para cada um, representam a eterna ansiedade pelo momento que ambos desejam que se siga, mas que ambos são forçados a negar. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Queres-te sentar?” Miguel pergunta, pondo fim ao impasse. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Sara afasta os seus negros cabelos num suave movimento de uma indescritível beleza que deixa Miguel incapaz de desviar o olhar, e de contemplar este momento como se o próprio tempo tivesse abrandado, e fixa o seu olhar no horizonte. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Escolheste um bom sítio”, diz. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Ainda bem que gostas. O empregado até se deu ao trabalho de nos guardar os melhores pastéis de nata que eles aqui têm.” </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Sara sorri e volta a observá-lo por instantes. “Então é melhor que o chames, quero ver se são tão bons como dizem”. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Miguel oferece-se para a ajudar a sentar-se, gesto raro nos dias de hoje. O seu cavalheirismo sempre foi algo que Sara apreciou nele, mesmo que, por vezes, lhe dê algum embaraço aceitar tão simples gestos de delicadeza. Mas não hoje, não aqui. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
O empregado pede dois minutos em resposta ao aceno de Miguel. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Desculpa o atraso, não conheço muito bem esta zona”, diz ela. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Não faz mal, sou dotado de uma eterna paciência, principalmente quando aguardo por algo que vale a pena a espera”, responde, expectante pela sua reacção. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Sara sorri-lhe, não um simples sorriso, mas aquele que guarda apenas para ele.</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Já querem pedir?” Regressa o empregado, interrompendo friamente o momento. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Bom, pode trazer os famosos pastéis.” </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Muito bem, e para beber?” </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Dois cafés”, Sara responde. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“É para já”. O empregado afasta-se e regressa pouco tempo depois. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Espero que esteja tudo de agrado.” Sara e Miguel provam os pastéis de nata e perdem-se momentaneamente num êxtase simultâneo de sabores medievais. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Entreolham-se, surpreendidos com a deliciosa simplicidade gastronómica que a combinação da canela com as natas proporciona. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Ambos agradecem ao empregado, e este despede-se com uma expressão de dever cumprido. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Durante alguns minutos, Sara e Miguel não conseguem falar de outra coisa além desta deliciosa surpresa protagonizada por umas simples natas. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Temos que começar a vir cá mais vezes”, diz ela. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Eu gostava”, responde. Um silêncio instala-se entre ambos. Não o típico silêncio de alguém que disse algo de errado, mas o silêncio de duas pessoas que não precisam de palavras para descrever o que ambos pensam. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Miguel suspira e inicia a conversa que os trouxe ali. “Eu não tenho medo.” </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Medo?”, Sara pergunta, confusa perante esta inesperada afirmação. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“De nós. De arriscar”, ele responde com uma certeza sincera presente no seu olhar. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Sara desvia o olhar e contempla o horizonte por breves momentos. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Não é assim tão simples”, responde. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Sara, eu…” Miguel é interrompido pelo suave toque da mão dela na sua. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Sara fixa o seu olhar no dele. Os seus olhos castanhos penetram-no profundamente e atingem-lhe o coração, paralisando-o. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Eu também”, responde com aquele sorriso que guarda apenas para ele. “Tu sabes. Mas não é assim tão simples”. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Miguel liberta-se momentaneamente do feitiço que a profundidade penetrante dos olhos de Sara lhe impõe e esboça um ligeiro “Porquê?” </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Porque não te quero perder. Porque há tantas coisas contra nós. Porque connosco tem que ser perfeito. Porque eu…”</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Porque tu…?” Miguel liberta-se por completo do laço mental em que Sara o mantinha. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Porque eu…”, Sara quer dizê-lo, o seu coração força-a a gritar as palavras que há muito tenta conter, mas a sua voz trai-a no último instante. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Motivada pela frustração do momento, levanta-se e vai-se encostar ao muro que separa o passadiço do rio, fixando o olhar na margem distante. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Lentamente, Miguel vai ao seu encontro e coloca suavemente as suas mãos sob os ombros dela. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Algumas lágrimas escorrem pelo rosto de Sara. Não são lágrimas de dor ou tristeza, mas de pesar por um amor impossível que a ilude sempre que se aproxima dele. Porque não basta desejá-lo, porque não basta amá-lo, porque é que não podemos ser felizes um com o outro como qualquer outro casal? São as questões que passam pela sua mente enquanto o toque de Miguel a atira para um transe de sentimentos e desejos proibidos. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
O sol da tarde reflecte nas suas lágrimas, iluminando o seu rosto com um universo de cores, criando uma imagem digna de qualquer um dos grandes pintores. Fosse ela hoje retratada, sobreviveria ao teste do tempo, imortalizada para sempre na eterna beleza de uma tela, que todas as galerias do mundo desejariam exibir. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Miguel coloca as mãos sob o seu rosto e limpa-lhe as lágrimas. Sara não resiste, os seus olhos fixam-se nos dele, presos na ansiedade de concretização de um desejo, por ambos, há muito procurado. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Ambos fecham lentamente os olhos e deixam que os seus lábios se encontrem. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Uma música suave faz-se ouvir no fundo enquanto ambos se beijam. Embora não possam ter a certeza, ambos sabem que ela é real, e que tanto Miguel como Sara partilham neste momento uma melodia unicamente reservada para o seu amor, que já mais alguém para além deles irá ouvir. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Miguel toma Sara pela mão. Ambos trocam olhares como se se vissem pela primeira vez. De certa forma, estavam a ver-se pela primeira vez. Já não eram Miguel e Sara, eram algo novo. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Começam a andar em direcção ao horizonte sem desviar o olhar um do outro. As suas silhuetas confundem-se uma com a outra, culminando na final representação de um amor ao qual nenhum deles é capaz de resistir. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Neste dia, neste momento, Miguel e Sara deixaram de existir. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Agora somos dois”. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: right;">
<span style="font-size: x-small;">Publicado em 26 de Agosto de 2013</span></div>
Adriano Cerqueirahttp://www.blogger.com/profile/00670753686506013158noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3377594744363486538.post-46129974293223278292009-12-27T18:30:00.000+00:002015-10-08T16:31:43.676+01:00Momentos<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Não me lembro de uma manhã de Novembro tão fria como esta”. Passavam alguns minutos das dez da manhã. Estava sol, mas a temperatura não ia além dos sete graus. Miguel estava na plataforma a olhar para o horizonte, expectante pelo comboio que deve chegar em breve. Ele aguardava por este dia há apenas algumas semanas, mas o tempo não era relevante. Na verdade, Miguel ansiara toda a sua vida pela chegada deste dia.</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
O relógio já se aproximava das onze quando o som familiar de toneladas de metal a ranger nos carris começou a fazer-se ouvir. Embora ele já tivesse presenciado esta agonia sonora inúmeras vezes, hoje soava de forma diferente, como uma suave melodia tocada por um mestre do violino. O comboio rapidamente surgiu na linha do horizonte, e num mero instante já estava a parar à sua frente. Quando as portas se abriram e a multidão de passageiros começou a sair, Miguel sentiu o seu coração acelerar. Era difícil decifrar alguém no meio deste mar de faces desconhecidas. Mas, num breve relance ele vê-a. “Sara”, chama. Ela acena na sua direcção, e ele responde com o mesmo gesto. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Várias pessoas os rodeavam, apressadas na azáfama típica de uma manhã de Novembro, mas naquele momento eram apenas eles os dois, tudo o resto desvanecia num fundo que ambos ignoravam. Naquele cruzar de olhares, Miguel sentiu o seu coração a parar, enquanto se deslocavam em direcção um ao outro, era como se o tempo tivesse abrandado. Quando finalmente se encontraram frente a frente, tudo regressou ao normal. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Olá”, diz ela com o seu belo sorriso. “Olá”, responde, esboçando um sorriso que revela mais do que ele pretendia. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Apesar do frio que se fazia sentir, naquele instante Miguel viu-se envolvido por um calor primaveril, que não se lembra de alguma vez ter sentido. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Vamos?” Ela consente, e descem as escadas para saírem da estação. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Enquanto se deslocam, conversam sobre temas banais que naquele instante parecem ser muito importantes. Ambos perdem-se nas palavras um do outro, e o tempo passa com uma naturalidade inesperada. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Após o almoço, encontram uma modesta esplanada numa pequena rua coberta de calçada. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Pode ser aqui?”, ele pergunta. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Sim, vou lá dentro pedir, o que queres?” </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Nada, eu tenho de ir ali, dás-me cinco minutos?” </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Sim, claro.” Sara responde, estranhando este súbito pedido. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Miguel atravessa a rua e desaparece da sua linha de visão. Sara decide aguardar que ele chegue e procura uma mesa com vista para a cidade. Escolhe uma com um pequeno vaso vazio, sem nenhuma justificação para este se encontrar ali. Uma voz interior dizia-lhe que esta era a mesa certa, embora ela não o soubesse porquê. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Passados cinco minutos, tal como prometido, Miguel aparece. Sara não se apercebe da sua chegada, e apesar de a sua face mostrar surpresa, esta não é provocada pela chegada de Miguel, mas sim por aquilo que ele traz consigo. Um ramo de Amores Perfeitos. Não, Miguel não escolheu estas flores por estas revelarem algum sentido subtil, mas sim por serem as preferidas dela. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Não pude resistir, vi-os na montra no caminho para aqui”, diz. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Lembraste-te… Obrigado.” Sara levanta-se e beija-o levemente na face. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Ela coloca-as no vaso, embora não possa ter a certeza, acredita que, de alguma forma, é ele o responsável pela presença do vaso. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Ambos sorriem enquanto trocam olhares, num momento de silêncio em que não são precisas palavras. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Não tardam a retomar o ritmo da conversa anterior, contudo há algo diferente, ambos o sentem, mas o momento ainda não é o certo. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
À medida que o dia se aproximava do fim, Sara e Miguel sentiam a noite a aproximar-se. Ambos sabiam o que isso significava. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Miguel levou-a a um jardim, o sol já começara a pôr-se. Um corredor de velhas árvores reluzia em tons de dourado, enquanto os últimos raios do sol outonal brilhavam sob os castanhos, laranjas e amarelos das folhas que ocupavam as copas e preenchiam o céu. No chão, a relva verdejante cintilava de vida. Escolheram um pequeno banco mesmo no fim deste corredor onde se sentaram a contemplar o último hino à beleza natural, que o sol deste dia estava disposto a celebrar. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Lindo, não é?” Sara diz. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Miguel, que estava a contemplar o horizonte, vira o olhar para ela e responde: “Sim.” </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Silêncio. Desta vez Sara não sorri, desvia o olhar para as suas mãos e o seu coração acelera, como que banhado por uma torrente de realização. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Miguel, eu…” Mas antes que ela possa dizer algo, ele toma a sua mão direita e acaricia-a levemente. Ela volta a cruzar os seus olhos com os dele. Algo impele-a a falar, mas ele abana ligeiramente a cabeça. Não. Não assim. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
A noite cai sobre o jardim outrora dourado. Está na hora de se despedirem. Ela agarra nas suas flores e aperta-as fortemente contra o seu peito. Ambos atravessam novamente o corredor, agora apenas iluminado pelas luzes dos candeeiros de rua. Lado a lado, apenas os dois. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Chegaram à estação pouco antes da hora de partida. O comboio já aguardava na sua plataforma. Alguns passageiros começavam a embarcar. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Acho que tenho de ir…”, Sara diz, olhando para uma das portas da carruagem. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Miguel aproxima-se dela e envolve-a num abraço profundo. Sara encosta a sua face ao seu peito. O tempo pára, desta vez, na sua totalidade. Naquele momento ambos conseguem sentir o coração um do outro, ambos batem em uníssono, gritando pelas palavras negadas durante todo o dia. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Sara afasta-se ligeiramente do seu abraço e olha-o intensamente. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Miguel, eu…”</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Eu também”, interrompe. Estas duas palavras dispersam qualquer sombra de dúvida que pudesse ainda existir. Apenas uma palavra é capaz de descrever aquilo que sentem um pelo outro, e mesmo ela parece insignificante perante um sentimento tão intenso como aquele que ambos partilham. Amor. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
O comboio apita para a última chamada de embarque, e fá-los regressar friamente à realidade. Sara liberta-se do seu abraço. Enquanto se afastam um do outro, os braços de ambos atravessam-se suavemente, como que tentando impedir que o outro seguisse o seu caminho. Quando os seus dedos se cruzam, sentem pela última vez o calor do seu amor. Sara agarra fortemente o ramo de Amores Perfeitos junto ao seu peito e dirige-se para a porta. Miguel ouve através deste gesto aquilo que ambos quiseram dizer. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Ao subir para a carruagem, ela detém-se por momentos nas escadas e olha-o por uma última vez antes de partir. Sara sorri, aquele sorriso que ela reserva apenas para ele, e Miguel contempla-o por uma última vez. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Ela entra na carruagem. Como se tivesse que compensar pelos momentos em que esteve parado, o tempo acelera e tão depressa como chegou, o comboio desaparece de vista. Miguel permanece no mesmo lugar a fitar o horizonte, como tinha feito hoje de manhã. Foram apenas algumas horas, mas para ele foi como se uma vida inteira tivesse passado, nos breves momentos que Sara partilhou com ele. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: right;">
<span style="font-size: x-small;">Publicado em 21 de Agosto de 2013</span></div>
Adriano Cerqueirahttp://www.blogger.com/profile/00670753686506013158noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3377594744363486538.post-19554532784113790562009-11-15T18:30:00.000+00:002015-10-08T16:20:29.780+01:00XIX<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Guardo em mim, segredos,</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Revelados sob o teu olhar, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Certezas de um significado, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Impossível de aceitar. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Palavras indiscretas, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Sem um fundo de verdade. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Mesmo em mentes abertas, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Soam como erradas consequências, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Sem sentido, nem idade. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Guardo em mim, segredos, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Proibidos entre nós, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Caminhos já confirmados, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Por uma distância atroz. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Calo em mim, vozes, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Repetidas em protesto. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Impedidas de ouvir, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Sentimentos certos. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Guardamos nós, segredos, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Entre dias, horas, momentos, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Silêncios eternos daquilo que escondemos: </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Duas palavras, um segredo, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Uma incerta constante, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Deste ténue caminho, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Assim, por nós escolhido. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Guardo em mim, segredos, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Por ti, já revelados. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Guardamos nós, incertezas, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Improváveis de se desvendar. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Se apenas sob o teu olhar, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Guardamos nós, assim, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Um momento, um dia, uma hora, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Que ainda está por passar. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Guardamos nós, segredos. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: right;">
<span style="font-size: x-small;">Publicado em 4 de Setembro de 2013</span></div>
Adriano Cerqueirahttp://www.blogger.com/profile/00670753686506013158noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3377594744363486538.post-91386322771348777112009-05-22T18:30:00.000+01:002015-10-08T16:33:47.987+01:00Na Esquina de Uma Vida<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Chamem-me o nome que acharem que encaixa melhor na imagem que têm de mim, seja ela qual for, é tudo, menos quem eu sou.</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
O giz tocava o quadro deixando o típico rastro de linhas brancas que, há distância, formavam alguma equação, alguma frase, no fundo, meros elementos de um todo, reconhecível apenas por aqueles capazes de decifrar o código criado pela personagem que tomava o posto de liderança na frente da sala.</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Quarta carteira a contar da direita, do lado da janela. Sim, sou eu o tipo a olhar para lá da janela, só, numa sala com vinte pessoas, a pensar num lugar distante, num mundo diferente. Sinto um ligeiro toque no braço, é o Tiago a avisar-me que a professora me está a chamar.</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Está bom tempo lá fora, não está?” O sarcasmo natural de uma das raras pessoas pelas quais nutro um certo respeito mútuo, e com a qual sinto-me à vontade para responder de igual modo.</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Não sei, acho que tenho de ir averiguar se está tão bom como parece”, mal as palavras saíram da minha boca, questionei-me sobre a extraordinária naturalidade com que elas surgiram. Como consigo ser tão eloquente em momentos como este, e um completo pateta em situações importantes? Ainda hoje não encontrei resposta para essa pergunta.</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Concentra-te no que se está a passar deste lado, já falta pouco para o descobrires”, disse, entre o seu já habitual sorriso e olhar sério de alguém que encara o seu emprego não como um ofício, mas como uma vocação.</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Voltei a minha atenção para o centro da sala, mas os meus pensamentos não tardaram a desviar-se da matéria, fosse ela qual fosse, que estava em foco naquele momento. Não, bastou por os olhos nela, sentada na primeira fila, mesmo no centro, do lado esquerdo da sua carteira. Na verdade, o meu olhar já tinha caído sobre ela mal me dirigi para a professora e a vi a olhar na minha direcção. Libertei um triste, inaudível suspiro e concentrei-me em escrever algo no meu caderno, enquanto resistia à estranha tentação de empilhar caixas de minas uma em cima das outras.</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Olhei para o meu pulso, maldito hábito que ao fim de tanto tempo ainda não consegui perder. Há já uns tempos tinha deixado o meu velho Casio amarelo guardado nalguma gaveta de minha casa. Ainda experimentei trocá-lo por um Swatch branco, mas logo no primeiro dia que o usei, a corrente arrebentou-se e com ela a minha vontade de controlar o tempo, ou de ser controlado por ele. Mas talvez algum sentido de identificação temporal ainda permanecesse vivo dentro de mim, um resquício primitivo de tempos há muito perdidos, pois mal repus a manga na sua devida posição, o toque surgiu. O seu eco ao atravessar pelas paredes do velho liceu, despertava uma autêntica romaria de cadeiras a arrastarem-se, portas a abrirem-se, e pessoas a falar.</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Finalmente fim-de-semana”, disse para o Tiago.</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Já não era sem tempo! Vou ver o Sporting a Aveiro, queres vir?”</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Era uma boa ideia, logo combinamos melhor”, toquei-lhe ligeiramente no ombro e dirigi-me na direcção dela.</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Vamos?” Por um momento perdi-me no seu olhar e esqueci tudo o que me rodeava.</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Sim.” O momento foi curto.</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Pelos estreitos corredores, agora cheios de alunos apressados e desejosos de ir para casa saborear a doce liberdade do fim-de-semana, outras pessoas se juntaram a nós. Outro Tiago, o Acosta, o Policarpo, a Verónica e a Inês. Concentrámo-nos em frente ao portão da saída à espera daqueles que se atrasaram na conversa com outras pessoas. Uma vez juntos, e feitas as despedidas àqueles que daquele ponto para a frente não mais nos acompanhavam, seguimos caminho pela velha estrada de empedrado que nos levava até ao nosso destino, por entre ruas quase desertas.</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
O caminho era relativamente curto, num dia normal demorava 10 minutos a percorrê-lo, mas eu sabia que nunca chegaria a casa em menos de uma hora. A Inês era a primeira a deixar-nos, depois o Tiago, o Acosta, e finalmente o Policarpo e a Verónica acompanhavam-nos até à eterna intercepção, que, como uma verdadeira <i>literalidade</i> metafórica, separava o meu caminho do dela.</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Geralmente ambos acompanhavam-nos em longas conversas triviais que chegavam a durar até à hora de jantar, mas que ali nos mantinham presos às palavras e experiências de cada um. Mas hoje seria diferente, por um motivo ou outro, tanto o Policarpo como a Verónica nos deixaram a sós, e seguiram os seus caminhos de regresso a casa. Ele pegou na sua bicicleta e rapidamente desapareceu no horizonte em direcção aos prédios para lá da linha de comboio. Ela apanhou a velhinha Feirense em direcção a São Vicente. Só restámos nós os dois.</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Muitas eram as palavras que pairavam sobre o ar, muitas eram as conversas que ambos desejávamos e que ao mesmo tempo esperávamos nunca vir a ter.</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Segurava o velho sinal de Stop que marcava o lugar do nosso encontro. Aqui éramos apenas nós, e nada mais. Eu sabia que podíamos perder horas ali a falar sobre qualquer assunto, era esse o poder da nossa amizade. Pois, infelizmente, era esse o único sentimento que ela via em mim.</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Enquanto ela falava, apesar de a ouvir com a máxima atenção possível de se exigir a qualquer ser humano, absorvendo cada uma das suas palavras, perdia-me na observação dos seus gestos, dos seus profundos olhos castanhos, das leves ondas do seu cabelo, do seu querido nariz, e dos sentidos movimentos dos seus lábios.</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
O meu único desejo era pegar-lhe pela mão e dizer-lhe, ali, tudo aquilo que eu sentia, tudo aquilo que eu queria para nós. Dizer-lhe que a amava, que ela era o único motivo que me fazia levantar todas as manhãs, que ao vê-la sentia o meu coração a bater como se despertasse de um longo sono dormente, que ela era tudo, que só por ela valia a pena entregar todo o meu ser.</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Bom, tenho de ir ajudar a minha mãe a fazer o jantar.” Com esta frase a realidade fez regressar os meus pensamentos ao aqui e agora que não estava a prestar atenção.</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Já?” Nada mais me ocorreu.</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Tem que ser…”</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Oh. Até segunda, então?”</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Sim, até segunda”, respondeu com o seu típico sorriso que me deixava incapaz de reagir de qualquer maneira para além de simplesmente o retribuir, deixando-me perder nos seus olhos.</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Ela preparava-se para atravessar quando as palavras saíram sem qualquer aviso.</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Espera”, disse.</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Sim?”</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Contive-me, incapaz de forçar a honestidade de sentimentos que há muito guardo só para mim, embora no fundo sempre soubesse que ela já se tinha apercebido deles.</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Tem um bom fim-de-semana”, respondi.</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Tu também.” E com um último sorriso atravessou para o outro lado.</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Fiquei a vê-la ir-se embora até a sua sombra se perder por entre as casas da velha rua de S. Miguel. “Um dia…”, disse a mim próprio, como sempre o fazia.</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Continuei pelo rio da minha vida, cujo destino daquele dia desaguava às portas de minha casa. Hoje, continuamos a seguir caminhos distintos, próximos um do outro, mas mais distantes do que alguma vez conseguiria imaginar.</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: right;">
<span style="font-size: x-small;">Publicado online em 22 de Maio de 2009</span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: right;">
<span style="font-size: x-small;">Publicado na Revista <i>9paginas </i>em Outubro de 2009
</span><br />
<span style="font-size: x-small;">Reeditado em 18 de Agosto de 2013</span></div>
Adriano Cerqueirahttp://www.blogger.com/profile/00670753686506013158noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3377594744363486538.post-15033010857127476142009-03-21T18:30:00.000+00:002015-10-08T16:26:54.708+01:00XVIII<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Letras, palavras,</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Elementos de um todo, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
De infinitos sentidos, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Libertos de penosos destinos. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Fados de sentimentos, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Líricas de dor, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Fingimentos de realidades, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
De tão desejadas, a nunca vividas. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
O lirismo, o poder do verso, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Da palavra, do lápis, do papel. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
A métrica, a harmonia, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Tão diferente da prosa, mas tão interligada... </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Parágrafos, frases, linhas, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Elementos verticais. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Presos sobre a horizontalidade, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Da sua própria existência. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Dom do canto, da expressão, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
do romance, dos sentimentos. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Versos soltos de uma vida, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
de um todo, de um mundo. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Nada é mais fácil, que a existência de um poeta. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Que o exprimir das reacções que orientam o seu dia. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Nada é tão simples, nada é tão difícil. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Vertical, horizontal, isto não é poesia. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Isto é nada, e é tudo. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Poesia é vida, é a lírica do ser, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Poesia é viva, é o pulsar do saber, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Isto não é poesia. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: right;">
<span style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: right;">
<span style="font-size: x-small;">Publicado em 1 de Setembro de 2013</span></div>
Adriano Cerqueirahttp://www.blogger.com/profile/00670753686506013158noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3377594744363486538.post-5217453328275010732009-03-08T18:31:00.000+00:002015-10-08T16:16:41.155+01:00Carnaval Sénior: A festa na “flor da idade”<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwlUuhJpGhussYQCu-MEtr0M28pQY7baJttE-2jw_9DRsJYUMR7eeXg_dMpcwzaVCkY0Lz54sgO1Uk0mADTPsfBPZIiqTuHRRhmpL_VmVJhwnf0KS-Q4mqRoCv255cP-6TC_dSZFDViZt0/s1600/DSC04455.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwlUuhJpGhussYQCu-MEtr0M28pQY7baJttE-2jw_9DRsJYUMR7eeXg_dMpcwzaVCkY0Lz54sgO1Uk0mADTPsfBPZIiqTuHRRhmpL_VmVJhwnf0KS-Q4mqRoCv255cP-6TC_dSZFDViZt0/s400/DSC04455.JPG" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">A festa na "flor da idade", Foto: Adriano Cerqueira</span></td></tr>
</tbody></table>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
O Espaço Tenda encheu-se de tons floridos para acolher os idosos participantes em mais uma edição do Carnaval Sénior.</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
A festa deste ano teve como tema a Primavera e os Jardins Floridos, com os convidados a vestirem-se a preceito. Cada associação representada no Carnaval Sénior trazia o seu próprio traje, de mantos azuis cobertos com flores, aos típicos dominós multicoloridos da Santa Casa da Misericórdia de Ovar, de simples fatos de jardineiro, a um bando de “capuchinhos vermelhos” prontos para “encantar” o baile com a sua folia.</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
A banda em palco tocava clássicos da música portuguesa e brasileira, de forma a aliciar os convidados a bailarem ao som dos ritmos tipicamente carnavalescos. O incentivo ao convívio e à festa foram a principal iniciativa da tarde dedicada àqueles que já viveram mais carnavais que qualquer um de nós. Entre o público encontrava-se José Américo, presidente da Fundação do Carnaval. O folião destaca a importância da acção social desta iniciativa: “O que nós proporcionamos são duas horas de um convívio que acontece uma vez por ano e em que as pessoas aparecem mascaradas. Eu penso que o Carnaval não é só os espectáculos, os concertos, o ritmo frenético e o consumo… Não. Também tem esta parte pedagógica de acção social que eu quero que a fundação tenha sempre”, afirma.</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Para Márcia Sousa, assistente social do Centro Social Cortegacense este evento é “uma forma dos idosos se envolverem em iniciativas, ao mesmo tempo podem desenvolver capacidades e competências, nomeadamente na construção e no desenvolvimento das vestes”. “Penso que isto é positivo para os idosos e para todos os profissionais dos centros aqui participantes”, diz.</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Já Cláudia Reis, Directora Técnica da Santa Casa da Misericórdia de Ovar salienta que “é sempre muito bom para os idosos pois eles gostam muito de sair e de conviver, e principalmente pelo facto de se encontrarem com outros idosos de outras instituições, o que é agradável”. “Os idosos gostam muito do carnaval e gostam muito de viver o carnaval”, confessa.</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Que o diga a Dona Maria Albertina da Santa Casa da Misericórdia de Ovar. Para a foliona o carnaval sénior “é uma coisa extraordinária, de um valor extraordinário.” “Admiro muito por ter estas pessoas convidadas tão bem dispostas e tão alegres”, acrescenta. Já a Sra. Adelaide Faria confessa que “era para não vir, mas resolvi vir, já no ano passado cá vim e gostei imenso”. A Dona Fernanda, do Centro Social Cortegacense afirmou ainda ter gostado “muito da festa, é bonito para passarmos aqui um bom bocado”.</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
O sucesso da iniciativa faz José Américo olhar com bons olhos para a continuidade do Carnaval Sénior. “Esta é uma festa que logo após a primeira realização chegámos à conclusão que valia a pena. Se já conseguimos conciliar dignidade, com diversão, divertimento e convívio, temos a fórmula correcta de dizer: Vamos continuar!”, confessa.</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Esta iniciativa, semelhante à das crianças, é um grande símbolo do carnaval, se calhar mais importante no seu significado que os verdadeiros corsos”, salienta o Presidente da Fundação.</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
A festa teve ainda como convidados especiais el-Rey Artur Almeida e a Rainha Dona Augusta, a Divertida. Os dois membros da monarquia vareira de 2009 passearam-se por entre o público e juntaram-se à festa, animando a tarde destes veteranos foliões.</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Manuel Oliveira, Presidente da Câmara Municipal, também não deixou de marcar presença, subindo ao palco perto do fim das festividades “O Carnaval não tem idade, o carnaval é de todos nós, é uma festa da alegria” foi a mensagem principal do discurso do Presidente. Manuel Oliveira teve ainda tempo para falar do seu encontro com a Rainha: “No tempo da Monarquia era habitual os súbditos beijarem a mão à Rainha, mas hoje ela disse-me isto: "Quem lhes beijou a mão fui eu." E disse-me porquê. Porque pessoas que tanto trabalharam e que tanto têm dado de si, merecem que lhes prestemos homenagem”.</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Este ano o Carnaval Sénior contou com a participação das seguintes instituições: Centro Comunitário de Esmoriz; Centro de Assistência Social de Esmoriz; Centro Social Cortegacense; Centro Social de Paramos; Centro Social e Paroquial da Arrifana; Centro Social de S. Félix da Marinha; Centro Social de S. Pedro de Maceda; Grupo de Acção Social de S. Vicente de Pereira; Lar Santa Maria de Válega; Santa Casa da Misericórdia de Arouca; Santa Casa da Misericórdia de Castelo de Paiva; Santa Casa da Misericórdia de Espinho, e a Santa Casa da Misericórdia de Ovar.</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Foi com um ambiente de alegria e divertimento, numa tenda enfeitada com balões coloridos e figuras carnavalescas alusivas à primavera, que terminou mais uma edição do Carnaval Sénior.</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Ver também: <a href="http://aflockofbluedoves.blogspot.pt/2013/09/fotogaleria-festa-dos-idosos-da-cor-ao.html"><i>Fotogaleria: Festa dos Idosos dá cor ao Carnaval Vareiro</i></a></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: right;">
<span style="font-size: x-small;">Notícia publicada no Jornal <i>Praça Pública</i></span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: right;">
<span style="font-size: x-small;">Publicado em 10 de Setembro de 2013</span></div>
Adriano Cerqueirahttp://www.blogger.com/profile/00670753686506013158noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3377594744363486538.post-24151795411207841232009-03-08T18:30:00.000+00:002016-03-26T20:55:19.446+00:00Fotogaleria: Festa dos Idosos dá cor ao Carnaval Vareiro<div style="text-align: center;">
<iframe frameborder="0" height="400" scrolling="no" src="http://www.quickgallery.com/embed/4/l/fm28kcrksgwg8s8k0soogkk/49758.html" width="550"></iframe></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: right;">
<span style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: right;">
<span style="font-size: x-small;">Publicado em 10 de Setembro de 2013</span></div>
Adriano Cerqueirahttp://www.blogger.com/profile/00670753686506013158noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3377594744363486538.post-79660830559899950332009-02-22T18:30:00.000+00:002015-10-08T16:28:54.382+01:00XVII<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Não me apraz ir a lugar nenhum,</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Pois em lugar nenhum te encontras. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
As regras que assim me prendem, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Estabelecidas por ti, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Forçam a minha ausência, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Do único destino que desejo seguir. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Palavras que as guardo em diários por escrever, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Carregadas de sentenças que o tempo transforma em interrogações, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Ocupam-me os pensamentos de meios-dias perdidos. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Esquecidos no tédio do volver das horas, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Interminável, como o teu legado. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Encontro-me por ora exausto, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Cansado como quem desperta de uma longa existência dormente, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
De mente estafada, governada pelo conflito. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Ansiedade, e receio, por aquilo que aguarda. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
O malogrado momento, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Daquele que não desejo que seja mais um triste fado, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Do contínuo caminho cinzento, de indústria desinspirada. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Aguardo por um veredicto, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Como réu inocente, incapaz de fugir à culpa da acusação. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Os meus quereres, os meus desejos, as minhas vontades, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
De nada valem nesta hora dispensável, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Pois de nada vale ponderar na alternativa, quando a decisão já há muito foi tomada. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Aguardo na ignorância, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
não é ela, a felicidade? </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Ignorância, auto imposta, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
dos lugares comuns que a experiência fornece. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Apesar disso; ignorância, apenas e só. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Desejo ver-te, desejo falar-te, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Desejo encontrar-te, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Enfim, desejo-te. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Mas pensar além das fantasias do inconsciente, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
destrói-me pela ciência de tudo o que é real. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Que posso fazer, se não aguardar. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Aguardar o regresso das tuas palavras, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
O reencontro das tuas feições. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Seja qual for o ditado final, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
A réstia da esperança deste ser exausto, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Descansa apenas na espera do acordo... </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Não. Da promessa, arquivada num tempo e num lugar, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Que embora reviva a cada momento, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Não desejo recordar. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Não me apraz ir a lugar algum, </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
Pois em lugar algum te encontro. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: right;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: right;">
<span style="font-size: x-small;">Publicado em 27 de Agosto de 2013</span></div>
Adriano Cerqueirahttp://www.blogger.com/profile/00670753686506013158noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3377594744363486538.post-4823199888440254792009-02-15T18:30:00.001+00:002015-10-08T16:26:17.537+01:00Alexandre Rosas: “A fome que tenho, às vezes até exagerada, é sem dúvida de uma dedicação total ao Carnaval”<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh6iOyCjHg99bBcHjwwTfUzaBlre9jj1vN3Ba3nNVRyyh78zkH8LVR90MWIlVkZr5fKtz-OdUHeFtbpS8hC27ICdLNiI1iQWNpkqnbidpM9VY2jppgXFfuqeV58uWvfK1fTgfK39UvPk1p8/s1600/cartaz2009.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh6iOyCjHg99bBcHjwwTfUzaBlre9jj1vN3Ba3nNVRyyh78zkH8LVR90MWIlVkZr5fKtz-OdUHeFtbpS8hC27ICdLNiI1iQWNpkqnbidpM9VY2jppgXFfuqeV58uWvfK1fTgfK39UvPk1p8/s400/cartaz2009.jpg" width="285" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Cartaz Carnaval de Ovar 2009, por Alexandre Rosas</span></td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: verdana; font-weight: bold;">Cinco vezes vencedor
do concurso do cartaz de Carnaval de Ovar, Alexandre Rosas confessa ao
Praça Pública os segredos por detrás deste sucesso. Como pano de fundo a
oficina onde são criados os cartazes do vencedor da Vitamina da Alegria
de 2009, o designer mostrou ser um verdadeiro aficionado do Carnaval
Vareiro.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<blockquote>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: verdana;">A primeira vez [que venci a competição do Cartaz de Carnaval] vale um mundo! Pode-se dizer que era um sonho de criança.</span></div>
</blockquote>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="font-family: verdana; font-weight: bold;">Praça Pública: Foi o vencedor do concurso do cartaz de Carnaval deste ano. O que o inspirou na criação do cartaz?</span><br />
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: verdana;"><span style="font-weight: bold;">Alexandre Rosas: </span>É
complicado falar em Carnaval. É sempre um palhaço ou uma ilustração, e
este ano tentei pensar em alguma coisa que de facto mostre o nosso
carnaval. Este ano optei pela noite mágica, um evento que a fundação do
Carnaval está a apostar bastante e portanto foi por aí que comecei o meu
trabalho. A noite mágica significa exactamente aquilo que eu tento
transmitir no cartaz. A diversidade das pessoas e dos vestimentos, desde
o mais elaborado ao mais prático. Da pessoa que faz a sua máscara e que
se fantasia de um animal ao outro tão simples que pega numa ligadura e
num bocado de tintura e vai como se fosse um ferido. Todas as
personagens que eu represento são uma tentativa de mostrar às pessoas o
que se faz nos bastidores e que é a já famosa, noite mágica.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: verdana; font-weight: bold;">PP: Como é vencer cinco vezes este concurso?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: verdana;"><span style="font-weight: bold;">AR:</span>
[Risos] A primeira vez vale um mundo! Pode-se dizer que era um sonho de
criança. Sempre admirei estas artes e sempre apreciei quem as faz, e os
cartazes em particular, seja de carnaval, seja doutro evento qualquer.
Inicialmente era um sonho que tinha de miúdo e neste momento vencer
cinco vezes já não me diz nada. Diz-me apenas que tenho evoluído em
termos profissionais. Tento ser o mais original possível de forma a
dignificar o Carnaval de Ovar, e a transmitir a melhor mensagem e da
melhor forma. Claro que há o prémio e isso também conta, mas mesmo que
não houvesse concorria na mesma, com a mesma atitude e com a mesma forma
de trabalho. Fico sempre satisfeito se me for dada esta
responsabilidade de divulgar o Carnaval de Ovar.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: verdana; font-weight: bold;">PP: Qual é a reacção que as pessoas costumam ter aos seus cartazes?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: verdana;"><span style="font-weight: bold;">AR:</span>
Este ano, felizmente, tem sido bastante boa. Foi um dos melhores
trabalhos que fiz, ou, pelo menos, que mais tempo dediquei. Foi dos
cartazes que mais elaborei e que mais trabalho me deu. Há sempre a
crítica, e se ela for positiva é sempre bem vinda e é com isso que eu
tenho aprendido. Nestes tais cinco anos em que tenho ganho os cartazes
tem havido uma evolução, em parte, graças à crítica que fazem. Depois há
a crítica destrutiva de quem, enfim, por algum motivo não gosta. Nunca
dei grande importância a isso apenas foquei aquelas que são as críticas
mais importantes, que são construtivas, e aprendi com isso. Já dos
amigos mais próximos, há sempre a satisfação por verem o meu trabalho
ganhador, com o 1.º prémio. Dos colegas de trabalho há um cumprimento,
há um reconhecimento, enfim, é sempre bom. É uma sensação boa saber que o
trabalho é apreciado.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<blockquote>
<span style="font-family: verdana;">Sou uma das pessoas que vive o Carnaval e que defende a tradição e todas as marcas do Carnaval de Ovar.</span></blockquote>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: verdana; font-weight: bold;">PP: Como define o seu estilo em termos de design e dos cartazes que faz?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: verdana;"><span style="font-weight: bold;">AR:</span>
O meu estilo... [risos] É um pouco inato. Eu faço um pouco de tudo,
adapto-me bem ao tipo de trabalho e ao género de trabalho que tenho de
fazer. Sem dúvida nenhuma este trabalho que apresentei este ano é a
minha imagem, é a minha expressão. Talvez me defina através dos bonecos,
com a expressão, com o exagero. Principalmente a expressão, o
movimento. O que tento fazer é de facto não só um cartaz que não passe
de um cartaz, mas um que seja algo que amigos e que os tais críticos já
consigam dizer que reconhecem ser o meu trabalho. Cor, animação,
alegria, esse tal movimento que simboliza o meu trabalho puro. Aquilo
que eu realmente gosto de fazer, aquilo que eu realmente acho que tenho
mais vocação é para este género de ilustração, como a que apresentei
este ano.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: verdana; font-weight: bold;">PP: Acha que os seus cartazes reflectem, de certa forma, a História do Carnaval de Ovar?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: verdana;"><span style="font-weight: bold;">AR:</span>
Eu pessoalmente penso que sim. E esta acaba por pegar em termos que são
sem dúvida os termos principais do Carnaval de Ovar. Devo falar no
cartaz do ano passado, embora por poucos entendido, infelizmente, porque
de certo modo não o associaram à imagem tão antiga do Carnaval que é o
dominó. Eu apresento a noite mágica este ano, apresentei o Rei há 2
anos, nos outros anos houve anos em que apresentei cartazes mais virados
para a música, mas de uma forma geral tento ir aos temas que definem o
Carnaval. Sou uma das pessoas que vive o Carnaval e que defende a
tradição e todas as marcas do Carnaval de Ovar. Se recuarmos há uns anos
atrás, vemos os cartazes de artistas como o José Penicheiro, que faziam
ilustração, e notamos que são poucos os que se vêem com imagem. É claro
que os tempos evoluíram, as técnicas e os desenhos também, e portanto
acho que de facto os meus cartazes focam um pouco do que é a História do
Carnaval.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: verdana; font-weight: bold;">PP: Que futuro podemos esperar dos cartazes do Alexandre Rosas?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: verdana;"><span style="font-weight: bold;">AR:</span>
O meu futuro só Deus sabe. Mas em termos profissionais, continuo a
lutar para alcançar os meus objectivos pessoais que são muito simples:
ter trabalho e dedicar-me àquilo que gosto. Em relação aos cartazes é um
pouco difícil, por que se eu hoje faço uma ilustração, amanhã estou
virado para outra coisa qualquer e apresento uma coisa diferente. Podem
sempre ter cor e alegria, que eu acho que é a base do Carnaval. É
difícil dizer o que vem por aí. é um pouco como a música, como a moda.
Julgo que vou tentar, ano após ano, ser inovador e tentar trazer coisas
novas.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: verdana; font-weight: bold;">PP:
De certa forma está a tornar-se numa figura do Carnaval de Ovar, que
aspectos acha que deve melhorar e que aspectos acha que já estão
estabelecidos?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: verdana;"><span style="font-weight: bold;">AR:</span>
Não sou propriamente uma figura do Carnaval de Ovar, sou alguém que
trabalha muito no Carnaval de Ovar. Não só na participação do cartaz,
este ano também participei no concurso do dominó. Participo no carnaval
activamente como grupo, como elemento da própria fundação no Concelho
Consultivo e portanto sou uma pessoa que dedica muito do seu tempo ao
Carnaval. Gosto das tradições de Ovar, nomeadamente do Carnaval. O
futuro do Carnaval penso que está um pouco difícil por questões
financeiras. Há mais exigência, há mais qualidade, as pessoas já não
abdicam disso mesmo. Há outro tipo de eventos que nos rodeiam, desde
Estarreja a St.ª Maria da Feira, que já têm um grau de qualidade muito
grande e portanto nós não podemos deixar esse comboio. Na nossa arte,
não digo isto por ser de Ovar, mas por aquilo que tenho visto, temos
artistas fantásticos que fazem coisas extraordinárias, e que muitas das
vezes não são apreciados. Acho que deviam valorizar isso mesmo no
sentido de tentar que com menos dinheiro, mas com outros meios,
conseguir-se um futuro risonho para o Carnaval de Ovar. Como elemento do
carnaval sei das dificuldades que temos para poder trabalhar, que cada
vez são mais. Há falta de dinheiro e dificuldades das instalações. Com a
Aldeia do Carnaval existe a possibilidade de darmos um passo
significativo em termos de qualidade, nomeadamente nos carros
alegóricos. As pessoas de Ovar devem fazer do Carnaval a festa da
cidade.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: verdana; font-weight: bold;">PP:
Para terminar, já referiu de certas formas a sua maneira pessoal de
viver o Carnaval. Mas, mais pormenorizadamente, como vive o Carnaval de
Ovar?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: verdana;"><span style="font-weight: bold;"><br />AR:</span>
[Risos] Eu vivo-o até à exaustão com exageros em algumas partes. Abdico
de muita coisa como a família, a esposa, a mãe, o sobrinho e amigos que
não os meus amigos de carnaval, como eu lhes costumo chamar. Abdico de
muitas horas de sono e passo muitas horas a pensar naquilo que existe
para fazer, com o objectivo de representar o Carnaval da melhor forma
possível. O final do Carnaval é dos momentos mais tristes. São dois
meses em que estamos todos os dias juntos, um grupo de pessoas, e onde
se criam laços que depois parece que desatam, que acabam. As pessoas
seguem as suas vidas como faziam antes do Carnaval e, infelizmente,
esses tempos passam e volta tudo ao normal. Mas a fome que tenho, às
vezes até exagerada, é sem dúvida de uma dedicação total ao Carnaval.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: verdana; font-size: x-small;">Entrevista para o Jornal <i>Praça Pública</i> e para a <i>PraçaTV</i> </span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: verdana;"><span style="font-size: x-small;">Publicado em 2 de Setembro de 2013</span></span></div>
Adriano Cerqueirahttp://www.blogger.com/profile/00670753686506013158noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3377594744363486538.post-26034425987092450452009-02-15T18:30:00.000+00:002015-10-08T16:19:55.309+01:00Rei Artur abre o coração aos seus súbditos<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="font-family: Verdana,sans-serif; margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdj4Hu56YTXfQ0v8zEz7qzSih-2lF6FBzx8nd7Q2Ikt08ntPoqo9ycIZWxIPBvf6c9TnfgoVE4osJXgP3PA34paPBLtMteOw-MSaA9iU-Wdk3lt2lW-fqDMxMrvhz4hybvnI5PvUgZdERM/s1600/DSC04498.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdj4Hu56YTXfQ0v8zEz7qzSih-2lF6FBzx8nd7Q2Ikt08ntPoqo9ycIZWxIPBvf6c9TnfgoVE4osJXgP3PA34paPBLtMteOw-MSaA9iU-Wdk3lt2lW-fqDMxMrvhz4hybvnI5PvUgZdERM/s400/DSC04498.JPG" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Rei e Rainha do Carnaval, Foto: Adriano Cerqueira</td></tr>
</tbody></table>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Artur Almeida, também conhecido por Artur Loureiro, é este ano o folião com a responsabilidade de carregar a coroa da maior festa da cidade de Ovar. Entre um café digno de “corte” e os demais compromissos “reais” el-Rey Artur Loureiro cedeu algum tempo ao Praça Pública para comentar o actual momento do Carnaval de Ovar.</div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Nunca pensei, mas já estou ligado ao Carnaval desde os anos 30. Saía todas as noites a partir praticamente do Natal. Chegamos a sair uma vez no dia 27 de Dezembro, do ano anterior ao ano do Carnaval. Eu sou um rapaz novo e sinto-me em forma para o Carnaval, gosto de conviver, gosto do meu reinado e de ser folião”, confessa Artur Almeida. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Sobre a recente coroação, el-Rey apenas afirma que “talvez este convite devesse ter sido feito mais cedo”. Artur Almeida promete viver o seu reinado com “boa disposição, optimismo” e “dar o possível e o impossível, com orgulho daquilo que os meus súbditos fizerem, desde que não faltem aos compromissos e que cumpram as regras do reinado.” </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Não só de memórias de bons tempos passados entre camaradas recorda Artur Loureiro, os tempos do antigo regime, impunham algumas restrições ao Carnaval, que nem sempre eram cumpridas por este folião. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Antes do 25 de Abril não se podia passar pela praça. Fazíamos as nossas noitadas, saiamos depois do Natal e não saiamos junto à Praça. Íamos ao café, pela rua do Carvalho, só depois da ponte do rio Cáster é que começávamos a desfilar e a fazer barulho, vestidos de lençóis brancos, a fazer de bruxas. Só a partir daí é que a Arruela e a Estação, faziam essas noitadas todas pelo grupo dos Campos, porque não era permitido andarmos de noite pela rua a fazer barulho”, relembra. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Os velhos tempos obrigavam os festivaleiros a fazer os seus próprios fatos, dando asas à originalidade com o pouco material que tinham disponível. “O Carnaval de hoje em dia é mais sofisticado, há mais possibilidades de o fazer, com materiais muito mais fáceis de arranjar. Antigamente nós fazíamos com aquilo que tínhamos à nossa frente. Fazíamos as indumentarias, mas quando chovia, o papel diluía. Isto antes do Carnaval organizado, fazíamos os fatos em noites em que o Carnaval era no Cineteatro, na sociedade mercantil, na estação, nos bares do Salvador, e mais tarde no café Progresso. Lembro-me de ir com os meus pais ao Mercantil quando era pequeno”, recorda Artur Almeida. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
O actual coroado do grande corso vareiro, viveu os tempos do velho Carnaval sujo, muito à semelhança da tradicional “Tomatina”de Buñol, em Espanha. “O Carnaval sujo teve uma data, teve uma época, hoje em dia já não pode ser assim. O Carnaval é mais comercializado e é para fazer publicidade. Já não se pode brincar ao Carnaval. Acabou o jardim em frente ao chafariz Neptuno, onde na terça-feira de carnaval, depois das seis da tarde, quem estivesse a assistir, assistia, com as consequências que isso representava e quem não queria não se metia”. El-Rey diz ainda ter-se “perdido a tradição”. “Hoje o Carnaval envolve muito dinheiro. Antigamente era mais fácil, digamos assim. Hoje tem que ser assistido, e quem quiser ver tem que se sujeitar a pagar”, critica. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Anunciada a construção da Aldeia do Carnaval, Artur Almeida vê com bons olhos a evolução do Carnaval de Ovar, sugerindo ainda uma menor preocupação com o consumo de álcool, pelo menos dentro das “muralhas” vareiras. “O Carnaval de Ovar vai evoluir e tem que ter um caminho longo para fazer uma representação do concelho. Representando cada freguesia com o género carnavalesco. Era engraçado que todas as freguesias participassem, o que iria aumentar o espírito do carnaval de Ovar.” </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
“Relativamente à questão da aldeia do carnaval, já devia ter sido feita há muito tempo. Antigamente, há noite saíamos a todos os grupos e visitávamos. Não havia a questão do transporte, andávamos de sede em sede sem sermos assediados. Hoje é difícil fazer-se isso. Quem anda no Carnaval a beber água? Ninguém! Vinho tinto e do bom, como dizia, as carnes só se conservam em vinho e não em água! Por conseguinte, nós somos perseguidos pela polícia. Por que é que somos perseguidos dentro de Ovar, quando temos aqui uma festa vareira? Para mim, a própria Comissão do Carnaval devia interferir no assunto para chegar a um consenso com a polícia cá dentro. Facilitar o consumo de álcool, não em excesso mas dentro dos limites mínimos ou máximos”, confessa. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
Para finalizar a análise de sua majestade à grande festa que é o Carnaval vareiro, el-Rey Artur Almeida deixa a seguinte mensagem a todos os seus fieis súbditos: “Que todos gozem o Carnaval com muito boa disposição, façam uma excepção à juventude que se predisponha à boa disposição, e que viva o Carnaval à sua maneira e à vontade”. </div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: right;">
<br /></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Notícia publicada no Jornal <i>Praça Pública</i> </span></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Publicado em 5 de Setembro de 2013</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
Adriano Cerqueirahttp://www.blogger.com/profile/00670753686506013158noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3377594744363486538.post-89495853887497436502009-01-15T18:30:00.000+00:002015-10-08T16:28:18.927+01:00Clube de Cientistas de Palmo e Meio, um cantinho da ciência<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpnSH4dqpvgXfRoxUjuk4xMxDQBZ0vDUb8b9bg7u6Cbzue_eROo9TyWBWLK5eEJq7VA-AsCmDk4DXxt-uR8vXK64S9ZiwVLcKo1ROGf2X5zrv8_bfduAOu3GPJIXlOXorQeXCfHcymFSSO/s1600/Cientistas+palmo+e+meio.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpnSH4dqpvgXfRoxUjuk4xMxDQBZ0vDUb8b9bg7u6Cbzue_eROo9TyWBWLK5eEJq7VA-AsCmDk4DXxt-uR8vXK64S9ZiwVLcKo1ROGf2X5zrv8_bfduAOu3GPJIXlOXorQeXCfHcymFSSO/s400/Cientistas+palmo+e+meio.JPG" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Sala de Experiências, Foto: Adriano Cerqueira</span></td></tr>
</tbody></table>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Situado no início da Avenida do Furadouro, o clube dos cientistas de palmo e meio destaca-se como uma iniciativa inovadora na promoção da ciência em crianças do pré-escolar.</span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Após atravessar o portão e o pátio pintado com mensagens de preservação do ambiente, o visitante depara-se com uma casa dedicada à ciência. Logo à entrada encontra-se o laboratório, uma cozinha remodelada onde se desenvolvem projectos, desde jogos de prismas aquáticos a uma pequena fábrica de velas e pavios. Ao fundo do corredor entra-se na “Sala do Avô Carlos” – dedicada a Carlos Andrade, principal responsável pelas experiências científicas – onde estão expostas várias apresentações, incluindo aquelas que foram exibidas na FIL. Desde o <a href="http://en.wikipedia.org/wiki/Bean_machine">Quadro de Galton</a> (quadro de distribuição estatística) aos tubos sonoros, passando por vários jogos de pêndulos, equilíbrio, som, e até mesmo pequenos motores eléctricos rudimentares, são várias as experiências que ajudam a incutir conceitos básicos da física, química, e da ciência em geral nos mais novos. </span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Helena Medeiros, coordenadora pedagógica do <a href="http://www.geocities.com/demaosdadasna/m3.htm">CPS,</a> explica que “quando pensámos em fazer um projecto ligado à ciência foi por acharmos importante que a escola, e a começar logo pelo pré-escolar, trabalhe nessa área”. </span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">“Trabalhamos os conceitos mais normais do pré-escolar, que são o pintar, o rasgar, o contacto das coisas, mas pode-se ir ainda mais além, porque é desde pequenino que nós começamos a criar o gosto da criança pela descoberta e o porquê das coisas serem como são”, explica. </span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">O Centro de Promoção Social do Furadouro procura motivar crianças de várias idades a participarem na descoberta da ciência. Para Elisabete Laranjeira, educadora de crianças de dois anos, “o objectivo de fazermos o projecto da ciência não é que eles adquiram os conceitos científicos de física, de química, das várias ciências, é simplesmente que desperte a curiosidade e que no fundo desmistifique o “bichinho” das ciências, e no fundo despertá-las para esta área, para o prazer da descoberta e de experimentarem”. </span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Já Andreia Pereira, educadora de crianças dos três aos cinco anos, afirma que “eles apesar da idade que têm são pequenas esponjas que absorvem tudo, então é o ideal para conseguirmos introduzir conceitos tão vastos como a ciência e noções matemáticas”. “Esta é a altura certa, como são pequeninos conseguimos “modelá-los” e desmontar aqueles “bichos de sete cabeças” que são os conceitos matemáticos e a ciência”, salienta a educadora. </span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Flávia Oliveira, também ela educadora, conta a história da formação do projecto: “Foi um objectivo de 3 anos e com o passar de cada ano os objectivos iam aumentando e os passos iam sendo maiores, o que foi muito bom, quer para nós como profissionais, quer para as crianças”. A educadora confessa ter achado “a ideia aliciante”. “Não sabia até que ponto eles iam aderir e se iam mesmo levar o objectivo até ao fim, porque nunca tínhamos trabalhado as ciências no pré-escolar”, afirma. </span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">“O objectivo é incentivar, no fundo, à descoberta da ciência, não é propriamente dizer os termos técnicos, isso é complicado para crianças desta idade, mas é deixar o “bichinho” lá dentro, para eles mais tarde alargarem os horizontes”. </span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Flávia Oliveira revela que “eles deliram com as experiências, claro que não sabem os termos técnicos, mas já têm noção de como funcionam cada uma dessas experiências, de uma forma muito mais senso comum, mas o objectivo é esse, é eles serem cientistas de palmo e meio”. </span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Mas o espaço não é só dedicado a experiências científicas. O andar de cima é dedicado a salas de exposições abertas à comunidade. Neste momento o visitante pode encontrar uma exibição de bonecos de barro, cedidos por um colaborador, com a temática das profissões e uma sala dedicada a trabalhos de jogos matemáticos construídos pelos pais das crianças. Helena Medeiros destaca o papel dos pais e afirma que “em todos os projectos a família é sempre uma peça fundamental, nós não sabemos trabalhar sem ter a família ao nosso lado”. “Como é hábito nos nossos projectos, nós lançamos tudo aos pais e apareceu aqui um avô que quando viu o plano de actividades disse: “Mas o que é que eu posso contribuir aqui?” E eu respondi: “Ó Sr. Carlos pode contribuir em tudo.” “Ele começou a dar forma à nossa ideia, nós dissemos que não tínhamos dinheiro, por isso teriam que ser coisas muito simples, mas como ele é uma pessoa dinâmica e criativa, foi buscar ferros de passar, resistências de carros velhos, etc., e começou a dar forma à nossa ideia”, conta a coordenadora. </span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Segundo Helena Medeiros o futuro do clube passa por disponibilizar as salas de trabalho às crianças, motivando visitas e sessões de trabalho diárias. A promoção do espaço de exibições aberto à comunidade também é outro dos objectivos em curso. </span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">A coordenadora revela ainda planos para “levar o nosso clube a faculdades, como Bragança e Leiria, e ao Hospital Pediátrico de Coimbra.” “Não só pensamos em deixar ali aquele espaço mas também em pô-lo para fora daquelas portas”, admite Helena Medeiros. </span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Já Carlos Andrade, confesso “entusiasta” do projecto, salienta a necessidade de arranjar alguém para manter o clube aberto diariamente, o que possibilitaria a visita de qualquer pessoa interessada nos projectos desenvolvidos com a ajuda das “cientistas de palmo e meio” do Centro de Promoção Social do Furadouro. </span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: right;">
<span style="font-size: x-small;">Reportagem para o Jornal <i>Praça Pública</i></span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: right;">
<span style="font-size: x-small;">Publicado em 28 de Agosto de 2013</span></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-size: x-small;"></span></span><br />
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
Adriano Cerqueirahttp://www.blogger.com/profile/00670753686506013158noreply@blogger.com0