sexta-feira, 13 de maio de 2005

Um caminho, uma direcção

Lá vou eu. Continuo a percorrer esta longa estrada de sentido único. Onde me perco enquanto procuro, no extenso horizonte, algo que me dê boleia para fora daqui. Continuo em sentido contrário. Volto para trás. Levo com o vento frio que me derruba, subitamente, sem forças, sigo em frente, nesta estrada sem curvas, sem cruzamentos, sem nada. 

Um vazio de nada. Um vazio alcatroado. Cada vez mais quente apesar do fraco sol invernal, continua a encandecer e a queimar os meus pés que pouco mais conseguem andar.

Fui assombrado por pequenas miragens, semelhantes a pequenos cruzamentos, que em pouco mais do que nada se tornaram. Enquanto caminho, nada aprendo. Ignoro os avisos, os sinais, os semáforos. Nem um comboio desenfreado pára para eu embarcar. Nenhum avião aterra sequer nesta terra. Nem uma gota de água, no entanto, continuo vivo.

No entanto, continuo vivo. Afogo-me dentro do meu lago, procuro a velha caverna de ar mórbido, mas até ele já se dissipou. Debaixo de água, num deserto, a aguentar um inverno tenebroso no topo de uma montanha. Por todos esses lados essa estrada passa, nem por um jardim, nem por uma praia, nem por uma cidade, vila, ou por um mero casebre. Nem sinal de vivalma. Nem sinal de qualquer coisa. Um limbo extenso, sem fim, sem destino, sem propósito.

Uma luz verde acende-se. Vejo-a piscar em lugares demasiado distantes para poder alcançar. Viagem demasiado longa para poder sobreviver. Viagem demasiado necessária, demasiado desesperada, demasiado... Mas preciso continuar. O dia vai chegar. 

Por três abismos passados, por muitos mares navegados, esta estrada atravesso, enquanto de mim (ainda) não me despeço.
 

Publicado em 29 de Maio de 2013

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