domingo, 27 de dezembro de 2009

Momentos

“Não me lembro de uma manhã de Novembro tão fria como esta”. Passavam alguns minutos das dez da manhã. Estava sol, mas a temperatura não ia além dos sete graus. Miguel estava na plataforma a olhar para o horizonte, expectante pelo comboio que deve chegar em breve. Ele aguardava por este dia há apenas algumas semanas, mas o tempo não era relevante. Na verdade, Miguel ansiara toda a sua vida pela chegada deste dia.

O relógio já se aproximava das onze quando o som familiar de toneladas de metal a ranger nos carris começou a fazer-se ouvir. Embora ele já tivesse presenciado esta agonia sonora inúmeras vezes, hoje soava de forma diferente, como uma suave melodia tocada por um mestre do violino. O comboio rapidamente surgiu na linha do horizonte, e num mero instante já estava a parar à sua frente. Quando as portas se abriram e a multidão de passageiros começou a sair, Miguel sentiu o seu coração acelerar. Era difícil decifrar alguém no meio deste mar de faces desconhecidas. Mas, num breve relance ele vê-a. “Sara”, chama. Ela acena na sua direcção, e ele responde com o mesmo gesto. 

Várias pessoas os rodeavam, apressadas na azáfama típica de uma manhã de Novembro, mas naquele momento eram apenas eles os dois, tudo o resto desvanecia num fundo que ambos ignoravam. Naquele cruzar de olhares, Miguel sentiu o seu coração a parar, enquanto se deslocavam em direcção um ao outro, era como se o tempo tivesse abrandado. Quando finalmente se encontraram frente a frente, tudo regressou ao normal. 

“Olá”, diz ela com o seu belo sorriso. “Olá”, responde, esboçando um sorriso que revela mais do que ele pretendia. 

Apesar do frio que se fazia sentir, naquele instante Miguel viu-se envolvido por um calor primaveril, que não se lembra de alguma vez ter sentido. 

“Vamos?” Ela consente, e descem as escadas para saírem da estação. 

Enquanto se deslocam, conversam sobre temas banais que naquele instante parecem ser muito importantes. Ambos perdem-se nas palavras um do outro, e o tempo passa com uma naturalidade inesperada. 

Após o almoço, encontram uma modesta esplanada numa pequena rua coberta de calçada. 

“Pode ser aqui?”, ele pergunta. 

“Sim, vou lá dentro pedir, o que queres?” 

“Nada, eu tenho de ir ali, dás-me cinco minutos?” 

“Sim, claro.” Sara responde, estranhando este súbito pedido. 

Miguel atravessa a rua e desaparece da sua linha de visão. Sara decide aguardar que ele chegue e procura uma mesa com vista para a cidade. Escolhe uma com um pequeno vaso vazio, sem nenhuma justificação para este se encontrar ali. Uma voz interior dizia-lhe que esta era a mesa certa, embora ela não o soubesse porquê. 

Passados cinco minutos, tal como prometido, Miguel aparece. Sara não se apercebe da sua chegada, e apesar de a sua face mostrar surpresa, esta não é provocada pela chegada de Miguel, mas sim por aquilo que ele traz consigo. Um ramo de Amores Perfeitos. Não, Miguel não escolheu estas flores por estas revelarem algum sentido subtil, mas sim por serem as preferidas dela. 

“Não pude resistir, vi-os na montra no caminho para aqui”, diz. 

“Lembraste-te… Obrigado.” Sara levanta-se e beija-o levemente na face. 

Ela coloca-as no vaso, embora não possa ter a certeza, acredita que, de alguma forma, é ele o responsável pela presença do vaso. 

Ambos sorriem enquanto trocam olhares, num momento de silêncio em que não são precisas palavras. 

Não tardam a retomar o ritmo da conversa anterior, contudo há algo diferente, ambos o sentem, mas o momento ainda não é o certo. 

À medida que o dia se aproximava do fim, Sara e Miguel sentiam a noite a aproximar-se. Ambos sabiam o que isso significava. 

Miguel levou-a a um jardim, o sol já começara a pôr-se. Um corredor de velhas árvores reluzia em tons de dourado, enquanto os últimos raios do sol outonal brilhavam sob os castanhos, laranjas e amarelos das folhas que ocupavam as copas e preenchiam o céu. No chão, a relva verdejante cintilava de vida. Escolheram um pequeno banco mesmo no fim deste corredor onde se sentaram a contemplar o último hino à beleza natural, que o sol deste dia estava disposto a celebrar. 

“Lindo, não é?” Sara diz. 

Miguel, que estava a contemplar o horizonte, vira o olhar para ela e responde: “Sim.” 

Silêncio. Desta vez Sara não sorri, desvia o olhar para as suas mãos e o seu coração acelera, como que banhado por uma torrente de realização. 

“Miguel, eu…” Mas antes que ela possa dizer algo, ele toma a sua mão direita e acaricia-a levemente. Ela volta a cruzar os seus olhos com os dele. Algo impele-a a falar, mas ele abana ligeiramente a cabeça. Não. Não assim. 

A noite cai sobre o jardim outrora dourado. Está na hora de se despedirem. Ela agarra nas suas flores e aperta-as fortemente contra o seu peito. Ambos atravessam novamente o corredor, agora apenas iluminado pelas luzes dos candeeiros de rua. Lado a lado, apenas os dois. 

Chegaram à estação pouco antes da hora de partida. O comboio já aguardava na sua plataforma. Alguns passageiros começavam a embarcar. 

“Acho que tenho de ir…”, Sara diz, olhando para uma das portas da carruagem. 

Miguel aproxima-se dela e envolve-a num abraço profundo. Sara encosta a sua face ao seu peito. O tempo pára, desta vez, na sua totalidade. Naquele momento ambos conseguem sentir o coração um do outro, ambos batem em uníssono, gritando pelas palavras negadas durante todo o dia. 

Sara afasta-se ligeiramente do seu abraço e olha-o intensamente. 

“Miguel, eu…”

“Eu também”, interrompe. Estas duas palavras dispersam qualquer sombra de dúvida que pudesse ainda existir. Apenas uma palavra é capaz de descrever aquilo que sentem um pelo outro, e mesmo ela parece insignificante perante um sentimento tão intenso como aquele que ambos partilham. Amor. 

O comboio apita para a última chamada de embarque, e fá-los regressar friamente à realidade. Sara liberta-se do seu abraço. Enquanto se afastam um do outro, os braços de ambos atravessam-se suavemente, como que tentando impedir que o outro seguisse o seu caminho. Quando os seus dedos se cruzam, sentem pela última vez o calor do seu amor. Sara agarra fortemente o ramo de Amores Perfeitos junto ao seu peito e dirige-se para a porta. Miguel ouve através deste gesto aquilo que ambos quiseram dizer. 

Ao subir para a carruagem, ela detém-se por momentos nas escadas e olha-o por uma última vez antes de partir. Sara sorri, aquele sorriso que ela reserva apenas para ele, e Miguel contempla-o por uma última vez. 

Ela entra na carruagem. Como se tivesse que compensar pelos momentos em que esteve parado, o tempo acelera e tão depressa como chegou, o comboio desaparece de vista. Miguel permanece no mesmo lugar a fitar o horizonte, como tinha feito hoje de manhã. Foram apenas algumas horas, mas para ele foi como se uma vida inteira tivesse passado, nos breves momentos que Sara partilhou com ele. 

Publicado em 21 de Agosto de 2013

domingo, 15 de novembro de 2009

XIX

Guardo em mim, segredos,
Revelados sob o teu olhar,
Certezas de um significado,
Impossível de aceitar.

Palavras indiscretas,
Sem um fundo de verdade.
Mesmo em mentes abertas,
Soam como erradas consequências,
Sem sentido, nem idade.

Guardo em mim, segredos,
Proibidos entre nós,
Caminhos já confirmados,
Por uma distância atroz.

Calo em mim, vozes,
Repetidas em protesto.
Impedidas de ouvir,
Sentimentos certos.

Guardamos nós, segredos,
Entre dias, horas, momentos,
Silêncios eternos daquilo que escondemos:
Duas palavras, um segredo,
Uma incerta constante,
Deste ténue caminho,
Assim, por nós escolhido.

Guardo em mim, segredos,
Por ti, já revelados.
Guardamos nós, incertezas,
Improváveis de se desvendar.
Se apenas sob o teu olhar,
Guardamos nós, assim,
Um momento, um dia, uma hora,
Que ainda está por passar.

Guardamos nós, segredos.

Publicado em 4 de Setembro de 2013

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Na Esquina de Uma Vida

Chamem-me o nome que acharem que encaixa melhor na imagem que têm de mim, seja ela qual for, é tudo, menos quem eu sou.

O giz tocava o quadro deixando o típico rastro de linhas brancas que, há distância, formavam alguma equação, alguma frase, no fundo, meros elementos de um todo, reconhecível apenas por aqueles capazes de decifrar o código criado pela personagem que tomava o posto de liderança na frente da sala.

Quarta carteira a contar da direita, do lado da janela. Sim, sou eu o tipo a olhar para lá da janela, só, numa sala com vinte pessoas, a pensar num lugar distante, num mundo diferente. Sinto um ligeiro toque no braço, é o Tiago a avisar-me que a professora me está a chamar.

“Está bom tempo lá fora, não está?” O sarcasmo natural de uma das raras pessoas pelas quais nutro um certo respeito mútuo, e com a qual sinto-me à vontade para responder de igual modo.

“Não sei, acho que tenho de ir averiguar se está tão bom como parece”, mal as palavras saíram da minha boca, questionei-me sobre a extraordinária naturalidade com que elas surgiram. Como consigo ser tão eloquente em momentos como este, e um completo pateta em situações importantes? Ainda hoje não encontrei resposta para essa pergunta.

“Concentra-te no que se está a passar deste lado, já falta pouco para o descobrires”, disse, entre o seu já habitual sorriso e olhar sério de alguém que encara o seu emprego não como um ofício, mas como uma vocação.
 
Voltei a minha atenção para o centro da sala, mas os meus pensamentos não tardaram a desviar-se da matéria, fosse ela qual fosse, que estava em foco naquele momento. Não, bastou por os olhos nela, sentada na primeira fila, mesmo no centro, do lado esquerdo da sua carteira. Na verdade, o meu olhar já tinha caído sobre ela mal me dirigi para a professora e a vi a olhar na minha direcção. Libertei um triste, inaudível suspiro e concentrei-me em escrever algo no meu caderno, enquanto resistia à estranha tentação de empilhar caixas de minas uma em cima das outras.

Olhei para o meu pulso, maldito hábito que ao fim de tanto tempo ainda não consegui perder. Há já uns tempos tinha deixado o meu velho Casio amarelo guardado nalguma gaveta de minha casa. Ainda experimentei trocá-lo por um Swatch branco, mas logo no primeiro dia que o usei, a corrente arrebentou-se e com ela a minha vontade de controlar o tempo, ou de ser controlado por ele. Mas talvez algum sentido de identificação temporal ainda permanecesse vivo dentro de mim, um resquício primitivo de tempos há muito perdidos, pois mal repus a manga na sua devida posição, o toque surgiu. O seu eco ao atravessar pelas paredes do velho liceu, despertava uma autêntica romaria de cadeiras a arrastarem-se, portas a abrirem-se, e pessoas a falar.

“Finalmente fim-de-semana”, disse para o Tiago.

“Já não era sem tempo! Vou ver o Sporting a Aveiro, queres vir?”

“Era uma boa ideia, logo combinamos melhor”, toquei-lhe ligeiramente no ombro e dirigi-me na direcção dela.

“Vamos?” Por um momento perdi-me no seu olhar e esqueci tudo o que me rodeava.

“Sim.” O momento foi curto.

Pelos estreitos corredores, agora cheios de alunos apressados e desejosos de ir para casa saborear a doce liberdade do fim-de-semana, outras pessoas se juntaram a nós. Outro Tiago, o Acosta, o Policarpo, a Verónica e a Inês. Concentrámo-nos em frente ao portão da saída à espera daqueles que se atrasaram na conversa com outras pessoas. Uma vez juntos, e feitas as despedidas àqueles que daquele ponto para a frente não mais nos acompanhavam, seguimos caminho pela velha estrada de empedrado que nos levava até ao nosso destino, por entre ruas quase desertas.

O caminho era relativamente curto, num dia normal demorava 10 minutos a percorrê-lo, mas eu sabia que nunca chegaria a casa em menos de uma hora. A Inês era a primeira a deixar-nos, depois o Tiago, o Acosta, e finalmente o Policarpo e a Verónica acompanhavam-nos até à eterna intercepção, que, como uma verdadeira literalidade metafórica, separava o meu caminho do dela.

Geralmente ambos acompanhavam-nos em longas conversas triviais que chegavam a durar até à hora de jantar, mas que ali nos mantinham presos às palavras e experiências de cada um. Mas hoje seria diferente, por um motivo ou outro, tanto o Policarpo como a Verónica nos deixaram a sós, e seguiram os seus caminhos de regresso a casa. Ele pegou na sua bicicleta e rapidamente desapareceu no horizonte em direcção aos prédios para lá da linha de comboio. Ela apanhou a velhinha Feirense em direcção a São Vicente. Só restámos nós os dois.

Muitas eram as palavras que pairavam sobre o ar, muitas eram as conversas que ambos desejávamos e que ao mesmo tempo esperávamos nunca vir a ter.

Segurava o velho sinal de Stop que marcava o lugar do nosso encontro. Aqui éramos apenas nós, e nada mais. Eu sabia que podíamos perder horas ali a falar sobre qualquer assunto, era esse o poder da nossa amizade. Pois, infelizmente, era esse o único sentimento que ela via em mim.

Enquanto ela falava, apesar de a ouvir com a máxima atenção possível de se exigir a qualquer ser humano, absorvendo cada uma das suas palavras, perdia-me na observação dos seus gestos, dos seus profundos olhos castanhos, das leves ondas do seu cabelo, do seu querido nariz, e dos sentidos movimentos dos seus lábios.

O meu único desejo era pegar-lhe pela mão e dizer-lhe, ali, tudo aquilo que eu sentia, tudo aquilo que eu queria para nós. Dizer-lhe que a amava, que ela era o único motivo que me fazia levantar todas as manhãs, que ao vê-la sentia o meu coração a bater como se despertasse de um longo sono dormente, que ela era tudo, que só por ela valia a pena entregar todo o meu ser.

“Bom, tenho de ir ajudar a minha mãe a fazer o jantar.” Com esta frase a realidade fez regressar os meus pensamentos ao aqui e agora que não estava a prestar atenção.

“Já?” Nada mais me ocorreu.

“Tem que ser…”

“Oh. Até segunda, então?”

“Sim, até segunda”, respondeu com o seu típico sorriso que me deixava incapaz de reagir de qualquer maneira para além de simplesmente o retribuir, deixando-me perder nos seus olhos.

Ela preparava-se para atravessar quando as palavras saíram sem qualquer aviso.

“Espera”, disse.

“Sim?”

Contive-me, incapaz de forçar a honestidade de sentimentos que há muito guardo só para mim, embora no fundo sempre soubesse que ela já se tinha apercebido deles.

“Tem um bom fim-de-semana”, respondi.

“Tu também.” E com um último sorriso atravessou para o outro lado.

Fiquei a vê-la ir-se embora até a sua sombra se perder por entre as casas da velha rua de S. Miguel. “Um dia…”, disse a mim próprio, como sempre o fazia.

Continuei pelo rio da minha vida, cujo destino daquele dia desaguava às portas de minha casa. Hoje, continuamos a seguir caminhos distintos, próximos um do outro, mas mais distantes do que alguma vez conseguiria imaginar.

Publicado online em 22 de Maio de 2009
Publicado na Revista 9paginas em Outubro de 2009
Reeditado em 18 de Agosto de 2013

sábado, 21 de março de 2009

XVIII

Letras, palavras,
Elementos de um todo,
De infinitos sentidos,
Libertos de penosos destinos.

Fados de sentimentos,
Líricas de dor,
Fingimentos de realidades,
De tão desejadas, a nunca vividas.

O lirismo, o poder do verso,
Da palavra, do lápis, do papel.
A métrica, a harmonia,
Tão diferente da prosa, mas tão interligada...

Parágrafos, frases, linhas,
Elementos verticais.
Presos sobre a horizontalidade,
Da sua própria existência.

Dom do canto, da expressão,
do romance, dos sentimentos.
Versos soltos de uma vida,
de um todo, de um mundo.

Nada é mais fácil, que a existência de um poeta.
Que o exprimir das reacções que orientam o seu dia.
Nada é tão simples, nada é tão difícil.
Vertical, horizontal, isto não é poesia.
Isto é nada, e é tudo.

Poesia é vida, é a lírica do ser,
Poesia é viva, é o pulsar do saber,
Isto não é poesia.

Publicado em 1 de Setembro de 2013

domingo, 8 de março de 2009

Carnaval Sénior: A festa na “flor da idade”

A festa na "flor da idade", Foto: Adriano Cerqueira
O Espaço Tenda encheu-se de tons floridos para acolher os idosos participantes em mais uma edição do Carnaval Sénior.

A festa deste ano teve como tema a Primavera e os Jardins Floridos, com os convidados a vestirem-se a preceito. Cada associação representada no Carnaval Sénior trazia o seu próprio traje, de mantos azuis cobertos com flores, aos típicos dominós multicoloridos da Santa Casa da Misericórdia de Ovar, de simples fatos de jardineiro, a um bando de “capuchinhos vermelhos” prontos para “encantar” o baile com a sua folia.

A banda em palco tocava clássicos da música portuguesa e brasileira, de forma a aliciar os convidados a bailarem ao som dos ritmos tipicamente carnavalescos. O incentivo ao convívio e à festa foram a principal iniciativa da tarde dedicada àqueles que já viveram mais carnavais que qualquer um de nós. Entre o público encontrava-se José Américo, presidente da Fundação do Carnaval. O folião destaca a importância da acção social desta iniciativa: “O que nós proporcionamos são duas horas de um convívio que acontece uma vez por ano e em que as pessoas aparecem mascaradas. Eu penso que o Carnaval não é só os espectáculos, os concertos, o ritmo frenético e o consumo… Não. Também tem esta parte pedagógica de acção social que eu quero que a fundação tenha sempre”, afirma.

Para Márcia Sousa, assistente social do Centro Social Cortegacense este evento é “uma forma dos idosos se envolverem em iniciativas, ao mesmo tempo podem desenvolver capacidades e competências, nomeadamente na construção e no desenvolvimento das vestes”. “Penso que isto é positivo para os idosos e para todos os profissionais dos centros aqui participantes”, diz.

Já Cláudia Reis, Directora Técnica da Santa Casa da Misericórdia de Ovar salienta que “é sempre muito bom para os idosos pois eles gostam muito de sair e de conviver, e principalmente pelo facto de se encontrarem com outros idosos de outras instituições, o que é agradável”. “Os idosos gostam muito do carnaval e gostam muito de viver o carnaval”, confessa.

Que o diga a Dona Maria Albertina da Santa Casa da Misericórdia de Ovar. Para a foliona o carnaval sénior “é uma coisa extraordinária, de um valor extraordinário.” “Admiro muito por ter estas pessoas convidadas tão bem dispostas e tão alegres”, acrescenta. Já a Sra. Adelaide Faria confessa que “era para não vir, mas resolvi vir, já no ano passado cá vim e gostei imenso”. A Dona Fernanda, do Centro Social Cortegacense afirmou ainda ter gostado “muito da festa, é bonito para passarmos aqui um bom bocado”.

O sucesso da iniciativa faz José Américo olhar com bons olhos para a continuidade do Carnaval Sénior. “Esta é uma festa que logo após a primeira realização chegámos à conclusão que valia a pena. Se já conseguimos conciliar dignidade, com diversão, divertimento e convívio, temos a fórmula correcta de dizer: Vamos continuar!”, confessa.

“Esta iniciativa, semelhante à das crianças, é um grande símbolo do carnaval, se calhar mais importante no seu significado que os verdadeiros corsos”, salienta o Presidente da Fundação.

A festa teve ainda como convidados especiais el-Rey Artur Almeida e a Rainha Dona Augusta, a Divertida. Os dois membros da monarquia vareira de 2009 passearam-se por entre o público e juntaram-se à festa, animando a tarde destes veteranos foliões.

Manuel Oliveira, Presidente da Câmara Municipal, também não deixou de marcar presença, subindo ao palco perto do fim das festividades “O Carnaval não tem idade, o carnaval é de todos nós, é uma festa da alegria” foi a mensagem principal do discurso do Presidente. Manuel Oliveira teve ainda tempo para falar do seu encontro com a Rainha: “No tempo da Monarquia era habitual os súbditos beijarem a mão à Rainha, mas hoje ela disse-me isto: "Quem lhes beijou a mão fui eu." E disse-me porquê. Porque pessoas que tanto trabalharam e que tanto têm dado de si, merecem que lhes prestemos homenagem”.

Este ano o Carnaval Sénior contou com a participação das seguintes instituições: Centro Comunitário de Esmoriz; Centro de Assistência Social de Esmoriz; Centro Social Cortegacense; Centro Social de Paramos; Centro Social e Paroquial da Arrifana; Centro Social de S. Félix da Marinha; Centro Social de S. Pedro de Maceda; Grupo de Acção Social de S. Vicente de Pereira; Lar Santa Maria de Válega; Santa Casa da Misericórdia de Arouca; Santa Casa da Misericórdia de Castelo de Paiva; Santa Casa da Misericórdia de Espinho, e a Santa Casa da Misericórdia de Ovar.

Foi com um ambiente de alegria e divertimento, numa tenda enfeitada com balões coloridos e figuras carnavalescas alusivas à primavera, que terminou mais uma edição do Carnaval Sénior.


Notícia publicada no Jornal Praça Pública
Publicado em 10 de Setembro de 2013

Fotogaleria: Festa dos Idosos dá cor ao Carnaval Vareiro


Publicado em 10 de Setembro de 2013

domingo, 22 de fevereiro de 2009

XVII

Não me apraz ir a lugar nenhum,
Pois em lugar nenhum te encontras.
As regras que assim me prendem,
Estabelecidas por ti,
Forçam a minha ausência,
Do único destino que desejo seguir.

Palavras que as guardo em diários por escrever,
Carregadas de sentenças que o tempo transforma em interrogações,
Ocupam-me os pensamentos de meios-dias perdidos.
Esquecidos no tédio do volver das horas,
Interminável, como o teu legado.

Encontro-me por ora exausto,
Cansado como quem desperta de uma longa existência dormente,
De mente estafada, governada pelo conflito.
Ansiedade, e receio, por aquilo que aguarda.
O malogrado momento,
Daquele que não desejo que seja mais um triste fado,
Do contínuo caminho cinzento, de indústria desinspirada.

Aguardo por um veredicto,
Como réu inocente, incapaz de fugir à culpa da acusação.
Os meus quereres, os meus desejos, as minhas vontades,
De nada valem nesta hora dispensável,
Pois de nada vale ponderar na alternativa, quando a decisão já há muito foi tomada.

Aguardo na ignorância,
não é ela, a felicidade?
Ignorância, auto imposta,
dos lugares comuns que a experiência fornece.
Apesar disso; ignorância, apenas e só.

Desejo ver-te, desejo falar-te,
Desejo encontrar-te,
Enfim, desejo-te.
Mas pensar além das fantasias do inconsciente,
destrói-me pela ciência de tudo o que é real.

Que posso fazer, se não aguardar.
Aguardar o regresso das tuas palavras,
O reencontro das tuas feições.
Seja qual for o ditado final,
A réstia da esperança deste ser exausto,
Descansa apenas na espera do acordo...
Não. Da promessa, arquivada num tempo e num lugar,
Que embora reviva a cada momento,
Não desejo recordar.

Não me apraz ir a lugar algum,
Pois em lugar algum te encontro.

Publicado em 27 de Agosto de 2013

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Alexandre Rosas: “A fome que tenho, às vezes até exagerada, é sem dúvida de uma dedicação total ao Carnaval”

Cartaz Carnaval de Ovar 2009, por Alexandre Rosas
Cinco vezes vencedor do concurso do cartaz de Carnaval de Ovar, Alexandre Rosas confessa ao Praça Pública os segredos por detrás deste sucesso. Como pano de fundo a oficina onde são criados os cartazes do vencedor da Vitamina da Alegria de 2009, o designer mostrou ser um verdadeiro aficionado do Carnaval Vareiro.

A primeira vez [que venci a competição do Cartaz de Carnaval] vale um mundo! Pode-se dizer que era um sonho de criança.

Praça Pública: Foi o vencedor do concurso do cartaz de Carnaval deste ano. O que o inspirou na criação do cartaz?

Alexandre Rosas: É complicado falar em Carnaval. É sempre um palhaço ou uma ilustração, e este ano tentei pensar em alguma coisa que de facto mostre o nosso carnaval. Este ano optei pela noite mágica, um evento que a fundação do Carnaval está a apostar bastante e portanto foi por aí que comecei o meu trabalho. A noite mágica significa exactamente aquilo que eu tento transmitir no cartaz. A diversidade das pessoas e dos vestimentos, desde o mais elaborado ao mais prático. Da pessoa que faz a sua máscara e que se fantasia de um animal ao outro tão simples que pega numa ligadura e num bocado de tintura e vai como se fosse um ferido. Todas as personagens que eu represento são uma tentativa de mostrar às pessoas o que se faz nos bastidores e que é a já famosa, noite mágica.

PP: Como é vencer cinco vezes este concurso?

AR: [Risos] A primeira vez vale um mundo! Pode-se dizer que era um sonho de criança. Sempre admirei estas artes e sempre apreciei quem as faz, e os cartazes em particular, seja de carnaval, seja doutro evento qualquer. Inicialmente era um sonho que tinha de miúdo e neste momento vencer cinco vezes já não me diz nada. Diz-me apenas que tenho evoluído em termos profissionais. Tento ser o mais original possível de forma a dignificar o Carnaval de Ovar, e a transmitir a melhor mensagem e da melhor forma. Claro que há o prémio e isso também conta, mas mesmo que não houvesse concorria na mesma, com a mesma atitude e com a mesma forma de trabalho. Fico sempre satisfeito se me for dada esta responsabilidade de divulgar o Carnaval de Ovar.

PP: Qual é a reacção que as pessoas costumam ter aos seus cartazes?

AR: Este ano, felizmente, tem sido bastante boa. Foi um dos melhores trabalhos que fiz, ou, pelo menos, que mais tempo dediquei. Foi dos cartazes que mais elaborei e que mais trabalho me deu. Há sempre a crítica, e se ela for positiva é sempre bem vinda e é com isso que eu tenho aprendido. Nestes tais cinco anos em que tenho ganho os cartazes tem havido uma evolução, em parte, graças à crítica que fazem. Depois há a crítica destrutiva de quem, enfim, por algum motivo não gosta. Nunca dei grande importância a isso apenas foquei aquelas que são as críticas mais importantes, que são construtivas, e aprendi com isso. Já dos amigos mais próximos, há sempre a satisfação por verem o meu trabalho ganhador, com o 1.º prémio. Dos colegas de trabalho há um cumprimento, há um reconhecimento, enfim, é sempre bom. É uma sensação boa saber que o trabalho é apreciado.

Sou uma das pessoas que vive o Carnaval e que defende a tradição e todas as marcas do Carnaval de Ovar.

PP: Como define o seu estilo em termos de design e dos cartazes que faz?

AR: O meu estilo... [risos] É um pouco inato. Eu faço um pouco de tudo, adapto-me bem ao tipo de trabalho e ao género de trabalho que tenho de fazer. Sem dúvida nenhuma este trabalho que apresentei este ano é a minha imagem, é a minha expressão. Talvez me defina através dos bonecos, com a expressão, com o exagero. Principalmente a expressão, o movimento. O que tento fazer é de facto não só um cartaz que não passe de um cartaz, mas um que seja algo que amigos e que os tais críticos já consigam dizer que reconhecem ser o meu trabalho. Cor, animação, alegria, esse tal movimento que simboliza o meu trabalho puro. Aquilo que eu realmente gosto de fazer, aquilo que eu realmente acho que tenho mais vocação é para este género de ilustração, como a que apresentei este ano.

PP: Acha que os seus cartazes reflectem, de certa forma, a História do Carnaval de Ovar?

AR: Eu pessoalmente penso que sim. E esta acaba por pegar em termos que são sem dúvida os termos principais do Carnaval de Ovar. Devo falar no cartaz do ano passado, embora por poucos entendido, infelizmente, porque de certo modo não o associaram à imagem tão antiga do Carnaval que é o dominó. Eu apresento a noite mágica este ano, apresentei o Rei há 2 anos, nos outros anos houve anos em que apresentei cartazes mais virados para a música, mas de uma forma geral tento ir aos temas que definem o Carnaval. Sou uma das pessoas que vive o Carnaval e que defende a tradição e todas as marcas do Carnaval de Ovar. Se recuarmos há uns anos atrás, vemos os cartazes de artistas como o José Penicheiro, que faziam ilustração, e notamos que são poucos os que se vêem com imagem. É claro que os tempos evoluíram, as técnicas e os desenhos também, e portanto acho que de facto os meus cartazes focam um pouco do que é a História do Carnaval.

PP: Que futuro podemos esperar dos cartazes do Alexandre Rosas?

AR: O meu futuro só Deus sabe. Mas em termos profissionais, continuo a lutar para alcançar os meus objectivos pessoais que são muito simples: ter trabalho e dedicar-me àquilo que gosto. Em relação aos cartazes é um pouco difícil, por que se eu hoje faço uma ilustração, amanhã estou virado para outra coisa qualquer e apresento uma coisa diferente. Podem sempre ter cor e alegria, que eu acho que é a base do Carnaval. É difícil dizer o que vem por aí. é um pouco como a música, como a moda. Julgo que vou tentar, ano após ano, ser inovador e tentar trazer coisas novas.

PP: De certa forma está a tornar-se numa figura do Carnaval de Ovar, que aspectos acha que deve melhorar e que aspectos acha que já estão estabelecidos?

AR: Não sou propriamente uma figura do Carnaval de Ovar, sou alguém que trabalha muito no Carnaval de Ovar. Não só na participação do cartaz, este ano também participei no concurso do dominó. Participo no carnaval activamente como grupo, como elemento da própria fundação no Concelho Consultivo e portanto sou uma pessoa que dedica muito do seu tempo ao Carnaval. Gosto das tradições de Ovar, nomeadamente do Carnaval. O futuro do Carnaval penso que está um pouco difícil por questões financeiras. Há mais exigência, há mais qualidade, as pessoas já não abdicam disso mesmo. Há outro tipo de eventos que nos rodeiam, desde Estarreja a St.ª Maria da Feira, que já têm um grau de qualidade muito grande e portanto nós não podemos deixar esse comboio. Na nossa arte, não digo isto por ser de Ovar, mas por aquilo que tenho visto, temos artistas fantásticos que fazem coisas extraordinárias, e que muitas das vezes não são apreciados. Acho que deviam valorizar isso mesmo no sentido de tentar que com menos dinheiro, mas com outros meios, conseguir-se um futuro risonho para o Carnaval de Ovar. Como elemento do carnaval sei das dificuldades que temos para poder trabalhar, que cada vez são mais. Há falta de dinheiro e dificuldades das instalações. Com a Aldeia do Carnaval existe a possibilidade de darmos um passo significativo em termos de qualidade, nomeadamente nos carros alegóricos. As pessoas de Ovar devem fazer do Carnaval a festa da cidade.

PP: Para terminar, já referiu de certas formas a sua maneira pessoal de viver o Carnaval. Mas, mais pormenorizadamente, como vive o Carnaval de Ovar?

AR:
[Risos] Eu vivo-o até à exaustão com exageros em algumas partes. Abdico de muita coisa como a família, a esposa, a mãe, o sobrinho e amigos que não os meus amigos de carnaval, como eu lhes costumo chamar. Abdico de muitas horas de sono e passo muitas horas a pensar naquilo que existe para fazer, com o objectivo de representar o Carnaval da melhor forma possível. O final do Carnaval é dos momentos mais tristes. São dois meses em que estamos todos os dias juntos, um grupo de pessoas, e onde se criam laços que depois parece que desatam, que acabam. As pessoas seguem as suas vidas como faziam antes do Carnaval e, infelizmente, esses tempos passam e volta tudo ao normal. Mas a fome que tenho, às vezes até exagerada, é sem dúvida de uma dedicação total ao Carnaval.

Entrevista para o Jornal Praça Pública e para a PraçaTV
Publicado em 2 de Setembro de 2013

Rei Artur abre o coração aos seus súbditos

Rei e Rainha do Carnaval, Foto: Adriano Cerqueira
Artur Almeida, também conhecido por Artur Loureiro, é este ano o folião com a responsabilidade de carregar a coroa da maior festa da cidade de Ovar. Entre um café digno de “corte” e os demais compromissos “reais” el-Rey Artur Loureiro cedeu algum tempo ao Praça Pública para comentar o actual momento do Carnaval de Ovar.

“Nunca pensei, mas já estou ligado ao Carnaval desde os anos 30. Saía todas as noites a partir praticamente do Natal. Chegamos a sair uma vez no dia 27 de Dezembro, do ano anterior ao ano do Carnaval. Eu sou um rapaz novo e sinto-me em forma para o Carnaval, gosto de conviver, gosto do meu reinado e de ser folião”, confessa Artur Almeida.

Sobre a recente coroação, el-Rey apenas afirma que “talvez este convite devesse ter sido feito mais cedo”. Artur Almeida promete viver o seu reinado com “boa disposição, optimismo” e “dar o possível e o impossível, com orgulho daquilo que os meus súbditos fizerem, desde que não faltem aos compromissos e que cumpram as regras do reinado.”

Não só de memórias de bons tempos passados entre camaradas recorda Artur Loureiro, os tempos do antigo regime, impunham algumas restrições ao Carnaval, que nem sempre eram cumpridas por este folião.

“Antes do 25 de Abril não se podia passar pela praça. Fazíamos as nossas noitadas, saiamos depois do Natal e não saiamos junto à Praça. Íamos ao café, pela rua do Carvalho, só depois da ponte do rio Cáster é que começávamos a desfilar e a fazer barulho, vestidos de lençóis brancos, a fazer de bruxas. Só a partir daí é que a Arruela e a Estação, faziam essas noitadas todas pelo grupo dos Campos, porque não era permitido andarmos de noite pela rua a fazer barulho”, relembra.

Os velhos tempos obrigavam os festivaleiros a fazer os seus próprios fatos, dando asas à originalidade com o pouco material que tinham disponível. “O Carnaval de hoje em dia é mais sofisticado, há mais possibilidades de o fazer, com materiais muito mais fáceis de arranjar. Antigamente nós fazíamos com aquilo que tínhamos à nossa frente. Fazíamos as indumentarias, mas quando chovia, o papel diluía. Isto antes do Carnaval organizado, fazíamos os fatos em noites em que o Carnaval era no Cineteatro, na sociedade mercantil, na estação, nos bares do Salvador, e mais tarde no café Progresso. Lembro-me de ir com os meus pais ao Mercantil quando era pequeno”, recorda Artur Almeida.

O actual coroado do grande corso vareiro, viveu os tempos do velho Carnaval sujo, muito à semelhança da tradicional “Tomatina”de Buñol, em Espanha. “O Carnaval sujo teve uma data, teve uma época, hoje em dia já não pode ser assim. O Carnaval é mais comercializado e é para fazer publicidade. Já não se pode brincar ao Carnaval. Acabou o jardim em frente ao chafariz Neptuno, onde na terça-feira de carnaval, depois das seis da tarde, quem estivesse a assistir, assistia, com as consequências que isso representava e quem não queria não se metia”. El-Rey diz ainda ter-se “perdido a tradição”. “Hoje o Carnaval envolve muito dinheiro. Antigamente era mais fácil, digamos assim. Hoje tem que ser assistido, e quem quiser ver tem que se sujeitar a pagar”, critica.

Anunciada a construção da Aldeia do Carnaval, Artur Almeida vê com bons olhos a evolução do Carnaval de Ovar, sugerindo ainda uma menor preocupação com o consumo de álcool, pelo menos dentro das “muralhas” vareiras. “O Carnaval de Ovar vai evoluir e tem que ter um caminho longo para fazer uma representação do concelho. Representando cada freguesia com o género carnavalesco. Era engraçado que todas as freguesias participassem, o que iria aumentar o espírito do carnaval de Ovar.”

“Relativamente à questão da aldeia do carnaval, já devia ter sido feita há muito tempo. Antigamente, há noite saíamos a todos os grupos e visitávamos. Não havia a questão do transporte, andávamos de sede em sede sem sermos assediados. Hoje é difícil fazer-se isso. Quem anda no Carnaval a beber água? Ninguém! Vinho tinto e do bom, como dizia, as carnes só se conservam em vinho e não em água! Por conseguinte, nós somos perseguidos pela polícia. Por que é que somos perseguidos dentro de Ovar, quando temos aqui uma festa vareira? Para mim, a própria Comissão do Carnaval devia interferir no assunto para chegar a um consenso com a polícia cá dentro. Facilitar o consumo de álcool, não em excesso mas dentro dos limites mínimos ou máximos”, confessa.

Para finalizar a análise de sua majestade à grande festa que é o Carnaval vareiro, el-Rey Artur Almeida deixa a seguinte mensagem a todos os seus fieis súbditos: “Que todos gozem o Carnaval com muito boa disposição, façam uma excepção à juventude que se predisponha à boa disposição, e que viva o Carnaval à sua maneira e à vontade”.

Notícia publicada no Jornal Praça Pública
Publicado em 5 de Setembro de 2013

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Clube de Cientistas de Palmo e Meio, um cantinho da ciência

Sala de Experiências, Foto: Adriano Cerqueira
Situado no início da Avenida do Furadouro, o clube dos cientistas de palmo e meio destaca-se como uma iniciativa inovadora na promoção da ciência em crianças do pré-escolar.

Após atravessar o portão e o pátio pintado com mensagens de preservação do ambiente, o visitante depara-se com uma casa dedicada à ciência. Logo à entrada encontra-se o laboratório, uma cozinha remodelada onde se desenvolvem projectos, desde jogos de prismas aquáticos a uma pequena fábrica de velas e pavios. Ao fundo do corredor entra-se na “Sala do Avô Carlos” – dedicada a Carlos Andrade, principal responsável pelas experiências científicas – onde estão expostas várias apresentações, incluindo aquelas que foram exibidas na FIL. Desde o Quadro de Galton (quadro de distribuição estatística) aos tubos sonoros, passando por vários jogos de pêndulos, equilíbrio, som, e até mesmo pequenos motores eléctricos rudimentares, são várias as experiências que ajudam a incutir conceitos básicos da física, química, e da ciência em geral nos mais novos.

Helena Medeiros, coordenadora pedagógica do CPS, explica que “quando pensámos em fazer um projecto ligado à ciência foi por acharmos importante que a escola, e a começar logo pelo pré-escolar, trabalhe nessa área”.

“Trabalhamos os conceitos mais normais do pré-escolar, que são o pintar, o rasgar, o contacto das coisas, mas pode-se ir ainda mais além, porque é desde pequenino que nós começamos a criar o gosto da criança pela descoberta e o porquê das coisas serem como são”, explica.

O Centro de Promoção Social do Furadouro procura motivar crianças de várias idades a participarem na descoberta da ciência. Para Elisabete Laranjeira, educadora de crianças de dois anos, “o objectivo de fazermos o projecto da ciência não é que eles adquiram os conceitos científicos de física, de química, das várias ciências, é simplesmente que desperte a curiosidade e que no fundo desmistifique o “bichinho” das ciências, e no fundo despertá-las para esta área, para o prazer da descoberta e de experimentarem”.

Já Andreia Pereira, educadora de crianças dos três aos cinco anos, afirma que “eles apesar da idade que têm são pequenas esponjas que absorvem tudo, então é o ideal para conseguirmos introduzir conceitos tão vastos como a ciência e noções matemáticas”. “Esta é a altura certa, como são pequeninos conseguimos “modelá-los” e desmontar aqueles “bichos de sete cabeças” que são os conceitos matemáticos e a ciência”, salienta a educadora.

Flávia Oliveira, também ela educadora, conta a história da formação do projecto: “Foi um objectivo de 3 anos e com o passar de cada ano os objectivos iam aumentando e os passos iam sendo maiores, o que foi muito bom, quer para nós como profissionais, quer para as crianças”. A educadora confessa ter achado “a ideia aliciante”. “Não sabia até que ponto eles iam aderir e se iam mesmo levar o objectivo até ao fim, porque nunca tínhamos trabalhado as ciências no pré-escolar”, afirma.

“O objectivo é incentivar, no fundo, à descoberta da ciência, não é propriamente dizer os termos técnicos, isso é complicado para crianças desta idade, mas é deixar o “bichinho” lá dentro, para eles mais tarde alargarem os horizontes”.

Flávia Oliveira revela que “eles deliram com as experiências, claro que não sabem os termos técnicos, mas já têm noção de como funcionam cada uma dessas experiências, de uma forma muito mais senso comum, mas o objectivo é esse, é eles serem cientistas de palmo e meio”.

Mas o espaço não é só dedicado a experiências científicas. O andar de cima é dedicado a salas de exposições abertas à comunidade. Neste momento o visitante pode encontrar uma exibição de bonecos de barro, cedidos por um colaborador, com a temática das profissões e uma sala dedicada a trabalhos de jogos matemáticos construídos pelos pais das crianças. Helena Medeiros destaca o papel dos pais e afirma que “em todos os projectos a família é sempre uma peça fundamental, nós não sabemos trabalhar sem ter a família ao nosso lado”. “Como é hábito nos nossos projectos, nós lançamos tudo aos pais e apareceu aqui um avô que quando viu o plano de actividades disse: “Mas o que é que eu posso contribuir aqui?” E eu respondi: “Ó Sr. Carlos pode contribuir em tudo.” “Ele começou a dar forma à nossa ideia, nós dissemos que não tínhamos dinheiro, por isso teriam que ser coisas muito simples, mas como ele é uma pessoa dinâmica e criativa, foi buscar ferros de passar, resistências de carros velhos, etc., e começou a dar forma à nossa ideia”, conta a coordenadora.

Segundo Helena Medeiros o futuro do clube passa por disponibilizar as salas de trabalho às crianças, motivando visitas e sessões de trabalho diárias. A promoção do espaço de exibições aberto à comunidade também é outro dos objectivos em curso.

A coordenadora revela ainda planos para “levar o nosso clube a faculdades, como Bragança e Leiria, e ao Hospital Pediátrico de Coimbra.” “Não só pensamos em deixar ali aquele espaço mas também em pô-lo para fora daquelas portas”, admite Helena Medeiros.

Já Carlos Andrade, confesso “entusiasta” do projecto, salienta a necessidade de arranjar alguém para manter o clube aberto diariamente, o que possibilitaria a visita de qualquer pessoa interessada nos projectos desenvolvidos com a ajuda das “cientistas de palmo e meio” do Centro de Promoção Social do Furadouro.

Reportagem para o Jornal Praça Pública
Publicado em 28 de Agosto de 2013