quarta-feira, 29 de junho de 2005

IV

A Noite (título original)

Ao me deitar,
Iluminas com o teu saber.
Seduzes com o teu prazer,
Mas nada deixas alcançar.

Ofuscaste, longe
Prometes o imprometível,
Crias o incredível,
Elevando para outro lugar.

Fazes sonhar,
Fazes dormir,
Fazes amar,
Mas não te fazes concretizar.

Escondes-te no teu breu,
Refugias-te de todo o brio.
Pelo dia aguardas
Hora maldita, o amanhecer.

No teu leito te deitas,
Enquanto eu me levanto.
O sonho, já esvanecido
E o prometido, retirado.

Nada disto faz sentido.
Mas agora é que o teu prazer começa,
Sentindo todos a despertarem
Nesta realidade adversa.

E agora te deitas.
Também tu, te submetendo
A brincadeiras milenares
Que por mera sede de vingança
Todos nós temos que pagar,
Por esse teu desejo de criança. 


Publicado em 9 de Junho de 2013

sábado, 25 de junho de 2005

Porque ninguém me compreende?

Deparei-me com um dilema quando comecei a pensar sobre que início dar a este artigo. Optei, enfim, por começar com uma explicação: Não se preocupem, este não é mais um daqueles gritos lamechas que tantas vezes já ouviram, e que provavelmente estão fartos de ouvir.

Eu não falo para ninguém. Quem é ninguém, além daquele único bravo que o Rei deixa entrar no seu palácio?

Eu, assim como todos, quando me exprimo, tento atingir alguém. Nada mais me faz sentir uma profunda sensação de maravilha do que fazer com que esse "infeliz" me ouça, e saber que ele me compreendeu.

Estamos sempre sujeitos à crítica, e sabe-se lá ao que mais. Mas isso sempre é melhor do que nos depararmos com um rosto impávido de completa pasmaceira. Como se tivéssemos acabado de citar um versículo da Bíblia em aramaico.

De qualquer forma, a minha maneira de viver, ou de aguentar esta coisa que alguém chama de vida, faz com que me depare com situações destas todos os dias. Às vezes porque falei baixo demais. Outras por usar estrangeirismos, ou até mesmo por falar outra língua que não a nativa da pessoa a quem me dirijo. E isso simplesmente irrita-me!

Eu não quero ter que repetir o que digo. Eu não quero ter que explicar o que digo. Quero que percebam bem isto. Não me interpretem mal e, por favor, não façam falsas suposições, pois isso só me faz ter que explicar!

E agora sim, talvez tenha acabado de tornar este artigo num texto lamechas. Porque raios não são capazes de me deixar em paz, se não são capazes de me responder da maneira que eu espero, ou de uma maneira melhor? Se o assunto não vos interessa digam-me para parar. O simples acto de abrir a minha boca já é desesperadamente desgastante e insuportável – isto está a ir de mal a pior.

Eu sinto-me farto, completamente farto, destas situações. Odeio tanto isto, como odeio quando tenho que rastejar nos sonhos. Quando, por alguma razão, as minhas pernas não funcionam e fica tudo em slow motion, excepto aquele ser cujo único motivo de viver é saborear a minha derrota – graças a Deus que estou a aprender a fazer o Kame-ah-me. Obrigado Son Goku!

Nas várias tentativas de expressar a minha inadequabilidade, já me chamei de fénix que não renasce das cinzas. Já liderei uma revolução de coelhos amarelos, e já voei para longe nas azas de uma pomba azul.

Mas de que serve tudo isto? Porque continuo a atirar-me do precipício vezes sem conta, deixando-a ali a chorar? Porque tenho que ser eu a empurrar-me a mim próprio? Que desejo mórbido é este de a matar?

Acabei de fugir 180 graus à esquerda do assunto inicial. Sim, porque a esquerda é que é o bom caminho.

Sinceramente, não percebo porque acabo sempre por me queixar. Nem porque acabo por escrever textos lamechas que, quantas mais vezes os leio, mais me envergonha tê-los aqui publicados.

Na verdade, não estou mesmo para aí virado. Muitas cartas foram escritas. Muitas letras também. Pedindo salvação, muitos rezaram. Ninguém lhes respondeu.

Às vezes só peço para deixar de perder. Já lá vão os tempos em que uma Rainha e uma Torre bateram aquele grande exemplo. Para mais nada, isto serve.

Porque ninguém me compreende? Pois ninguém é eu. Eu sou eu e, para me compreenderem, talvez tenha que dar de caras com aquela sombra enublada. Talvez me compreendam quando vir essa luz ao fundo do túnel. Túnel que nunca verei, pois sou mais um tipo de pontes.

Aquilo que eu sei, sei-o eu. Aquilo que eu sou, sou eu. Eu sou eu, são capazes de compreender? Não? Nem com um texto destes me fiz parecer claro?

Eu não tenho clareza. Eu não me quero explicar. Não há ninguém que seja eu, e só por isso ninguém me compreenderá. Compreendem?
 

Publicado em 6 de Junho de 2013

State of the Nation

Não, não me estou a referir à música dos New Order, se é que alguém chegou lá.

Caro Sr. Eng.º José Sócrates,

Venho por este meio expressar o meu completo descontentamento pela maneira como o Senhor usufruiu do poder, que recentemente lhe foi atribuído, ao ser eleito Primeiro-Ministro.

Apesar de termos evoluído muito nos últimos trinta anos, passamos a vida a queixar-nos. Tristes e frustrados por sermos sempre os últimos nos rankings da União Europeia. Facto agravado com o alargamento para vinte e cinco estados membros, que nos fez baixar de décimo-quarto para décimo-sexto do ranking. 

Contudo, o Senhor não tem feito nada para mudar a nossa maneira de ver as coisas. Aliás, só tem contribuído para que a situação piore. 

O país está deprimido. Ninguém tem vontade para fazer nada, e o Senhor lembrou-se de aumentar o IVA para 21%? 

Compreendo que temos um défice que apenas países como a Alemanha ou a França se dão ao luxo de ter. Tudo bem que passamos a vida a desperdiçar dinheiro em coisas sem grande importância, e muito pouco viáveis. Mas então explique-me como é que o Senhor pode dizer que quer que aumentemos o poder de compra, e que paguemos os impostos todos, quando nos tira o dinheiro e aumenta o preço das coisas? 

É por estas, e por outras, que tenho muita pena em não ter idade para votar. Talvez o meu voto fosse suficiente para pôr mais um deputado da CDU no Parlamento, para ver se este o punha em linha. 

Se continuar com esta sua política de redução de gastos, aumentando o custo de vida, vamos acabar por ver um êxodo de proporções bíblicas dos nossos filhos para outros países, como o Luxemburgo. Lá, os políticos têm tanta consideração pelos cidadãos que os deixam ter impostos baixos, mesmo sabendo que o salário mínimo ultrapassa os mil euros.

Eu, assim como todos os portugueses, espero que esta treta do défice diminua nos próximos anos, e que encontrem algum bom senso para diminuir essas taxas de valores acrescentados nos vossos bolsos. Se não o fizerem, dêem-me um passaporte, pois quero emigrar!

Com sinceridade (bem que me podiam ensinar a terminar cartas em português),

(Perdeu-se assinatura, rubricar aqui)
 

Publicado em 5 de Junho de 2013

segunda-feira, 6 de junho de 2005

New Order Live in Lisbon

Foto: Adriano Cerqueira
Sim, eu estive lá! Após vinte e cinco longos anos de carreira, os New Order finalmente decidiram pisar solo nacional. Foi um concerto que certamente vai ficar na memória de muitos. Ou pelo menos na das vinte e seis mil pessoas que assistiram ao concerto. E eu fui uma delas!

Desde os inesquecíveis ritmos de Joy Division, às novas sonoridades do seu último álbum, os New Order reergueram-se e deram um concerto tão bom, que não consigo encontrar palavras para o descrever. 

Embora tenham aberto o concerto com uma performance de Love Vigilants, abaixo das espectativas, não consegui disfarçar uma ligeira excitação inicial. "Quase vieram as lágrimas aos olhos" é a frase que muito quero dizer. Um momento tão emocionante não se irá repetir em breve.

Sinto-me orgulhoso. Sinto orgulho e muitas outras coisas que não consigo exprimir. Não, neste momento. Perdoem alguma emoção exagerada da minha parte. 

Apenas deixo esta foto para verem um pouco do que eu vi, e que nunca, mas mesmo nunca, esquecerei!
 

Publicado em 4 de Junho de 2013