Mais um dia sufocante passou. Daqueles em que respirar é mais que o simples acto de relaxamento do diafragma. Daqueles em que me sinto como se estivesse a afogar num oceano profundo e distante em que por mais que tente nadar para tentar encontrar a superfície apenas vejo escuridão. Escuridão e aquele terrível sentimento de não poder fazer nada. Sentimento de apenas ter como solução deixar a morte me absorver.
Nesse dia, como todos os outros dias sufocantes, que, com raras excepções (sublinhava raras se não achasse que estragava a estética deste artigo e também por não o saber fazer), se equivalem a todos os dias desta leda e isolada substância que na realidade é reconhecida como "eu".
Nesse dia, ia eu a caminho de uma rocha alaranjada onde um pouco de ar lá soprava, embora envenenado, quando me deparo com uma porta estreita e inexplorada, que, apesar de tudo, sempre soube da sua existência, mas preferia ignorá-la. Enquanto andava na sua direcção decidi deixar o ar envenenado esperar apesar de ser a minha única hipótese de viver e fui até à entrada dessa porta.
Nela, encontrava-se um gato preto e branco com olhos reluzentes e esverdeados que me olhava com receio. Receio daquele que nada lhe podia ou iria fazer. Receio daquele que apenas quer respirar, pois viver com 5 minutos diários de ar envenenado não é vida. O seu medo passou por mim, como passou a borboleta que vi na minha última visita à superfície, mas tal como a sua beleza, ficou também o receio deste pobre coitado que apenas usa o buraco debaixo da minha casa como refugiu das águas sufocantes.
Sinto-me como ele, mas, ao contrário dele, não desistirei da minha tentativa de rumar à superfície, até que o ar envenenado me mate...
Publicado em 20 de Maio de 2013
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