domingo, 25 de setembro de 2005

Escreve sobre o que sabes

Foi esta a frase que me veio à cabeça, poucos segundos antes de ter aberto esta página.

Tenho que me render à realidade. Apenas um ou outro artigo dos vinte e sete já publicados neste blogue, é que tem interesse. E mesmo essas pêras num cesto de maçãs, ainda têm alguns bichinhos que estragam grande parte do seu sabor.

Na desesperada tentativa de produzir mais uma pêra, veio-me esta frase à cabeça. Mas o que sei eu? Um homem, provavelmente alguém famoso, ou talvez um ser de ficção, que não faço a mínima quem tenha sido, uma vez disse: “Só sei, que nada sei.” 

Eu sou verdadeiramente um ignorante, e um inculto, no que toca a saber das coisas. O que elas são, para que servem e, para pior de todos os males, como se chamam. Atormenta-me uma situação no oitavo, ou no nono ano, em que não sabia se devia pôr o pacote de Um Bongo no papelão ou no coisinho das embalagens. Não é essa indecisão que me atormenta, aposto que a grande maioria das pessoas já passou por este dilema. O que me atormenta é o facto de me terem criticado negativamente por não o saber. 

Na altura, isso deixou-me mesmo muito irritado. Outro exemplo é o facto de, há poucos meses, ter descoberto que outra palavra para Lírio era Açucena. Ouvi essa palavra numa música da Sara Tavares e fui ver ao Dicionário o que queria dizer. Para meu espanto, algo que eu pensava ser desconhecido do público, era na verdade, cultura geral. 

Foi uma situação tão vergonhosa que é neste artigo que a confesso pela primeira vez: Eu não sabia o que eram Açucenas, até ter ouvido a palavra numa música, e a ter ido ver ao Dicionário. Mesmo após descobrir, alguns meses mais tarde, que essa mesma palavra tinha surgido num teste de CTV, e eu ignorei-a completamente. Ignorei-a, ou simplesmente não me interessei o suficiente para a ir procurar ao Dicionário. 

São gigantescos os exemplos de palavras que nunca passaram pelo meu ouvido, mas que pelos vistos toda a gente as conhecia. Bacorada, que só descobri que existia enquanto falava com um pessoal de Setúbal, é outro exemplo. Isso deixou-me a pensar que talvez fosse um regionalismo, mas na verdade, toda a gente a conhecia. Toda a gente, menos eu. 

Outro caso, já é muito antigo. Durante toda a minha infância aguardava por aqueles dias em que chegava a casa e a minha avó tinha feito letria, eu adorava aquilo, principalmente com canela. Os tempos foram passando, e o meu gosto por letria mantinha-se inalterado até que um dia, devia ter eu uns treze anos, vejo escrito no livro de português “aletria” e não “letria”, como seria de esperar. Perguntei à professora se seria algum erro, mas ela confirmou-me que era assim que se escrevia. 

Todo aquele tempo, todos aqueles sonhos, destroçados por um mísero A. Porque raio é que se chama aletria? "Ó mãe já fizeste a aletria!" Sou o único que acha isto extremamente estúpido?

Este artigo dava um romance, não tivesse eu que ir jantar, ou não achasse que não valeria a pena continuar a escrever. Pois, quanto maior isto for, menos gente o vai ler. 

Aí está uma questão para um próximo artigo: Porque raio os jovens de agora não têm paciência para ler um artigo com mais de cinco linhas, ou um livro com mais de cem páginas?

Mais uma vez termino sem um fim. Deixo-vos com as palavras de um velhote que tenho vindo a admirar: "E esta, hein?!" 

Publicado em 25 de Junho de 2013

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