Tudo começou numa era não muito longínqua, numa terra perto daqui. O Mundo aproximava-se do seu fim, e o nosso herói viaja na última estrada que alguém alguma vez percorrerá. Com ele viaja um homem e uma rapariga. A rapariga não o sabia, mas era ela quem preenchia o coração dele, e quem tornava este fim mais suportável, ou, pelo menos, assim pensava ele.
O passado das personagens nenhuma importância tem. O que é importante é a viagem, e os eventos que em breve se vão suceder.
Ao longo do caminho, o silêncio é perpétuo. O rádio apenas grita estática, e não há grandes motivos de conversa. Ao aproximar-se o anoitecer, eles decidem parar um pouco, aparentemente sem qualquer motivo.
Ele tenta falar com ela, mas os seus olhos afastam-se para aquele lugar distante, onde ele sabe que nunca a irá encontrar. Enquanto ele se vira para voltar para o carro, ouve um pequeno deslizamento seguido de um grito. Corre para ver o que se tinha passado. Ela tinha desaparecido.
Aproximando-se do lugar onde ela estava, ele vê um pequeno desfiladeiro. Encontra-a agarrada a uns ramos, a lutar pela sua vida. Ele dirige-se ao homem, acudindo por ajuda. Ele abre a mala do carro e tira uma corda. Encontram algo onde a prender, e ele oferece-se para salvar a rapariga.
“Tem calma, eu vou salvar-te” , grita numa voz suave e reconfortante, como a de um verdadeiro herói. Uma voz há muito não ouvida.
Ele consegue apanhá-la mesmo a tempo, salvando-a no último instante em que o ramo cedeu. Ela abraça-o em sinal de gratidão, ambos conseguem subir para a estrada, libertando toda a adrenalina que ainda restava depois deste incidente.
Quando ele repara que ela ia regressar para aquele lugar longínquo, ele agarra-a e olha-a nos olhos.
“Não posso esperar mais...”, diz.
“Não, por favor, não.”
“Eu tenho que to dizer.”
“Não!”
“Eu amo-te!”
“Mas, eu não!”
“Eu sei...”, responde ele.
“Não posso sentir aquilo que não sinto. Obrigada por me dares mais umas horas de vida.”
Com isto, ela afasta-se. Foi aí que o nosso herói se apercebeu – ou que, pelos menos, foi capaz de admitir pela primeira vez – que ele podia salvar-lhe a vida. Podia mesmo salvar o mundo. Mas o seu coração, a ele nunca iria pertencer.
Viajaram pela noite dentro, até ao fim dos tempos.
Publicado em 27 de Junho de 2013
Sem comentários:
Enviar um comentário