quinta-feira, 13 de outubro de 2005

Senta-te e Lê

Após um breve período de inspiração, volto aos artigos sérios que remetem a temas talvez mais do vosso interesse.

Se algum membro da blogosfera, ou um simples escritor, um dia ler isto, vai concordar plenamente comigo. Quantas vezes as musas vos atacaram com tanta força que, quando começaram a escrever, só acabaram quando o texto já ia longo? Incontáveis, certamente.

Após a conclusão de tal grandiosa obra – que depois de uma segunda ou terceira leitura, acabamos por deitar para o lixo; tão perfeccionistas que somos, acabamos por encontrar demasiados defeitos, e tornamos algo belo em mais uma bola de papel, que teima em falhar o cesto –, queremos sempre ouvir uma segunda opinião, uma crítica, e quanto mais trabalhada e concisa esta for, melhor. Daí vem a questão que dá motivo à existência deste artigo: Quantas pessoas recusaram-se a ler por acharem que esse texto era grande demais?

Não é preciso responder a essa pergunta. Hoje em dia, vivemos numa sociedade extremamente materialista. Numa sociedade fast food, onde tudo tem que ser feito com a mais extrema rapidez. Chegamos ao ponto de protestarmos quando um desejo momentâneo não está logo pronto para ser satisfeito, cinco segundos antes de o desejarmos. 

Esta mentalidade tornou-nos preguiçosos. Incapazes de fazer seja o que for. Um bom artigo que dá gosto de ler, não é um artigo bem estruturado de uma página, mas sim uma frase ou duas, ditas por um “dito cujo” qualquer, que, tão convicto do seu raro momento de inteligência, acaba por se enganar a si próprio, ao pensar que essas frases realmente significam alguma coisa.

É verdade que a compreensão está dependente da extensão. É verdade que, por vezes, uma palavra diz muito mais do que mil. Mas essas mil palavras existem por algum motivo. Fazem parte da inspiração de alguém, do mundo de alguém, e merecem ser lidas. Afinal de que serviu o 25 de Abril?

Recentemente, acabei de ler um livro de 1421 páginas. Muitos espantaram-se com este feito. Perplexos, perguntaram-me como tinha sido capaz de arranjar tamanha paciência. A resposta é simples. Cada uma dessas 1421 páginas era boa, e interessante o suficiente para eu as ler. 

No outro dia, deparei-me com alguém que se recusava a ler um livro de uma escritora famosa, por achar trezentas e poucas páginas, um volume demasiado para com o qual, ocupar o seu tempo. Só lhe faltou cair os dentes quando lhe contei a minha aventura recente. 

Muitos livros, e muitos artigos, não valem a pena estarem em exposição nas estantes de uma livraria, ou nas páginas de um jornal, ou de uma revista. Mas muitos outros merecem-no, e por isso lá estão. Contudo, devido ao seu tamanho, a sua essência, a sua magia, perde-se no tempo. Deixando apenas a sua marca nas vidas de bravos como eu.

Apenas faço um pedido, para nunca julgarem um livro pela capa, pelo título, ou pelo seu tamanho. Mantenham um espírito aberto, e leiam. Não deixem bons artigos, e bons livros, passarem-vos ao lado, só porque não vos apetece perder umas horas. Horas essas, que iam gastar a fazer nada.

Quem sabe? Talvez algum deles sirva como fonte de inspiração, e vos ajude a encontrar a vossa vocação. Talvez um deles mude a vossa vida, e vos ajude num momento de aperto. Ou talvez vos seja útil, quando forem ao Quem Quer Ser Milionário. 

Talvez seja apenas um bom tema de conversa entre os vossos amigos. Ou um quebra-gelo, para conhecer pessoas novas. Mesmo que não passe de uma boa leitura para passar o tempo, não ponham logo de lado essa hipótese. Pois ninguém sabe que caminhos podem surgir ao virar da primeira página.

Publicado em 1 de Julho de 2013

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