domingo, 22 de fevereiro de 2009

XVII

Não me apraz ir a lugar nenhum,
Pois em lugar nenhum te encontras.
As regras que assim me prendem,
Estabelecidas por ti,
Forçam a minha ausência,
Do único destino que desejo seguir.

Palavras que as guardo em diários por escrever,
Carregadas de sentenças que o tempo transforma em interrogações,
Ocupam-me os pensamentos de meios-dias perdidos.
Esquecidos no tédio do volver das horas,
Interminável, como o teu legado.

Encontro-me por ora exausto,
Cansado como quem desperta de uma longa existência dormente,
De mente estafada, governada pelo conflito.
Ansiedade, e receio, por aquilo que aguarda.
O malogrado momento,
Daquele que não desejo que seja mais um triste fado,
Do contínuo caminho cinzento, de indústria desinspirada.

Aguardo por um veredicto,
Como réu inocente, incapaz de fugir à culpa da acusação.
Os meus quereres, os meus desejos, as minhas vontades,
De nada valem nesta hora dispensável,
Pois de nada vale ponderar na alternativa, quando a decisão já há muito foi tomada.

Aguardo na ignorância,
não é ela, a felicidade?
Ignorância, auto imposta,
dos lugares comuns que a experiência fornece.
Apesar disso; ignorância, apenas e só.

Desejo ver-te, desejo falar-te,
Desejo encontrar-te,
Enfim, desejo-te.
Mas pensar além das fantasias do inconsciente,
destrói-me pela ciência de tudo o que é real.

Que posso fazer, se não aguardar.
Aguardar o regresso das tuas palavras,
O reencontro das tuas feições.
Seja qual for o ditado final,
A réstia da esperança deste ser exausto,
Descansa apenas na espera do acordo...
Não. Da promessa, arquivada num tempo e num lugar,
Que embora reviva a cada momento,
Não desejo recordar.

Não me apraz ir a lugar algum,
Pois em lugar algum te encontro.

Publicado em 27 de Agosto de 2013

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