domingo, 15 de fevereiro de 2009

Rei Artur abre o coração aos seus súbditos

Rei e Rainha do Carnaval, Foto: Adriano Cerqueira
Artur Almeida, também conhecido por Artur Loureiro, é este ano o folião com a responsabilidade de carregar a coroa da maior festa da cidade de Ovar. Entre um café digno de “corte” e os demais compromissos “reais” el-Rey Artur Loureiro cedeu algum tempo ao Praça Pública para comentar o actual momento do Carnaval de Ovar.

“Nunca pensei, mas já estou ligado ao Carnaval desde os anos 30. Saía todas as noites a partir praticamente do Natal. Chegamos a sair uma vez no dia 27 de Dezembro, do ano anterior ao ano do Carnaval. Eu sou um rapaz novo e sinto-me em forma para o Carnaval, gosto de conviver, gosto do meu reinado e de ser folião”, confessa Artur Almeida.

Sobre a recente coroação, el-Rey apenas afirma que “talvez este convite devesse ter sido feito mais cedo”. Artur Almeida promete viver o seu reinado com “boa disposição, optimismo” e “dar o possível e o impossível, com orgulho daquilo que os meus súbditos fizerem, desde que não faltem aos compromissos e que cumpram as regras do reinado.”

Não só de memórias de bons tempos passados entre camaradas recorda Artur Loureiro, os tempos do antigo regime, impunham algumas restrições ao Carnaval, que nem sempre eram cumpridas por este folião.

“Antes do 25 de Abril não se podia passar pela praça. Fazíamos as nossas noitadas, saiamos depois do Natal e não saiamos junto à Praça. Íamos ao café, pela rua do Carvalho, só depois da ponte do rio Cáster é que começávamos a desfilar e a fazer barulho, vestidos de lençóis brancos, a fazer de bruxas. Só a partir daí é que a Arruela e a Estação, faziam essas noitadas todas pelo grupo dos Campos, porque não era permitido andarmos de noite pela rua a fazer barulho”, relembra.

Os velhos tempos obrigavam os festivaleiros a fazer os seus próprios fatos, dando asas à originalidade com o pouco material que tinham disponível. “O Carnaval de hoje em dia é mais sofisticado, há mais possibilidades de o fazer, com materiais muito mais fáceis de arranjar. Antigamente nós fazíamos com aquilo que tínhamos à nossa frente. Fazíamos as indumentarias, mas quando chovia, o papel diluía. Isto antes do Carnaval organizado, fazíamos os fatos em noites em que o Carnaval era no Cineteatro, na sociedade mercantil, na estação, nos bares do Salvador, e mais tarde no café Progresso. Lembro-me de ir com os meus pais ao Mercantil quando era pequeno”, recorda Artur Almeida.

O actual coroado do grande corso vareiro, viveu os tempos do velho Carnaval sujo, muito à semelhança da tradicional “Tomatina”de Buñol, em Espanha. “O Carnaval sujo teve uma data, teve uma época, hoje em dia já não pode ser assim. O Carnaval é mais comercializado e é para fazer publicidade. Já não se pode brincar ao Carnaval. Acabou o jardim em frente ao chafariz Neptuno, onde na terça-feira de carnaval, depois das seis da tarde, quem estivesse a assistir, assistia, com as consequências que isso representava e quem não queria não se metia”. El-Rey diz ainda ter-se “perdido a tradição”. “Hoje o Carnaval envolve muito dinheiro. Antigamente era mais fácil, digamos assim. Hoje tem que ser assistido, e quem quiser ver tem que se sujeitar a pagar”, critica.

Anunciada a construção da Aldeia do Carnaval, Artur Almeida vê com bons olhos a evolução do Carnaval de Ovar, sugerindo ainda uma menor preocupação com o consumo de álcool, pelo menos dentro das “muralhas” vareiras. “O Carnaval de Ovar vai evoluir e tem que ter um caminho longo para fazer uma representação do concelho. Representando cada freguesia com o género carnavalesco. Era engraçado que todas as freguesias participassem, o que iria aumentar o espírito do carnaval de Ovar.”

“Relativamente à questão da aldeia do carnaval, já devia ter sido feita há muito tempo. Antigamente, há noite saíamos a todos os grupos e visitávamos. Não havia a questão do transporte, andávamos de sede em sede sem sermos assediados. Hoje é difícil fazer-se isso. Quem anda no Carnaval a beber água? Ninguém! Vinho tinto e do bom, como dizia, as carnes só se conservam em vinho e não em água! Por conseguinte, nós somos perseguidos pela polícia. Por que é que somos perseguidos dentro de Ovar, quando temos aqui uma festa vareira? Para mim, a própria Comissão do Carnaval devia interferir no assunto para chegar a um consenso com a polícia cá dentro. Facilitar o consumo de álcool, não em excesso mas dentro dos limites mínimos ou máximos”, confessa.

Para finalizar a análise de sua majestade à grande festa que é o Carnaval vareiro, el-Rey Artur Almeida deixa a seguinte mensagem a todos os seus fieis súbditos: “Que todos gozem o Carnaval com muito boa disposição, façam uma excepção à juventude que se predisponha à boa disposição, e que viva o Carnaval à sua maneira e à vontade”.

Notícia publicada no Jornal Praça Pública
Publicado em 5 de Setembro de 2013

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