Cartaz Carnaval de Ovar 2009, por Alexandre Rosas |
Cinco vezes vencedor
do concurso do cartaz de Carnaval de Ovar, Alexandre Rosas confessa ao
Praça Pública os segredos por detrás deste sucesso. Como pano de fundo a
oficina onde são criados os cartazes do vencedor da Vitamina da Alegria
de 2009, o designer mostrou ser um verdadeiro aficionado do Carnaval
Vareiro.
A primeira vez [que venci a competição do Cartaz de Carnaval] vale um mundo! Pode-se dizer que era um sonho de criança.
Alexandre Rosas: É
complicado falar em Carnaval. É sempre um palhaço ou uma ilustração, e
este ano tentei pensar em alguma coisa que de facto mostre o nosso
carnaval. Este ano optei pela noite mágica, um evento que a fundação do
Carnaval está a apostar bastante e portanto foi por aí que comecei o meu
trabalho. A noite mágica significa exactamente aquilo que eu tento
transmitir no cartaz. A diversidade das pessoas e dos vestimentos, desde
o mais elaborado ao mais prático. Da pessoa que faz a sua máscara e que
se fantasia de um animal ao outro tão simples que pega numa ligadura e
num bocado de tintura e vai como se fosse um ferido. Todas as
personagens que eu represento são uma tentativa de mostrar às pessoas o
que se faz nos bastidores e que é a já famosa, noite mágica.
PP: Como é vencer cinco vezes este concurso?
AR:
[Risos] A primeira vez vale um mundo! Pode-se dizer que era um sonho de
criança. Sempre admirei estas artes e sempre apreciei quem as faz, e os
cartazes em particular, seja de carnaval, seja doutro evento qualquer.
Inicialmente era um sonho que tinha de miúdo e neste momento vencer
cinco vezes já não me diz nada. Diz-me apenas que tenho evoluído em
termos profissionais. Tento ser o mais original possível de forma a
dignificar o Carnaval de Ovar, e a transmitir a melhor mensagem e da
melhor forma. Claro que há o prémio e isso também conta, mas mesmo que
não houvesse concorria na mesma, com a mesma atitude e com a mesma forma
de trabalho. Fico sempre satisfeito se me for dada esta
responsabilidade de divulgar o Carnaval de Ovar.
PP: Qual é a reacção que as pessoas costumam ter aos seus cartazes?
AR:
Este ano, felizmente, tem sido bastante boa. Foi um dos melhores
trabalhos que fiz, ou, pelo menos, que mais tempo dediquei. Foi dos
cartazes que mais elaborei e que mais trabalho me deu. Há sempre a
crítica, e se ela for positiva é sempre bem vinda e é com isso que eu
tenho aprendido. Nestes tais cinco anos em que tenho ganho os cartazes
tem havido uma evolução, em parte, graças à crítica que fazem. Depois há
a crítica destrutiva de quem, enfim, por algum motivo não gosta. Nunca
dei grande importância a isso apenas foquei aquelas que são as críticas
mais importantes, que são construtivas, e aprendi com isso. Já dos
amigos mais próximos, há sempre a satisfação por verem o meu trabalho
ganhador, com o 1.º prémio. Dos colegas de trabalho há um cumprimento,
há um reconhecimento, enfim, é sempre bom. É uma sensação boa saber que o
trabalho é apreciado.
Sou uma das pessoas que vive o Carnaval e que defende a tradição e todas as marcas do Carnaval de Ovar.
PP: Como define o seu estilo em termos de design e dos cartazes que faz?
AR:
O meu estilo... [risos] É um pouco inato. Eu faço um pouco de tudo,
adapto-me bem ao tipo de trabalho e ao género de trabalho que tenho de
fazer. Sem dúvida nenhuma este trabalho que apresentei este ano é a
minha imagem, é a minha expressão. Talvez me defina através dos bonecos,
com a expressão, com o exagero. Principalmente a expressão, o
movimento. O que tento fazer é de facto não só um cartaz que não passe
de um cartaz, mas um que seja algo que amigos e que os tais críticos já
consigam dizer que reconhecem ser o meu trabalho. Cor, animação,
alegria, esse tal movimento que simboliza o meu trabalho puro. Aquilo
que eu realmente gosto de fazer, aquilo que eu realmente acho que tenho
mais vocação é para este género de ilustração, como a que apresentei
este ano.
PP: Acha que os seus cartazes reflectem, de certa forma, a História do Carnaval de Ovar?
AR:
Eu pessoalmente penso que sim. E esta acaba por pegar em termos que são
sem dúvida os termos principais do Carnaval de Ovar. Devo falar no
cartaz do ano passado, embora por poucos entendido, infelizmente, porque
de certo modo não o associaram à imagem tão antiga do Carnaval que é o
dominó. Eu apresento a noite mágica este ano, apresentei o Rei há 2
anos, nos outros anos houve anos em que apresentei cartazes mais virados
para a música, mas de uma forma geral tento ir aos temas que definem o
Carnaval. Sou uma das pessoas que vive o Carnaval e que defende a
tradição e todas as marcas do Carnaval de Ovar. Se recuarmos há uns anos
atrás, vemos os cartazes de artistas como o José Penicheiro, que faziam
ilustração, e notamos que são poucos os que se vêem com imagem. É claro
que os tempos evoluíram, as técnicas e os desenhos também, e portanto
acho que de facto os meus cartazes focam um pouco do que é a História do
Carnaval.
PP: Que futuro podemos esperar dos cartazes do Alexandre Rosas?
AR:
O meu futuro só Deus sabe. Mas em termos profissionais, continuo a
lutar para alcançar os meus objectivos pessoais que são muito simples:
ter trabalho e dedicar-me àquilo que gosto. Em relação aos cartazes é um
pouco difícil, por que se eu hoje faço uma ilustração, amanhã estou
virado para outra coisa qualquer e apresento uma coisa diferente. Podem
sempre ter cor e alegria, que eu acho que é a base do Carnaval. É
difícil dizer o que vem por aí. é um pouco como a música, como a moda.
Julgo que vou tentar, ano após ano, ser inovador e tentar trazer coisas
novas.
PP:
De certa forma está a tornar-se numa figura do Carnaval de Ovar, que
aspectos acha que deve melhorar e que aspectos acha que já estão
estabelecidos?
AR:
Não sou propriamente uma figura do Carnaval de Ovar, sou alguém que
trabalha muito no Carnaval de Ovar. Não só na participação do cartaz,
este ano também participei no concurso do dominó. Participo no carnaval
activamente como grupo, como elemento da própria fundação no Concelho
Consultivo e portanto sou uma pessoa que dedica muito do seu tempo ao
Carnaval. Gosto das tradições de Ovar, nomeadamente do Carnaval. O
futuro do Carnaval penso que está um pouco difícil por questões
financeiras. Há mais exigência, há mais qualidade, as pessoas já não
abdicam disso mesmo. Há outro tipo de eventos que nos rodeiam, desde
Estarreja a St.ª Maria da Feira, que já têm um grau de qualidade muito
grande e portanto nós não podemos deixar esse comboio. Na nossa arte,
não digo isto por ser de Ovar, mas por aquilo que tenho visto, temos
artistas fantásticos que fazem coisas extraordinárias, e que muitas das
vezes não são apreciados. Acho que deviam valorizar isso mesmo no
sentido de tentar que com menos dinheiro, mas com outros meios,
conseguir-se um futuro risonho para o Carnaval de Ovar. Como elemento do
carnaval sei das dificuldades que temos para poder trabalhar, que cada
vez são mais. Há falta de dinheiro e dificuldades das instalações. Com a
Aldeia do Carnaval existe a possibilidade de darmos um passo
significativo em termos de qualidade, nomeadamente nos carros
alegóricos. As pessoas de Ovar devem fazer do Carnaval a festa da
cidade.
PP:
Para terminar, já referiu de certas formas a sua maneira pessoal de
viver o Carnaval. Mas, mais pormenorizadamente, como vive o Carnaval de
Ovar?
AR: [Risos] Eu vivo-o até à exaustão com exageros em algumas partes. Abdico de muita coisa como a família, a esposa, a mãe, o sobrinho e amigos que não os meus amigos de carnaval, como eu lhes costumo chamar. Abdico de muitas horas de sono e passo muitas horas a pensar naquilo que existe para fazer, com o objectivo de representar o Carnaval da melhor forma possível. O final do Carnaval é dos momentos mais tristes. São dois meses em que estamos todos os dias juntos, um grupo de pessoas, e onde se criam laços que depois parece que desatam, que acabam. As pessoas seguem as suas vidas como faziam antes do Carnaval e, infelizmente, esses tempos passam e volta tudo ao normal. Mas a fome que tenho, às vezes até exagerada, é sem dúvida de uma dedicação total ao Carnaval.
Entrevista para o Jornal Praça Pública e para a PraçaTV
Publicado em 2 de Setembro de 2013
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