A verdade crua e fria, ou fria e crua, ou somente fria, (nunca cheguei a saber como é que se diz esta expressão correctamente) é que não tenha nada para dizer.
O que é o nada se não algo? Já disse muitas vezes que estava a fazer nada quando estava a fazer algo. O próprio acto de abrir a boca para dizer a palavra, ou de mexer os dedos para a dactilografar, é algo. E antes mesmo de fazer isso, estava a olhar, a pensar, a respirar. Mesmo estando parado, estou a fazer algo. Até um vegetal faz algo quando parece fazer nada.
Agora o nada, o que é o nada? O vácuo? Mas o vácuo não é nada, é algo, é o vácuo. É a ausência de qualquer coisa, não é o nada. A própria palavra “nada” é algo já de si, é uma palavra, é uma forma do verbo nadar. Até aí já é qualquer coisa para além do nada.
Para muitos, o nada é aquilo que surge depois de morrermos, mas isso também não é nada, é algo, é a morte.
Será o nada mais um mito urbano? Talvez, se pensarmos bem, as coisas que consideramos como sendo nada, o branco, o vazio, a morte, a paragem e a inoperação de alguma ocorrência. Tudo isto, não é nada, é algo, algo que está definido. Então o nada é o metafísico, é algo que desconhecemos. Também o que desconhecemos é algo. Irá ser descoberto mais cedo ou mais tarde. Isso também não é o nada.
Raios, afinal o que é nada? Nada, o nada não é nada, nada é nada, o nada não existe. É um pigmento da nossa imaginação, como tantas outras coisas que sentimos preguiça, ou um desejo tremendo em definir. O nada simplesmente é o que é, ou melhor, o que não é. O nada, nada é. O nada é o próprio nada.
Como já tinha referido, eu não tenho nada para dizer, mas esse nada tornou-se em algo. Tornou-se neste texto que na verdade fala de nada, pois é ao Nada que é dada toda a importância. É pelo nada que este artigo existe. Perguntam-me, o que é o nada? É algo que se deixa passar por nada.
Publicado em 11 de Julho de 2013
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